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O umbigo da Pátria

Batista de Lima



O umbigo é a parte central de um corpo. A Pátria é um corpo resultante da ampliação da família. O Brasil é um grande corpo que por muitos anos teve seu umbigo funcionando na periferia. Mesmo situado ao lado do mar oceano, esse umbigo foi acumulando sujeira que a despeito de tanta água por perto não passava pela limpeza necessária. Acontece que o Presidente Bossa Nova concluiu que mudando o local do umbigo o grude desapareceria. E assim foi feito. Com muitos e muitos gastos, esse umbigo foi transmudado para o centro da Pátria.

Tudo novo, asséptico, um poema concreto instalou-se no centro do corpopátrio. Entretanto, a mobília para lá levada não foi lavada o suficiente, fazendo com que alguns cupins e traças acompanhassem o cortejo de tão boas intenções. A partir de seu nascimento aquela urbe comprovou que uma cidade não se constrói apenas com boas intenções. Além disso, o antigo umbigo, totalmente desemponderado, ficou órfão e ainda acometido das antigas mazelas. Começou aquela antiga Cap a buscar apoio para sobrevivência. Foi então que os bicheiros estenderam a sua proteção que durou décadas.

O umbigo revigorado respirou nessa sua visita de saúde. Um dia, no entanto, os padrinhos perseguidos deixaram o barco que entrou em deriva. Vieram então o tráfico e as milícias armadas para salvar aquela orfandade. Muitos dos cupins que não foram para o Planalto Central ficaram dirigindo a velha urbe e a digerir o que lhe restava. E aí está um estado quebrado, falido e violento, a tal ponto que há já quem sugira que a única saída para a maravilhosa metrópole é voltar a ser o umbigo da Pátria.

O novo umbigo da Pátria abriu a primeira cicatriz no centro deste corpo verde amarelo. Ali as boas intenções foram dando lugar às espertezas. Como acontece geralmente com os umbigos, muitas bactérias ali foram se alojando. Muitos roedores por ali se infiltraram com sua fome murina. É uma fome que quando se tenta acalmá-la mais carnívora ela se torna. Essa fome de querer mais foi se tornando visceral, o que torna difícil debelá-la. Muitas traças acorreram de várias partes da Pátria para aquele grande umbigo. Muitos ali se achegaram não para servir à Pátria mas para serem servidos por ela.

São poucos ali os que dão saúde ao grande umbigo. Tão poucos são eles, que vencem sempre os maledicentes. Como formigas que cortam as plantas, suas barrigas sem limites não se fartam de deglutir. E a Pátria vai sendo comida do seu centro para as beiradas. O que acontece por lá faz a falta por aqui acontecer. E "as promessas divinas da esperança" vão ficando atrás, enquanto "os desenganos vão conosco à frente". A coisa pública vai sendo privatizada, enquanto se pergunta de boca em boca se tem solução para esse mal que se hospedou na parte mais central do nosso organismo social. Como limpar esse nosso dilatado umbigo?

Ora, de quatro em quatro anos, temos a chance de limpar o umbigo pai. Esse grande umbigo está sujo por culpa também nossa que para lá enviamos depois de legitimados, nossos representantes. Nossa falta de critério na hora da escolha é responsável pelo descalabro no coração da Pátria.

Precisamos não só saber escolher, mas também acompanhar o desempenho daqueles sobre os quais colocamos nossas esperanças.

Dedilhar aquela urninha eletrônica é um ato para bem pensar. Saber escolher é uma virtude. Saber escolher não é paga de favor. É um momento de muita responsabilidade. Ali estaremos robustecendo o grande corpo da Pátria amada, fortificando a cidadania.

É pena que não tenhamos a cultura de fiscalizar aqueles em quem pomos os nossos destinos. Poucos dias após o pleito já não nos lembramos mais daqueles que escolhemos. Soltamos as rédeas daqueles que não soubemos escolher. A Pátria nós construímos a partir de nossos mais simples comportamentos. Ela é um patrimônio que possuímos mas que não ligamos como devíamos para o seu destino. Pátria e patrimônio são palavras de mesma raiz. Estão tão próximas entre si e tão distantes do nosso olhar. A limpeza de minha calçada é um ato patriótico. Obedecer às leis é uma forma de limpar o umbigo da Pátria. Preservar a natureza que me cerca é uma forma de votar sem ter que necessariamente teclar a maquininha.

Estamos em 2018, um ano crucial para a limpeza do umbigo da Pátria. Um ato de enorme responsabilidade nos espera em outubro. Não precisamos nos deslocar até àquela enorme ágora que decide nossos destinos. Precisamos saber exatamente quem serão aqueles que nos vão bem representar. Muitos que lá estão precisam desocupar o posto que não honraram. Pouquíssimos merecem por lá permanecer. Temos que renovar para nos honrar. Este é o ano da grande limpeza.

Os instrumentos para a lavagem de tanta sujeira estarão em nossas mãos. Não tem preço nossa escolha. É tudo uma questão de consciência, um ato de tanta responsabilidade, que perdura por mais quatro anos. Portanto, preparemo-nos para a grande limpeza do umbigo da nossa Pátria.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 16/01/2018.

 

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