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Osvaldo Chaves, poeta e padre

Batista de Lima




Osvaldo Carneiro Chaves nasceu em 21 de outubro de 1923, no sítio Angelim, distrito de Sambaíba, no Município de Granja - CE. Primeiramente estudou no Ginásio Lívio Barreto, na sua cidade natal, transferindo-se, em seguida, para Sobral, onde ingressou no Seminário. Concluiu seus estudos no Seminário Maior de Fortaleza, ordenando-se padre na Catedral sobralense, em solenidade religiosa oficiada por Dom José Tupinambá da Frota.

Em seguida, no Seminário da Princesa do Norte, iniciou o magistério, lecionando Português, Francês e Música. A vida sacerdotal, no entanto, levou-o a paroquiar em Crateús, Acaraú e São Benedito, voltando em seguida, definitivamente para Sobral. Pelas cidades por onde passou, dirigindo paróquias, também exerceu o magistério. Por isso que há hoje uma legião de ex-alunos de Padre Osvaldo que cantam as glórias das aulas que lhes encantaram.

Ao longo dessa jornada, também leu os clássicos, em especial os poetas romanos. Suas leituras, o exercício do magistério e seu penhor pela criação poética o levaram a produzir belos poemas que foram guardados ao longo do tempo.

Desde os anos da década de 1940 até 1986, esses belos textos foram aumentando em quantidade e qualidade, mas sempre guardados e desconhecidos do grande público. Só depois de muitos pedidos dos que lhe eram próximos é que esse tesouro veio a lume.

Em 1986 surgiu então o livro "Exíguas", condensando a maioria dos seus poemas produzidos até então. A apresentação ficou a cargo do Padre Francisco Sadoc de Araújo, que no seu texto, entre outros argumentos, explica a origem do termo que dá título à coletânea. Para o apresentador, "o autor foi buscar o título em um mergulho nas profundezas das Metamorfores, de Ovídio".

Padre Sadoc então explica que o nome "Exíguas" atribui-se às sombras do meio dia, que quando o sol está a pino, elas se reduzem à mínima projeção. E é verdade, praticamente o corpo fica sem sombra nesses momentos. É então que o poeta os lança no papel, de forma transfigurada.

A segunda edição de "Exíguas" foi publicada em 2007, mas, diante da procura, o livro teve sua edição esgotada, o que levou a que o Padre Osvaldo lançasse, em 2016, a terceira edição. É evidente que a cada edição são acrescentados poemas novos e o leitor chega a essa conclusão porque o autor tem o vezo de datar todos os seus poemas desde 1940 até março de 2016.

Claro que para alguns teóricos, poesia é atemporal, mas no caso de "Exíguas", as datas vão caracterizando as circunstâncias de cada época.

Por falar em circunstâncias, é bom que se patenteie que os poemas circunstanciais do Padre Osvaldo Chaves mitificam e mistificam personagens, mirando-as numa dimensão metafórica instauradora de rara poeticidade. "Lucídia" é a culminância dessa vertente do seu poetar.

"Tia Rosa morreu" é pungente. Já "Padre Antônio Tomás", "A Dom Lustosa" e "Ao Papa" são três poemas de pura admiração. Inclusive o Príncipe dos Poetas Cearenses lhe dedicou também um poema. Esses e outros personagens a que o autor se refere poeticamente nos revelam facetas que os glorificam ainda mais.

Outra característica da poesia de Padre Osvaldo é o telurismo. Ele canta sua terra, Granja, e se encanta com Sobral, que o adotou. Mas é bom lembrar que logo na abertura do livro ele aparece com os poemas "Terra Cearense" e "Fortaleza", escritos ao tempo em que estudava no Seminário da Prainha.

São dois cantos de louvor a nossa terra. São duas canções de amor. Entretanto ele não esqueceu de primeiro cantar seu quintal, para depois cantar o mundo. Daí são imperdíveis "Angelim intacto" e "A Granja dos séculos".

Ao cantar sua cidade ele não esquece de seu conterrâneo poeta maior Lívio Barreto. Lívio Barreto é considerado até hoje como o representante máximo do Simbolismo no Ceará. Foi um dos componentes da Padaria Espiritual, grêmio literário cearense que funcionou em Fortaleza a partir de 1892, sendo seu término registrado em 1898.

O poeta granjense participou com seus poemas do jornal "O Pão", órgão de divulgação daquele grêmio, mas pouco se fazia presente às reuniões pois a esse tempo passou a residir em sua cidade natal.

Em um dos poemas do Padre Osvaldo está escrito: "Eu quero Granja que mereça Lívio / Barreto, o iluminado de Dolentes". "Dolentes" é o famoso livro de Lívio Barreto.

Entre as características da poesia de Padre Osvaldo, além das intertextualidades de Lívio Barreto e do Padre Antônio Tomás, estão o bucolismo em torno da cena familiar, as sinestesias e o apelo social na defesa dos desvalidos. Satírico às vezes, como em "Tia Rosa morreu", crítico em outras, como em "Que sucesso", prevalecem nos seus poemas os símbolos como influência das suas leituras. E quando parte para o soneto se mostra exímio nas formas fixas. Seu poema "Amanhecer" com versos decassilábicos e estrutura rítmica em ABBA, ABBA, CDC e DCD se torna o ponto alto da obra inteira.

Como afirma Padre Sadoc, a poesia de Padre Osvaldo desmascara "atitudes pedantes, o farisaísmo, a injustiça social, a hipocrisia, a violação dos direitos humanos". Assim, depois da análise do Padre Sadoc e dessa minha singela leitura, realmente concordo com o apresentador: "O livro do Padre Osvaldo Carneiro Chaves está a exigir um estudo mais aprofundado".


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 24/01/2017.


 

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