top of page
  • Foto do escritorBatista de Lima

Pelos caminhos de Rui Facó

Batista de Lima




Rui Facó nasceu em Beberibe no dia de São Francisco, de 1913. Poderia ter ficado por lá como seus pais, sua irmã Ana, seus parentes e muito mais gente daquela cidade do litoral leste do Ceará. Parece, no entanto, que calçou botas de sete léguas, e terminou saindo por aí, tentando mudar esse mundão que lhe abriu as portas. Por isso que aos 14 anos já migra para Fortaleza e se torna aluno do Liceu do Ceará. Aos 16 anos já se inicia no jornalismo, mostrando talento para as letras. Aos 22 anos já aparece cursando a Faculdade de Direito na capital cearense.

Fortaleza tornou-se pequena para a inquietude do filho de seu Gustavo e dona Antonieta. Por isso que se transfere para Salvador, cidade em que conclui seu curso de Direito e se aprofunda na militância política pelo PCB. Dali transfere-se para o Rio de Janeiro e dedica-se de vez ao jornalismo político/doutrinário. Por isso se torna um intelectual do Partido, o que é um passaporte para estudos em Moscou, onde fica por seis anos. No retorno ao Rio, mais atuante se torna na pregação comunista e na redação dos jornais doutrinários de sua causa. Isso sem contar que teve passagem por periódicos dos Diários Associados.

Diante de tanta mobilidade, só alguém destemido como Luís-Sérgio Santos, seu conterrâneo, para lhe reconstruir os passos. Luís-Sérgio, nascido em torno de cinco décadas depois de Rui, tem como madrinha de batismo, Ana Facó, irmã mais nova de Rui. Essa aproximação levou esse jornalista e professor da UFC, a ousar recompor os passos de Rui Facó nos 50 anos de vida do comunista de Beberibe. Ousou e conseguiu traçar uma biografia alentada, detalhada, verdadeira pesquisa de campo em que, das fontes mais remotas, foram garimpadas informações para a confecção do tecido biográfico.

Depois de coletado esse vasto material, a Omni Editora, com os auspícios do Inesp, organizou esse volumoso livro de 368 páginas, em 2014. Acredito ter sido a mais significativa homenagem ao centenário de nascimento de Rui Facó, comemorado no ano anterior. Mas não ficou apenas na figura do biografado, o alcance da pesquisa. A história do PCB, com seus personagens mais significativos, serve de pano de fundo para a trajetória do ilustre filho de Beberibe. Desde o surgimento do partido, nascido ainda sob o fragor da Revolução Bolchevique, as glórias e os percalços do PCB vão sendo colocados página a página.

Segundo Luís-Sérgio Santos, Rui Facó era um dos intelectuais do Partido. Advogado, doutrinário, positivista e metódico, teve estágio na Capital Soviética, trabalhando na Rádio Moscou. Acompanhou de perto as demarches da Guerra Fria e pode ter sido vítima desse arrepio entre americanos e russos. Prova disso é que sua morte aos 50 anos, em acidente aéreo nos Andes, ainda hoje se apresenta nebulosa, a ponto da família e dos pesquisadores acharem que pode ter sido algo provocado pelos americanos. No livro, o autor apresenta razões para que essa dúvida tome ares de verdade.

Nesse episódio constatou-se que os primeiros a chegarem à cena do acidente foram os componentes do Serviço Secreto Americano. Além do comunista Rui ia uma delegação de diplomatas cubanos e o objetivo particular do grupo era participar de um encontro de camponeses politizados. Essa hipótese de sabotagem ainda hoje paira nas mentes daqueles que sofreram as agruras da Guerra Fria e as perseguições imperialistas aos militantes do Partido Comunista Brasileiro. Daí que ainda há algo a esclarecer sobre o episódio dos Andes nos idos de março de 1963.

Com relação ao traçado familiar de Rui Facó, Luís-Sérgio vai em busca da ancestralidade das famílias importantes de Beberibe. Nesse percurso, ele vasculha a família Facó e mostra sua importância para aquela cidade que antes fora distrito de Cascavel. Daí surge a família de Rui que tem raízes profundas naquela região do leste cearense. Nessa família surgiram nomes de destaque na vida social brasileira como os escritores, além de Rui, Ana Facó, Eurico Facó e Américo Facó. Além deles, os generais Edgar e João Facó. Tudo isso sem contar vários prefeitos da cidade além do Deputado Estadual Paulo Facó.

Por fim, não se pode deixar de lembrar o escritor Rui Facó com seus dois livros marcantes: "Brasil, século XX" e "Cangaceiros e Fanáticos". Nesse último, Rui apresenta uma visão detalhista e sociológica das duas vertentes sociais que têm marcado os sertões nordestinos. As secas, o coronelismo e o abandono dos pequenos rurícolas levaram ao surgimento dessas duas facetas do homem pobre e desvalido dos nossos sertões. É um livro de pesquisa de campo em que seu autor precisou transitar por recônditas fontes para um levantamento de causas e efeitos da concentração de terras e falta de uma Reforma Agrária no Nordeste. Por conta desse levantamento biográfico sobre Rui Facó, Luís-Sérgio Santos se firma cada vez mais como escritor criterioso, além do jornalista consagrado que já se tornou e do professor universitário de brilhante carreira na Universidade Federal do Ceará.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 05/04/2016.


 

2 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page