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Quarteto que se narra

Batista de Lima


Os contistas Eduardo Guerra e Vanessa Passos, ao lado dos cronistas Lara Rovere e Zeca Lemos se uniram numa coletânea de textos em que revelam seus talentos literários. Jovens escritores, ao escreverem, revelam-se, revelando dores e alegrias no enfrentamento do cotidiano. Daí que produziram esse “Último ensaio”, em 2019, pela Lua Azul Editora. Em cem páginas, os quatro se narram de forma concisa e sem grandes arroubos metafóricos. Nos comentários auriculares, Renato Pessoa afirma que os quatro contam o mundo, mergulhando na lonjura do dizer-se. Já Aíla Sampaio, no Prefácio, acentua o poder encantatório que é demonstrado pelos quatro nos seus textos. A professora Aíla também revela que “a narrativa é um exercício de poder e domínio”.

Eduardo Guerra, 37 anos, bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de Fortaleza, é contista. Apresenta três contos: “Colhendo Limões”, “Repartição” e “Cadáver”. Este último, o mais curto dos três, é, no entanto, o de maior densidade criativa. É um cadáver com atitudes de vivos. Passeia pela praça, fica no meio dos vivos sem preocupação com as convenções a que um dia se submetera antes de cadáver ser. No conto “Repartição”, Eduardo mostra na sua narrativa, as engrenagens de poder que norteiam a vivência nesse verdadeiro antro de relações humanas depauperadas. Já no conto “Colhendo limões”, esse narrador, na mais longa das suas narrativas, contextualiza as ações em cenários conhecidos como o Açude do Cedro, em Quixadá.

A cronista Lara Rovere, formada em Design de Moda, escreve como se estivesse tecendo e bordando uma peça fina de vestimenta. Quando trata de “A dor do parto”, ela compara o parto de sua primeira filha com a dor de arrancar de si uma crônica. Escrever, para ela, é sangrar, parir para sobrevivência própria e da cria. Dona de uma linguagem forte, ela trafega da fala erudita à popular, “Pra descer ao Paraíso”, cavalga termos como “trisco”, “cafuné”, “rebuliço”, “serelepe”. Suas crônicas “Problema de mastigação”, “Meu pai é feito para ler jornal”, “Caritó” e “Estômago e coração” são instigantes peças literárias.

A contista Vanessa Passos, doutouranda em Literatura Comparada, é autora premiada em concursos literários. Nessa seleta se apresenta com dois contos. O primeiro deles, “Mulher dos cadeados”, ela desvenda o distúrbio de uma mulher que põe cola nos cadeados que encontra por onde vai passando. É um conto propício para uma análise psicanalítica da personagem. Já no seu conto “O preço da loucura”, o mais longo da coletânea, ela não desvenda o que incomoda o personagem que bate na mulher. As pistas vão surgindo e o leitor que dê sua interpretação.

O cronista Zeca Lemos, graduando em Jornalismo, já tem publicado o livro “Pequenas eternidades”, sempre preocupado com o cotidiano. Desta feita ele aparece com nove crônicas das quais seis são dedicadas ao Fortaleza, time do seu coração. Frequentador dos jogos do seu time, ele viu o Fortaleza emergir da Série C do Campeonato Brasileiro e chegar à série A, em que tem se dado muito bem. Daí que ele demonstra ser excelente cronista esportivo com essa opção profissional propícia para seu futuro.

Esses quatro escritores, ao produzirem essa antologia, dão um exemplo às novas gerações de escritores que têm dificuldades de editar-se em livro. Provam que se pode começar por antologias em que os componentes se liguem por afinidades de escrita e de afeto. Assim as obras vão surgindo até chegar-se à produção solo. O importante é apresentar qualidade literária como esses quatro escritores. Seus textos são passíveis de agradável leitura. Afinal eles se põem nos textos e revelam o que pensam e como agem. Valeu!

 

18/02/2020. E-MAIL: jbatista@unifor.br

 


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