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Um poeta lavrense

Batista de Lima


José Teles da Silva nasceu em Lavras em 1938 e lá permanece até hoje. Tão festejado pelos conterrâneos, por conta da qualidade de seus poemas, que ocupa a cadeira 27 da Academia Lavrense de Letras, e com o tempo passou a ser chamado de Príncipe dos Poetas Lavrenses.

O doutor Murilo Martins organizou uma antologia com todos os membros da Academia Cearense de Letras, desde sua fundação, que são poetas. Nessa pesquisa, ele surpreendeu-se ao encontrar sete lavrenses versejadores que tiveram ou têm assento naquele sodalício: Joel Linhares, Filgueiras Lima, João Clímaco Bezerra, Joaryvar Macedo, Linhares Filho, Dimas Macedo e este humilde escriba.

Essa relação, no entanto, não apresenta nenhum poeta popular. Se isso acontecesse, ele teria que enumerar dezenas de poetas surgidos na velha Princesa do Salgado. Um em especial merece destaque por ter lançado há poucos dias mais um livro de poemas sob o título "Sonhos de um Poeta", pela Expressão Gráfica Editora. São as 239 páginas de bons poemas de José Teles da Silva.

José Teles da Silva nasceu em Lavras em 1938 e lá permanece até hoje. Tão festejado pelos conterrâneos, por conta da qualidade de seus poemas, que ocupa a cadeira 27 da Academia Lavrense de Letras, e com o tempo passou a ser chamado de Príncipe dos Poetas Lavrenses. Sua poesia traz um apelo social aliado a uma voz mística de quem é devoto de São Vicente Ferrer, padroeiro do lugar.

Zé Teles, como é chamado pelos conterrâneos, faz parte de uma plêiade de poetas populares de Lavras que enumerados por Dimas Macedo, no Prefácio, dão uma dimensão de quanto o verso popular é cultivado naquela comuna. São: Fausto de Araújo Correia Lima, Lobo Manso, Cabral da Catingueira, Antônio Aranha, Elisa Correira Lima, Otávio Aires de Menezes, Raimundo Moreira de Macedo, João Favela de Macedo, Tota Bezerra, Jesus Ramalho, Mundoca de Barba, Vicente de Poroca, Fransquinho de Etelvira, Cego Mangabeira e Ernandes Pereira. Assim como na sede do município, Lavras possui seus poetas dos distritos.

Em Quitaiús, por exemplo, surgiram Chiquinho Bezerra Sampaio, Quinco Limeira, e Mundinho do Banco. De Mangabeira, outro distrito, são citados por Dimas Macedo: Franço Lemos, Vicente de Paulo Lemos e Mundoca do Sapé. Outros de Mangabeira, e são tantos, chegam a ocupar um livro inteiro, no caso "Voz verso e viola", de Dias da Silva, da Editora RDS, de Fortaleza (2003).

Logo no início da leitura do livro, já dá para se deduzir o tipo de poema predileto de José Teles com relação à forma. Sua preferência é pela décima em versos decassilábicos. Prova disso é o seu "Adão e Eva no Jardim do Éden" que além desses caracteres formais já citados, há a demonstração dos conhecimentos que o poeta possui da Bíblia, em especial do livro do Gênesis. Nessa mesma linha podemos enquadrar os poemas "Arca de Noé" e "Origem do pecado".

Com relação à linguagem utilizada pelo poeta é bom assegurar que ela é niveladora das temáticas. Não importa sobre o que ele poetiza, a linguagem é a mesma. É a fala do povo expressada pelo seu vate, pelo seu cronista. Daí o poder de comunicação que ele imprime ao poema. Diferente desses poetas metafóricos que só são entendidos por intelectuais, Zé Teles atinge o povão porque fala a sua linguagem, tematiza suas angústias e esperanças, sendo entendido e admirado pelos que lhe cercam. Lavras é seu teto e seu texto, e a sua juventude é seu paraíso perdido.

Essa trilha do retorno leva Zé Teles às suas amizades, como à lembrança do coronel Raimundo Augusto, de quem foi contador, mas leva principalmente ao contato com seu amigo Manoel Duda. Esse personagem real também fez poemas populares e, dada a amizade com o autor, ganhou algumas páginas no final do livro para a transcrição de seu legado poético. Manoel Duda é também profícuo poeta que levou a vida a fundir ferro e burilar palavras, duas artes muito próximas, uma mecânica, outra literária, ambas no entanto, carentes de luzimento. É tanto que os poemas de Manoel Duda não ficam atrás dos de Zé Teles, sem o qual o poeta ferreiro jamais ficaria conhecido.

Esse resgate que Zé Teles faz da produção poética do amigo é meritório pois mostra seu compromisso com a terra e sua gente. É tanto que o ponto alto de seu livro é a presença do poema "A lenda do Bo-queirão". Nesse poema ele apresenta as versões mais comuns da origem do Boqueirão, que é o ponto terístico mais importante de Lavras. Ali, as águas esculpiram um corte tão perfeito na serra de pedra que dá a impressão que máquinas talhadeiras fizeram o serviço. É pena que até hoje, o potencial turístico daquela beleza natural não tenha sido aproveitado como merece. O Boqueirão já foi cantado em prosa e verso pelos mais variados escritores. Até Gonçalves Dias, na época da Comissão Científica, de 1859, por lá esteve e a ele se referiu nas suas anotações.

Além dessa temática telúrica, o que impressiona em Zé Teles é seu conhecimento da História Sagrada, em especial da origem do homem. Seus poemas em torno do casal primogênito e da quebra da harmonia do paraíso com a prática do pecado original mostram sua inclinação para a religiosidade que marca a população sertaneja.

Por isso que suas décimas sobre a "Origem do pecado" dão a dimensão de seus conhecimentos bíblicos. Daí que nós concluímos com uma das passagens desse poema: "O demônio iludiu a pobre Eva / Com um gesto demagogo e atrevido / Dizendo: coma o fruto proibido / Só assim você sairá das trevas / Para Adão, um pedaço você leva / Pra ele ver o sabor que o fruto tem / Ficará conhecendo o mal e o bem / Dominando da terra ao espaço / Sem encontrar um pequeno embaraço / E conhecendo os segredos do além".


jbatista@unifor.br

30/11/10.

 

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