top of page
  • Foto do escritorBatista de Lima

Policromias número 10

Batista de Lima A Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, AJEB-CE, apresenta sua décima antologia no final de 2018. A edição é da RDS Editora, com capa bonita e 212 páginas de textos. Organizada por Giselda Medeiros e Ana Paula de Medeiros Ribeiro, apresenta textos de vinte autoras e seis autores, apesar da Associação ser apenas de mulheres. É uma coletânea multifacetada em que bons textos vêm ao lado de outros de qualidade razoável. Isso no entanto é consequência da multiplicidade de academias, associações e institutos voltados para a literatura numa cidade que comportaria talvez menos da metade desses grupos literários.

Há entretanto uma particularidade nessa seleta que lhe dá um viés didático. É que alguns perfis biográficos são levantados, o que seria de utilidade nas escolas de ensino médio, que lutam para que os alunos leiam clássicos da nossa literatura. Há dados sobre Domingos Olímpio, com referências ao seu “Luzia – Homem” e o regionalismo que o caracteriza, apesar da bibliografia apresentada não estar em ordem alfabética. No mesmo caminho aparecem Monteiro Lobato, Carlos Drummond de Andrade e uma incursão mais alentada sobre Ferreira Gullar. Nesse mesmo patamar pode ser incluído o texto sobre Florbela Espanca.

Nessa sequência de perfis, é possível encontrar os textos sobre Gabriel Garcia Márquez, Vinícius de Moraes e Gilbran. São dados biográficos que giram em torno de três páginas cada um, o que não é suficiente para mostrar o cabedal de características desses escritores famosos. Ficam então em torno de informações biográficas que já são conhecidas de leitores mais atualizados. É difícil elaborar perfil de quem já foi e continua sendo destaque nas mídias sem que se repitam detalhes já conhecidos do leitor atualizado. Por isso que essa antologia deve ter seu público certo dada sua feição didática.

Há textos que se sobressaem no conjunto da obra, como o que trata do cinquentenário da morte de Manuel Bandeira e os que apresentam escritores cearenses que não estão mais entre nós. Entre esses podemos citar o de Gizela Nunes da Costa sobre Auri Moura Costa, o de Marcelo Gurgel em torno da figura de Heloísa Juaçaba e o perfil de Otacílio Colares, elaborado por Vicente Alencar. Entretanto, os textos que apresentam mais qualidade na revista são: “Grupo Seara, feminino e literário”, de Beatriz Alcântara, “Artur Eduardo Benevides: o homem, o poeta”, de Regine Limaverde e “João Carlos Martins, o indomável”, de Vital Arruda.

Uma antologia como essa da AJEB-CE sempre apresenta algum trabalho que instiga o leitor a relê-lo ou realizar leituras outras sobre o assunto. É como se despertasse no leitor uma certa curiosidade adormecida. Em “Policromias 10”, isso ocorre quando lemos “Repensando Wittgenstein”, de Graça Roriz Fonteles. É o texto da coletânea que nos põe diante da necessidade de refletir sobre a Virada Linguística e sobre outros autores que também pesquisaram sobre os postulados da linguagem. O “Tractatus Lógico-Philosophicus”, publicado em 1922, é uma obra revolucionária por ter mudado as perspectivas dos estudos linguísticos até hoje.

Finalmente é preciso que se diga que apesar de alguns textos laudatórios entre amigas da Associação, essa “Policromias 10” traz matérias cuidadosamente trabalhadas e que merecem leitura e reflexão. Nesse rol pode-se incluir ainda o que escreveram Elinalva Alves de Oliveira, Fátima Lemos, Maria Odila Menezes de Souza e Giselda Medeiros. Quanto ao resultado do Iº Prêmio Marina Mariano de Literatura, considero que o soneto classificado em segundo lugar está melhor que o poema classificado em primeiro. No mais, que outras entidades literárias que não se divulgam, mirem-se no exemplo da AJEB-CE e produzam também suas antologias. FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 29/01/2019.



 

13 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page