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Rejane Augusto e o acervo documental de Lavras

Batista de Lima




O "Acervo Documental de Lavras da Mangabeira", de autoria de Rejane Monteiro Augusto Gonçalves, é uma coletânea de manuscritos que retratam a formação política do município ao longo de quase dois séculos. Impresso pela Expressão Gráfica e Editora, em 2016, são 216 páginas com ofícios, atas, certidões, resultados de eleições, todos acompanhados da transcrição do teor, o que facilita o entendimento para o leitor. O luxuoso catálogo de capa dura ainda traz fotografias de construções históricas da cidade bem como um conjunto de fotos dos prefeitos que fizeram história no Município.

A história de Lavras começou nos meados do século dezoito quando mineradores descobriram minérios no seu subsolo. Encerrada essa aventura da mineração, a semente do povoamento havia sido lançada e brotada exuberante, irrigada pelas águas buliçosas do rio Salgado. Ali, enquanto crescia a povoação, iam surgindo as famílias dominadoras da política local. Primeiramente os Xavier Sobreira, depois a poderosa família dos Augustos da qual descende a autora do livro. Assim, nessa documental pesquisa, Rejane reconstrói um patrimônio histórico que seus ancestrais edificaram por quase dois séculos de domínio da cena política que vai até ao fim deste 2016, ao término do mandato de seu irmão atual prefeito.

Segundo consta nesse livro histórico, o Município de Lavras da Mangabeira foi criado em 20 de maio de 1816, mas sua instalação só se deu em 1818. Seu primeiro mandatário foi o capitão Francisco Xavier Ângelo. A esse tempo o Governador da Província era Manuel Inácio Sampaio. Esse Governador era um homem culto que, inclusive, instalou em seu palácio, em Fortaleza, o Grupo Oiteiros, primeira agremiação literária do Ceará. Desse grupo fizeram parte, entre outros, Pacheco Espinosa, Castro e Silva e Costa Barros. O Governador Sampaio, líder desse movimento literário, era sonetista de razoável mestria. Já o município nascente, Lavras, viria a se tornar um celeiro de bons escritores.

Entre esses estudiosos lavrenses destaca-se Rejane Augusto. Por isso que esse seu novo livro vem um primor, não só pela apresentação, mas pela documentação conseguida nos arquivos estadual e municipal de Lavras, além dos guardados que sua família foi preservando ao longo dos anos. Prova disso é que os documentos da Câmara Municipal, todos manuscritos, aparecem no livro, ainda em bom estado de conservação. Também fotos e desenhos foram mantidos de forma tão cuidadosa que se apresentam com nitidez impressionante. É uma prova de que a história da cidade ainda tem formas de como se revelar para os pósteros.

Rejane Augusto já é autora de cinco livros, todos voltados para a história de Lavras. Destaque-se aqui sua pesquisa criteriosa sobre a "História Eclesiástica de Lavras da Mangabeira", de 2013. No âmbito familiar ela inventariou biograficamente duas personalidades marcantes para a história de sua cidade. Primeiramente o perfil do Coronel João Augusto, quatro vezes prefeito de Lavras. Depois elaborou o perfil biográfico de Fideralina Augusto, mulher poderosa que deixou o nome escrito na história de Lavras e também nos acontecimentos históricos do Ceará na passagem do século XIX para o século XX.

Nesse seu novo livro, Rejane apresenta a história de Lavras através da documentação expedida pela Câmara Municipal. Começa mostrando as agitações por que passou aquela casa do povo lavrense ao tempo das investidas do revolucionário Pinto Madeira. Depois apresenta resultados de "Eleições Provinciais de Senadores e Deputados". É então que surgem os eleitos deputados lavrenses ainda no século XIX. São eles José Joaquim Xavier Sobreira, João Carlos Augusto, Raimundo Ferreira de Araújo Lima, João Carlos Augusto (Padre), Ildefonso Correia Lima e Manoel Roberto Sobreira.

Logo em seguida a autora faz um passeio pelos "Distritos e povoações do Município de Lavras". É bom saber que em 1835 o município só possuía três distritos: a Vila de Lavras, São Caetano e Umari. Quanto às povoações do município, em 1866, podemos citar: Lavras, Venda (Aurora), São Caetano, Umari e Várzea Alegre. Isso comprova que Lavras compreendia um vasto território, limitando-se com Icó, Jucás, Crato e o Estado da Paraíba. Esse limite com o Crato chegou a provocar questões entre as duas localidades quanto à decisão sobre as cercanias da Serra do São Pedro. Nessas querelas o Crato saiu ganhando, mas com o tempo ali se formou um novo município, no caso, Caririaçu.

Por fim constata-se que esse memorial da história política de Lavras reforça a conclusão de que a família Augusto foi realmente a dominadora da cena política da cidade. É tanto que em 1832 João Carlos Augusto era atuante vereador na Câmara da Vila das Lavras. Com sua morte a filha Fideralina Augusto tomou o domínio das ações políticas até quando faleceu, sendo sucedida pelo filho Cel. Gustavo Augusto Lima que em 1908 já era prefeito da cidade. Depois de dois mandatos, o Cel. Gustavo teve seu filho João Augusto como Prefeito municipal por quatro mandatos. Por sua vez, o Prof. Gustavo Augusto Lima, seu filho, também foi prefeito. Finalmente Gustavo Augusto Lima Bisneto é o Prefeito atual. Isso tudo sem contar outros familiares que ocuparam a Prefeitura como Raimundo Augusto e seu filho Vicente Augusto, todos descendentes de Dona Fideralina. A autora, que é irmã do atual Prefeito, em vez de ingressar na política partidária preferiu resgatar dos documentos existentes, a comprovação de que nos últimos 184 anos não se pode escrever a história de Lavras sem que se remeta à família Augusto.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 22/11/2016.


 

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