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Por falar em futebol

Batista de Lima



Concluído o Campeonato Cearense 2009, deu-se o previsível, a final entre Fortaleza e Ceará. Do mesmo jeito que será em 2010. Pode até ser que um dos oito times restantes chegue à disputa final, mas será apenas para ser vice-campeão. Afinal nosso campeonato, formado por dez times,se resume na escolha entre Ceará e Fortaleza para campeão, e os outros para servirem de ´sparring´ entre os eleitos. É um campeonato muito parecido com antiga novela de televisão. No primeiro capítulo a gente já sabe como vai terminar a história. O torcedor já sabe entre quem vai ser o último beijo. É evidente que para se chegar a essa conclusão é necessário deitar um olhar sobre o percurso do Campeonato Cearense, que ocupa geralmente os quatro primeiros meses do ano. Logicamente que o pior período para a sua realização. Afinal são os quatro meses em que chove no Ceará, isso quando há inverno. Daí campos alagados, jogos suspensos por causa de chuva, mais contusões, menos torcedores, gramados enlameados. Depois desses primeiros problemas, vem a realidade dos jogos. Vem a torcida dos organizadores para que os dois ´grandes´ cheguem às finais, para a salvação financeira do certame e para a engorda dos cofres da ´mentora´. Como dizem na crônica esportiva, só os dois se digladiando é que temos nossa melhor mercadoria. É essa mercadoria que leva a crônica esportiva também a torcer por um dos grandes. E o torcedor precisa saber que emissora de rádio deve ouvir para sentir a apologia do seu time. A crônica se divide pois entre os dois times de maior torcida e isso põe em dúvida a credibilidade do que chega ao torcedor. A mesma coisa se refere ao quadro de árbitros local. Ele é tão desacreditado pelos dirigentes, que nas disputas finais de turno sempre é trazido juiz de fora, às vezes pior que os daqui. Ora, nos jogos com os times menores isso não ocorre. Para o observador imparcial, aí tem coisa. Depois é só observar as súmulas e o histórico de cada partida que não constou da súmula. Quais os times que tiveram mais expulsões e mais pênaltes marcados contra. No recém-findo campeonato de 2009, teve time dos oito sacos-de-pancada, cujo técnico passou todo o campeonato expulso, dirigindo o time direto das arquibancadas. Daí ser fácil saber porque esse mesmo time teve em todos os seus jogos, um jogador expulso ou um pênalte contra. Depois teve um time do interior, de camisas verdes como a esperança, que ´ousou´ chegar à disputa do segundo turno com um dos dois grandes. Aí foi colocado juiz e bandeiras de outro estado. Esse trio pago pelo time grande. Pela lógica quem ganharia o turno? Outro faceta interessante fica por conta da valorização do atleta local. Jogador cearense chegar a ser titular de um dos dois times grandes é preciso ser gênio da bola. Geralmente esses dois times trazem técnicos de fora porque técnico local é desacreditado. O técnico de fora traz consigo uma frota de ´bondes´ que aqui vêm encerrar carreira ou curtir contusões crônicas. São sobejos do eixão-maravilha (Rio e São Paulo) que se prestassem ficariam por lá ou teriam desembocada na Europa. Com esse panorama é difícil pensar no sucesso de nosso futebol em certames nacionais. Afinal, fazemos um futebol profissional com organização amadora. Ninguém estuda o nosso futebol porque quanto mais desconhecido ele for do torcedor, mais fácil de iludir a torcida. A Federação nunca patrocinou um fórum em torno desse esporte que tanto mexe com a população. Não há pesquisa nas universidades em torno do assunto. Não temos, na cidade, um museu que mostre a história desse esporte, que leva milhares de pessoas aos estádios há muitas décadas. Onde andam os intelectuais do Direito Desportivo, da Literatura do Futebol, da Psicologia Esportiva, da Economia, da Educação Física? Há um tabu quando se trata de estudar o futebol. Não temos um centro de estudos de futebol. Até a questão da violência entre torcidas podia ser um laboratório de estudos para a sua compreensão e o seu diagnóstico. Aliás, é a questão da torcida organizada que está afastando o torcedor comum dos estádios. As pouquíssimas pessoas que guardam dados sobre a história do nosso futebol são autodidatas em pesquisa, que sem nenhum aparato metodológico, ainda nos garantem alguma informação. As loterias nacionais oficializadas pela Caixa Econômica e usando o futebol como fonte para palpites arrecadam milhões, mas não destinam percentuais para o estudo do próprio futebol. As duas maiores manifestações culturais do Brasil, as que mais empolgam a alma brasileira e que movem arrecadações enormes, o futebol e o carnaval, não são estudadas como deveriam. O ópio deste povo é desconhecido dele próprio. Os intelectuais têm seus times para torcer, suas escolas de samba de preferência, mas estudam e pesquisam assuntos de pouca aplicabilidade no nosso dia-a-dia. A literatura pouco tem explorado esse filão de nossas manifestações plásticas, afinal, futebol e carnaval são artes genuínas, verdadeiros tesouros sobre os quais saltitamos sem compreendê-los. Se estudássemos nosso futebol, por exemplo, iríamos entender porque todos os anos, com esses mesmos percalços, com esses mesmos ajustes de bastidores, os estádios se enchem de torcedores. Também poderíamos avaliar se o futebol pela televisão não é uma fórmula de diminuir a violência nos estádios. Se continuar esse crescimento da violência, uma visão futurista mostrará nossos ídolos se digladiando em campos de várzea e os milhões de torcedores ajoelhados diante dos televisores em suas residências. Quem sobreviver, verá.

 

12/05/2009.

 

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