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O Quixadá de Xavier de Holanda

Batista de Lima


Terra dos Monólitos ou Cidade da Galinha Choca, Quixadá é cantada em ciranda pelas pedras. Elas emergiram das profundezas da terra e, de mãos dadas com os rios Sitiá e Banabuiu, criaram um oásis em que antigas famílias de origem portuguesa foram chegando e povoando aquela terra prometida. A cidade cativou seus moradores e dela surgiram nomes que a glorificam até hoje. Rachel de Queiroz, Jáder de Carvalho e Cego Aderaldo engrandecem tanto aquela terra, que difícil é encontrar outra cidade do interior cearense tão imortalizada nas letras como Quixadá. Isso sem contar políticos, militares, professores e magistrados que dali surgidos, cresceram de nome por este grande Brasil.

Um desses quixadaenses ilustres é João Xavier de Holanda, descendente de uma das famílias mais importantes da cidade e de grande parte do vale jaguaribano. Pois Xavier de Holanda quis prestar sua homenagem à cidade em que nasceu e conseguiu escrever em livro, a história de sua terra natal como talvez ninguém antes escrevera. Pesquisou, colheu dados, e por fim publicou pela RDS Editora, "Quixadá: origem, fatos e vultos". São 314 páginas editadas neste 2015, trazendo tantas informações sobre Quixadá, que o leitor fica com a impressão de que nada ficou por contar. A religião, a política, a emancipação do antigo povoado, o esporte e as personas mais atuantes vão entrando e saindo de cena, montando a história daquele povo.

O prefácio do livro é de autoria do Dr. Lúcio Alcântara, que enaltece as qualidades do autor, bem como a dinâmica do texto em que são contemplados os mais variados "setores que compõem o mosaico da dinâmica social" quixadaense. Prova disso é que após as notícias sobre as origens da urbe, há o histórico da formação eclesiástica da cidade, com a relação completa de todos os religiosos que exerceram o vicariato local. Além disso o poder judiciário é apresentado no seu histórico com a relação completa de todos os magistrados que por lá passaram desde a criação da comarca. Também no "Retrospecto Administrativo", desfilam todos os gestores municipais com as datas limítrofes de suas administrações.

Quanto aos símbolos da cidade, João Xavier de Holanda enfatiza a presença dos monólitos, que dão um aspecto original à paisagem, com destaque para a Pedra da Galinha Choca. Vem depois o Açude do Cedro com toda a saga da sua construção nos tempos imperiais. Há ainda o destaque para o hino da cidade, bem como a criação e o significado das cores de sua bandeira. Tudo isso coroado com a mitologia que envolve a Gruta do Magé e a Pedra do Cruzeiro. O autor também não esquece de apresentar os primeiros empreendimentos que alavancaram o progresso do município, como a primeira farmácia, a padaria tradicional e o primeiro grupo escolar em que iniciaram seus estudos, muitos filhos da cidade que se tornaram ilustres representantes da vida social.

Capítulo especial é dedicado às filmagens de "A morte comanda o cangaço", de Carlos Coimbra. Esse primeiro filme produzido em Quixadá data de 1959 e trouxe como atriz principal a bela Aurora Duarte. Milton Ribeiro e outros atores de fora, além de pessoas da própria cidade, completaram o elenco. Esse filme ganhou prêmios internacionais e estabeleceu vínculos entre a população e os atores. Prova disso é que Aurora Duarte retornou a Quixadá, tempos depois, para rever os amigos adquiridos na época das filmagens.

Quanto à Literatura, João Xavier de Holanda dedicou espaço especial a Rachel de Queiroz e Jáder de Carvalho. Logo na página 29 ele transcreve o bonito poema "Quixadá", de Jáder de Carvalho, filho ilustre nascido na cidade em 1901. Já Rachel de Queiroz é contemplada com 15 páginas de dados biográficos em que aparecem Castelo Branco, como seu grande amigo, e a fazenda "Não me deixes", como seu predileto local de repouso. Curiosidade é o fato do lançamento dessa escritora como candidata a deputada pelo PSB.

Está assim escrito na página 223: "No dia 29 de dezembro de 1934, às 10h, na Coluna da Hora, da Praça do Ferreira, em Fortaleza-Ce, foi realizado um gigantesco comício para lançamento da candidatura de Rachel de Queiroz a deputada da Constituinte Estadual, pelo Partido Socialista Brasileiro". Ainda sobre Rachel de Queiroz, o autor a ela se refere quando trata das últimas 24 horas da vida de Castelo Branco. Isso ocorre porque o ex-presidente fora a Quixadá visitar sua amiga Rachel com quem cultivava estreitos laços de amizade.

Por fim conclui-se a leitura do livro como se o leitor tivesse feito uma viagem pela cidade de Quixadá e conversado com seus tradicionais habitantes. Esse percurso se traduz numa leitura da cidade como se cada rua fosse uma página escrita e como se cada habitante fosse parte deste grande texto. Afinal João Xavier de Holanda é um anfitrião que nos conduz a sua terra como se estivesse a reconstruir a cidade da sua infância e a infância da sua cidade.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 27/10/15.


 

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