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Odorina e "As três Marias"

Batista de Lima


As três Marias, do livro de Rachel de Queiroz, são três colegas do colégio Imaculada Conceição. Maria Augusta, ou Guta, é a própria Rachel; Maria José é Alba Frota e Maria da Glória é Odorina Castelo Branco. Muito se conhece de Rachel de Queiroz, a autora do livro, publicado em 1939. Essa renomada escritora cearense nasceu em Fortaleza em 1910 e faleceu no Rio de Janeiro em 2003, apesar de que nessa 25ª edição de "As três Marias", apareça erradamente, na ficha catalográfica da José Olympio Editora, o ano de 1919 como data de seu nascimento.

Com relação a Alba Frota, a Maria José, do livro, sabe-se que nasceu em Fortaleza, em 1906, e faleceu em 1967, no acidente aéreo em que morreu o Marechal Castelo Branco. Alba Frota fora funcionária da Universidade Federal do Ceará e ao longo dos anos destacou-se como professora e cronista. Tanto no livro, como Maria José, quanto na vida real, era possuidora de convicta religiosidade o que levou seus biógrafos a acentuarem o fato de ao falecer aos 61 anos de idade, encontrar-se ainda inupta. Seu nome foi dado a uma escola para crianças, mantida pela Prefeitura de Fortaleza, no Parque das Crianças.

A outra Maria, a da Glória, trata-se de Odorina Castelo Branco. Ao nascer, em 1908, perdeu a mãe. O pai passou a criá-la com cuidados maternais. Acontece que antes dos doze anos também perdeu o pai, que antes do falecimento entregou a filha aos cuidados das freiras do Colégio Imaculada Conceição e também doou seus bens àquela instituição de ensino religioso. Foi assim que as três Marias se encontraram como internas daquele colégio e se tornaram grandes amigas para o resto de suas vidas. Odorina, Alba e Rachel se diplomaram na mesma ocasião, em novembro de 1925, com mais 18 colegas, tendo como oradora da turma, a concludente Maria Luíza Ferreira.

O paraninfo da turma foi Menezes Pimentel e entre os professores homenageados estavam Octávio Lobo, Raimundo Arruda e Mozart Pinto. A partir daí, as Marias se separam sendo que Maria da Glória é a primeira a casar-se. Esse casamento já foge da história real de Odorina. Pois na realidade Odorina ainda estudante conheceu, no colégio, a juazeirense visitante, de nome Alacoque Sampaio que a convidou para conhecer Barbalha, sua cidade natal.

Foi nessa cidade que Odorina conheceu o médico recém-formado, irmão de Alacoque, chamado Leão Sampaio. Com ele namorou e casou-se em 1926, tendo tido 13 filhos, sendo o primogênito o médico Mauro Sampaio. Logo em 1933, com a ajuda de Padre Cícero, o marido de Odorina, Dr. Leão Sampaio, se elege Deputado Federal, elegendo-se repetidas vezes, até os anos 1960 quando foi substituído na política por seu filho Mauro Sampaio.

Nesses mandatos de Leão Sampaio, com sua permanência no Rio de Janeiro, os contatos de Odorina com Rachel permaneceram ocorrendo, bem como com Alba Frota, em Fortaleza. As três mantinham substanciosa correspondência, como bem atesta carta que tenho em mãos, cedida por José Augusto Bezerra, de Odorina (em Brasília, em 1968) para Rachel, no Rio. De belo texto manuscrito, essa carta, de primeiro de agosto, apresenta uma bela letra e frases elaboradas com zelo conteudístico. Odorina, na carta, trata a destinatária de Rachelzinha.

O livro "As três Marias", nas páginas iniciais, tem a preocupação em relatar fatos realmente acontecidos. Entretanto do meio para a frente há muita ficção, como o casamento de Maria da Glória com um engenheiro, o que não corresponde à realidade. Por isso que, segundo Jaqueline Sampaio, neta de Odorina, o que há de mais real na narrativa é o conjunto de traços psicológicos de Maria da Glória, todos coincidentes com Odorina. Ainda estudante, Maria da Glória destacou-se como exímia violinista o que coincide com Odorina que tocava bem o violino, além de que Leão Sampaio tocava flauta com esmero. Odorina Castelo Branco faleceu em 1992 e foi ao longo da vida a companheira fiel de Leão Sampaio, esposa virtuosa e amante das letras e das artes. Hoje, uma das melhores escolas de Juazeiro do Norte traz o seu nome.

O livro de Rachel de Queiroz trata em pé de igualdade as três Marias. Entretanto, a evolução da história real de vida de cada uma privilegia, na mídia, a escritora Rachel de Queiroz, merecidamente, um pouco menos intensamente a escritora Alba Frota, mas pouco se volta para de Odorina Castelo Branco, que está a merecer um estudo mais aprofundado de sua participação nesse trio de amigas, que enriqueceram a Literatura Cearense como personagens desse bonito livro que é "As três Marias".


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 11/09/12.

 

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