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  • Foto do escritorBatista de Lima

Visita a Mamona

Batista de Lima


Depois de passar por Tabocal em que pesquei de anzol com Canlima e consegui fisgar muitas histórias, fui em seguida a Sipaúbas para uma partida de futebol. Consegui resistir por quinze minutos de zagueiro central. Não sei como ficou a partida pois terminei no posto de saúde com suspeita de duas costelas quebradas. Logo que me levantei, voltei a Mamona onde estava passando férias na casa de meu tio Francalino.

Francalino era o Vice-prefeito e morava na Capital. Bem que ele gostaria de permanecer em Mamona, mas a pedido do prefeito Juvêncio Camelo Torto, ele foi para a cidade grande para não atrapalhar a administração da cidade pequena. Afinal Mamona era tão pequena que o visitante descuidado podia sair pelo fim da rua ainda procurando pelo começo. Para o Vice-prefeito o que importava era todo mês cair na sua conta bancária os vencimentos da ausência remunerada. De férias, no entanto, dava o ar da graça para o povo saber que o vice existia e estava vivo.

O padroeiro de Mamona é São João. Por isso que depois das novenas de junho existe na última noite o famoso chitão que é um forró depois da reza, que perdura enquanto o sol do dia seguinte não atacar de vez. Naquele tempo a dança era na praça única do lugar, que fica em frente à igreja. Só começava o forró depois que Padre Antônio fechava as portas do templo, que era para o Santo lá do altar não ficar vendo os pecados daquele povo. No meio da praça eles colocavam uma estaca de cinco metros com três petromax penduradas para ajudar na iluminação.

Isso acontecia porque a luz era gerada por um motor que era desligado às 21h. Acontece que por ser última noite de festa, ele ficava a noite toda ligado, apesar da fraqueza da claridade. Por isso que as petromax ajudavam. Isso porque a praça ficava lotada de dançarinos e cercada de ramos de jurema. Mas os convivas antes de entrar no cercado eram apalpados pelo Cabo Zezinho e pelo soldado Jarbas. Todas as armas eram recolhidas e identificadas por um adesivo com o nome do portador, depois jogadas numa caldeira.

Era uma caldeira com tampa e cadeado cuja chave ficava com sargento Anacleto, sempre ao lado do coronel Prefeito em serviço de guarda ao poder constituído. A sanfoneira, Lica Tocadeira, vez por outra passava a concertina para Sebasto Copiara e ia dançar uma parte com Anacleto ou com o Sr. Prefeito. Muitos paravam para ver e aplaudir a dançarina esquipante. De hora em hora parava a dança para os aguadores umedecerem o chão de onde começava a poeirar.

Quando havia uma briga, era de murro e os briguentos eram amarrados na estaca da iluminação. Foi o que aconteceu com Gonzaga Piancó. Chamou a mulata Raimundinha para dançar uma parte e ela, depois de uma rabiçaca, falou que não dançava com homem casado. Ele deu-lhe um tabefe que a moça virou de pernas para cima. Acontece que quatro cabras do coronel agarraram o agressor que passou a noite preso no poste e só soltaram com o sol do outro dia. Esse foi o começo de minhas férias no país dos mamonenses.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 23/07/19.


 

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