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Variações sobre Herman Lima


Batista de Lima



Herman de Castro Lima nasceu em Fortaleza em 1897. O pai, vindo do Aracati, a mãe, descendente de belgas. Passou a infância e a adolescência residindo na praia do Meireles. Aos 22 anos estava, como apontador, trabalhando na frente de serviço que construiu a estrada Aracati – Quixadá. Era a seca de 1919. Daí suas duas grandes influências, quando começou a escrever: o mar e o sertão. É bom saber que foi um autodidata. Fez as primeiras letras em casa, com sua mãe, e depois estudou sozinho até ingressar na Faculdade de Medicina da Bahia. Tornou-se médico e foi clinicar em Lençóis, naquele estado.

Foi a partir de sua vivência naquela região baiana que ele escreveu “Garimpos”, em 1932. Antes, porém, ele já havia publicado, em 1924, seu livro mais conhecido, no caso, “Tigipió”. Na elaboração desse seu livro, deu maior visibilidade aos dois temas de sua predileção: o mar do Meireles e o sertão jaguaribano. Também contribuiu para isso, o fato do conto “Tigipió” ter sido transformado em filme, através do cineasta Pedro Jorge de Castro, em 1985. É um filme que alcançou bastante sucesso e que tem sua trama conduzida por um elenco de conceituados artistas.

Herman Lima era também pesquisador. Prova disso é que durante vinte anos, de 1943 a 1963, pesquisou sobre a caricatura no Brasil. Depois editou, em quatro volumes, “A História da caricatura no Brasil”. Até hoje, o trabalho mais completo sobre o assunto, em nosso país. Entre tantos artistas estudados, destaque para J. Carlos e Alvarus. O próprio Herman possui trabalhos de sua autoria nesse tipo de desenhos. Ainda com relação à pesquisa, é notável seu mergulho em torno da teoria do conto. Ainda hoje estuda-se, nos cursos de Letras das universidades, seu livro “Variações sobre o conto”.

Foi através de concurso que esse cearense ingressou como funcionário do Tesouro Nacional, transferindo-se para o Rio de Janeiro. Assim, conseguiu sua ida para Londres onde representou o nosso Tesouro por quatro anos, de 1933 a 1937. A partir daí conheceu quase toda a Europa e transformou-se em tradutor de obras do inglês e do francês para nossa língua pátria. Nessa sua estada na Europa, conseguiu subsídios inspiradores para escrever dois livros: “Na ilha de John Bull” e “Outros Céus, outros mares”. O primeiro sobre a Inglaterra, o segundo sobre outros países europeus.

A maior parte da vida, Herman Lima passou no Rio de Janeiro onde chegou a ser oficial de Gabinete de Getúlio Vargas. Na Cidade Maravilhosa, conviveu com a intelectualidade que viscejava naquela cidade. Foi muito amigo de Olegário Mariano, Humberto de Campos, Coelho Neto e, especialmente, de Gustavo Barroso, seu conterrâneo. Talvez por influência desse cearense foi que chegou a escrever seu livro de memórias, no caso, “Poeira do Tempo”, retratando uma Fortaleza que vivia uma Belle Époque no início do século.

Herman Lima é um escritor realista. A sua descrição em torno da seca é tão minuciosa que há momentos em que o enredo se põe em segundo plano. Acontece que, ao chegar o inverno, sua leitura da exuberância da natureza se coloca no mesmo patamar. Ele escreve como quem está pintando uma tela diante da paisagem. É um escritor criterioso no que escreve e, diante do que nos deixou, merece um lugar mais destacado no panteão dos nossos intelectuais. Herman Lima continua sendo esquecido entre os leitores de sua terra.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 26/03/19.


 

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