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O tesouro do Barão

Batista de Lima


A história de vida do Barão de Studart está intimamente ligada à da existência do Instituto do Ceará, Histórico, Geográfico e Antropológico. Dentre as várias entidades que criou, foi com essa que mais se identificou. Isso não significa que não tenha também se empenhado noutras criações de que participou, como a Academia Cearense de Letras, o Centro Médico Cearense, o Centro Abolicionista 25 de Dezembro, a Sociedade São Vicente de Paulo e o Instituto Pasteur.

Guilherme Chambly Studart nasceu em Fortaleza em 5 de janeiro de 1856.Nesta mesma cidade veio a falecer em 25 de setembro de 1938. Conhecer sua trajetória de vida é vasculhar um tesouro de conhecimentos em que o Ceará aparece como principal mina de preciosidades. O manancial que acumulou durante mais de oito décadas de existência vai da história à geografia, da medicina à antropologia. Parte desse vasto material acumulado veio agora a lume sob o título "Arquivos do Barão de Studart".

Editada pelo Instituto do Ceará, sob a coordenação de seu atual presidente, José Augusto Bezerra, a luxuosa obra de 160 páginas é um verdadeiro tesouro de ensinamentos, fotografias e documentação do que de melhor o Barão foi acumulando ao longo da vida. Alguns estudiosos apresentam variados ensaios sobre a obra diversa do Barão. Gisafran Nazareno Mota Jucá escreve "A história no Arquivo do Barão". Maria Clélia Lustosa Costa responsabilizou-se pela "Geografia nos Arquivos do Barão". Já Peregrina Fátima Capelo Cavalcante discorreu sobre os "Aspectos Antropológicos da Coleção do Barão de Studart".

Além desses alentados estudos, ainda aparecem textos de Valdelice Girão, Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez) e de Eduardo Campos. Logo na "Apresentação", José Augusto Bezerra lembra que, para editar a obra, "procurou e recebeu o apoio de importantes entidades, como o BNB e o Grupo M. Dias Branco". Com esse apoio institucional e essa equipe de estudiosos de alto nível, foram vasculhados "54 cadernos contendo documentos colecionados pelo Barão", como afirma Eduardo Campos. Foi, assim, uma verdadeira garimpagem documental.

A história de vida do Barão de Studart está intimamente ligada à da existência do Instituto do Ceará, Histórico, Geográfico e Antropológico. Dentre as várias entidades que criou, foi com essa que mais se identificou. Isso não significa que não tenha também se empenhado noutras criações de que participou, como a Academia Cearense de Letras, o Centro Médico Cearense, o Centro Abolicionista 25 de dezembro, a Sociedade São Vicente de Paulo e o Instituto Pasteur.

Como se vê, sua dedicação extrapolou a própria profissão de médico e ampliou-se por tantos setores da vida cultural que hoje para se estudar a história cearense necessário se faz recorrer aos arquivos do Barão. Por isso que sua obra de maior importância, sob o título "Datas e Fatos para a História do Ceará", em três volumes, traz um apanhado documental sobre o Ceará desde as primeiras notícias de sua colonização até o ano de 1924, momento final de seu terceiro volume.

Como se nota, o Barão de Studart era um incansável colecionador. Colecionou tantos papéis sobre o Ceará que as 160 páginas desse livro, não dão conta suficiente para esgotar essa verdadeira botija cultural que nos deixou. Para conseguir tantas raridades foi capaz de se desfazer de somas valiosas na coleta de documentos aqui e até fora do Brasil, principalmente em entidades europeias onde houvesse alguma notícia sobre o Ceará e sua gente.

Essa papiragem desencadeada pelo Barão foi facilitada pelo seu conhecer profundo das línguas neolatinas e do inglês e também pelo fato de ser possuidor de recursos consideráveis para tanto. Tanto é que além dos três volumes da sua obra principal já citada, publicou "Notas para a História do Ceará", "Dicionário Bio-Bibliográfico Cearense", "Para a História do Jornalismo Cearense" e "Geografia do Ceará". Todo esse conjunto de documentos mostra um Ceará desde a nomeação de Martim Soares Moreno, como Capitão-mor da Capitania, até 1938.

Nesse percurso, lembra Maria Clélia Lustosa que, apesar de sua "intensa correspondência epistolar", nunca deixou de desenvolver uma "metodologia apurada" em torno do que pesquisava. Mesmo que muito dessa correspondência seja manuscrita, não deixa de ser também fonte de pesquisa para historiadores que queiram se debruçar sobre a história do Ceará. É tanto que as informações que guardou sobre as secas do Ceará e as epidemias que lhes acompanharam são as fontes necessárias para se entender inclusive o êxodo e o despovoamento de alguns de nossos rincões.

Essa publicação do Instituto do Ceará também nos chama a atenção para os caminhos que construímos. Primeiramente a construção de nossos ancoradouros, com destaque para os de Fortaleza e Camocim. Depois, para a importância da construção das estradas de ferro do Ceará, de Fortaleza para o Crato e para Sobral. Essa vias de acesso se tornaram artérias por onde o Ceará e em especial Fortaleza, se desenvolveram. Depois, a formação antropológica do cearense, tão bem estudada por Peregrina Capelo, a partir da documentação deixada pelo Barão. Todo esse material apresentado e estudado por especialistas, nesse livro sobre os "Arquivos do Barão de Studart", revigora a memória cearense e nos orgulha de aqui permanecermos nessa construção de um Ceará que amamos, mas que muito mais amado foi pelo incansável Barão de Studart.


jbatista@unifor.br

28/09/10.

 

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