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Cuidar, educar e mudar.

Atualizado: 9 de jul. de 2019

Batista de Lima


A Secretaria Municipal da Educação, de Lavras da Mangabeira, promoveu, de 21 a 24 de janeiro, a sua Semana Pedagógica como preparação para o exercício educacional deste 2014. Apresentou como tema, "Lavras cuida, educa e muda". Esse tema bastante filosófico, dada a sua abrangência ontológica, chega a sugerir que o ser na sua completude para ser educado precisa ser cuidado, o que já implica uma mudança. Daí que o primeiro passo para o educador é conhecer o ser a ser cuidado. Acontece que conhecer o outro implica um autoconhecimento, um cuidar primeiro de si para depois cuidar do circunstante. Esse conhecimento leva à necessidade do reconhecer o habitat como ponto de partida para uma cosmovisão.

O primeiro embate é se saber como ser feliz onde se está. Quais os sonhos que povoam a mente de um adolescente de um município pobre no semiárido nordestino? Como ser feliz como aluno de uma escola pública municipal no interior cearense? Porque não é fácil haver aprendizagem se à ânima se contrapõe um mal-estar. Por isso há necessidade do conhecimento mitológico dos que, fixados no entorno da escola, foram felizes, sendo sedentários, longevos e produtivos. É importante para o educador e o educando o conhecimento dos potenciais da terra, dos desejos dos nativos e da luta pela permanência na terra. Educar não é preparar nômades, é antes de tudo fixar o homem no canteiro em que brotou.

Educar é abrir horizontes de expectativas. É abrir clareiras na floresta dos desânimos. Diversificar olhares para abrir espaços para leituras novas de um mundo que não para de mudar é fundamental para o educador. Opções existem em qualquer situação. Se o aluno está ali em frente ao professor é um clamor que subjaz. Ele quer uma proteção. Essa proteção chama-se alargamento dos sonhos abrir espaços e dar opções. Se há um ser desprotegido, esse é o homem. Tudo que ele faz é uma resposta à consciência da finitude, do efêmero que ele carrega. Daí ser importante o plantio de quimeras para suportar esse destino. Sonhar é mitigar cruéis certezas. Desejar é preciso, quando a alma quer ser grande.

É missão do professor dar sabor ao saber. Não é suficiente para o aluno ter acesso ao conhecimento se não sabe dele tirar proveito. As redes sociais despejam no jovem uma infinidade de informações desconectadas umas das outras. Os elos que as ligam para proveito próprio é que estão faltando. O educando desliza por sobre esse mar de saberes sem a escolha certa para seu crescimento. As dicotomias não se completam. O mergulho para a prospecção da preciosidade não é feito. É uma geração que rastreia muito bem mas prospecta de forma deficitária. Essa geração metonímica, ou geração Y, está esquecendo a metáfora que se aninha nas profundidades.

A função da educação é mudar esse comportamento. A pergunta principal é: mudar para quê? Daí a necessidade do planejamento da escola já focando o egresso. No primeiro contato do aluno com a escola, é preciso que ele já saiba para que futuro ele se destina. Está estudando como construtor de uma ponte que o levará à concretização do sonho. Até as leituras do estudante já podem ser orientadas para o direcionamento para aquilo que ele deseja. Daí que as escolas profissionalizantes levam certa vantagem sobre os comuns, porque já coloca o aluno no curso para a profissão que ele deseja.

Entretanto, é bom que se saiba que independente de ser profissionalizante ou não, a biblioteca ainda se constitui como o melhor laboratório de uma escola. Se a escola dispõe de tecnologias avançadas, o que é raro nos nossos meios educacionais ainda, a biblioteca deve ser respaldada por uma videoteca e uma sala de leitura equipada com computadores e internet. As redes sociais que invadem a vida do aluno fora da escola, nem sempre utilizadas para seu proveito, podem e devem no ambiente escolar servir como ferramenta de apoio no processo ensino-aprendizagem. O ambiente de uma boa biblioteca com esses recursos mantém por mais tempo o estudante na escola, afastando-o do ambiente das ruas onde, de forma inversa, o que ocorre é sempre a deseducação.

A escola de hoje tem que ser aconchegante, lugar onde o aluno se sinta bem e fique o máximo de tempo possível no seu aconchego. Daí que a escola de tempo integral torna-se a solução mais viável. Ela retira o jovem da rua e o coloca em um ambiente saudável, longe de influências maléficas que a rua pode lhe incutir. É evidente que esse tipo de escola requer investimentos altos, mas sai mais barato que construir presídios e manter presos na desocupação, maquinando crimes. Os bairros mais violentos poderiam ter sua violência abrandada a partir da construção dessas escolas no seu interior.

Na escola de tempo integral, o aluno tem oportunidade de ter suas aulas teóricas, praticar esportes, e frequentar a biblioteca e pesquisar. Afinal existem resistências com relação à pesquisa no ensino básico. Acontece que logo ao ingressar na universidade há uma tendência em transformar o universitário em um pesquisador, quando se sabe que ele não teve nenhum preparo para a pesquisa no ensino fundamental e principalmente no ensino médio. É preciso incentivar a pesquisa desde o começo da educação do garoto. Ele precisa cultivar uma curiosidade para entender os fenômenos da existência desde quando começa a ter entendimento. Esse despertar da fome de conhecimentos no educando é fundamental no exercício do magistério.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 11/02/14.


 

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