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O Presidente Bossa Nova

Batista de Lima




Juscelino Kubitschek de Oliveira foi Presidente da República de 31 de janeiro de 1956 a 31 de janeiro de 1961. Foi um período de tantas realizações que concretizou-se seu objetivo inicial de consolidar o desenvolvimento de cinquenta anos em cinco. Uma das vertentes que entrou em ebulição no seu governo foi a cultura, mas também teve ele a vantagem de contar, no período, com o surgimento do cinema novo, do teatro de arena, com o auge da poesia concreta e da concretização do maior poema da época que foi a construção de Brasília. Foi um período em que as artes se deram as mãos como, por exemplo, a arquitetura e as artes plásticas.

Em 1958, o Brasil foi pela primeira vez Campeão do Mundo de futebol, na Suécia. Pelé, Garrincha e seus companheiros da Seleção se tornaram ídolos de uma nação que se empolgava com as transmissões esportivas pelo rádio. Era também nos rádios e nos discos de vinil em que a Bossa Nova cativava a juventude. Tudo isso com o entusiasmo em torno da construção de Brasília em que Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Israel Pinheiro formavam o trio de ouro da criação da nova capital do Brasil sob a batuta de Juscelino.

Como 1958 foi um ano de seca no Nordeste, levas de trabalhadores da região deslocaram-se para o Planalto Central que se transformou em um canteiro de obras. Foram esses candangos que construíram Brasília. Os que aqui ficaram, tiveram ajuda governamental em frentes de serviços monitoradas pelo DNOCS. De forma que ninguém morreu de fome diante das agruras da seca. Por isso que havia verdadeira veneração em torno da figura de JK. Isso não impedia, entretanto, do surgimento de tiradas de humor como por exemplo dizer que DNOCS significava "Deus Não Olha Cassaco Sofrer".

Juscelino foi cassado duas vezes. Primeiro, como Deputado Federal, perdeu o mandato com o golpe de estado de Getúlio Vargas. Depois, como Senador, teve seu mandato interrompido pelos militares da Revolução de 1964. Teve mais sorte como executivo pois conseguiu cumprir todo o mandato de Prefeito de Belo Horizonte, de Governador de Minas Gerais e de Presidente da República. Mesmo assim ainda queria ser Presidente pela segunda vez em pleno período da Revolução de 1964. Foi por essa ousadia que os militares não o perdoaram. Aí começou seu declínio.

Exilado na Europa e nos Estados Unidos, Juscelino teve seu mandato cassado por ordem de Costa e Silva e aprovado por Castelo Branco em quem havia votado para Presidente em eleição indireta. Mesmo assim, querendo voltar à presidência pelo PSD, seu partido a vida toda, tenta formar a Frente Ampla, aliando-se a seu adversário maior da época em que fora Presidente, no caso, Carlos Lacerda, da UDN. Isso decorre do fato de que Lacerda já se havia se desentendido com os militares que estavam no poder.

Essa vida repleta de episódios na cena política brasileira fez com que JK deixasse um legado histórico que tem sido estudado por muitos autores. Um deles, Ronaldo Costa Couto escreveu "O essencial de JK: Visão e Grandeza, Paixão e Tristeza", pela Editora Planeta, em 2013. São 300 páginas de relatos sobre a vida do ilustre filho de Diamantina. Outros autores também se debruçaram sobre o espólio biográfico do Presidente Bossa Nova como é o caso de Francisco de Assis Barbosa, Maria Victória Benevides, Cláudio Bojunga, Paulo Castelo Branco, Carlos Heitor Cony e muitos outros.

Juscelino tornou-se depositário de adjetivações. Seus biógrafos se esmeram em qualificá-lo tão generosamente que terminam por colocá-lo no andar maior da pirâmide de valores dos presidentes que o Brasil já teve. Entretanto, como a política cativa e vicia, nosso JK não se satisfez com o magnífico governo que desempenhou. Queria voltar a comandar o Brasil e lutou por isso. Liderou a Frente Ampla em plena Revolução, chegando a aproximar-se de um de seus maiores carrascos anteriores, no caso, Carlos Lacerda. Foi talvez seu maior fracasso na vida política. Terminou cassado.

Cassado e exilado injustamente, Nonô, como era chamado familiarmente, teve depressão, viu surgirem-lhe os males da maturidade de forma contundente. Ele que era médico urologista, paradoxalmente, teve problemas sérios de próstata. Mas o principal dos seus males foi a tesoura que cortou seu cordão umbilical com o feijão tropeiro e o queijo de Minas. Saudade, muita saudade de sua terra, e sua canção do exílio era o projeto de reconstrução democrática de um Brasil desfigurado nas mãos dos militares. Primeiro Costa e Silva, seu carrasco principal, e depois Castelo Branco, em quem votou no Congresso para Presidente. Fato é que no Brasil de hoje, tão carente de lideranças confiáveis, Juscelino faz muita falta. Morreu pobre, em um acidente suspeito, mas deixou o rico exemplo de como governar este país, fazendo em cinco anos o que muitos não fizeram em cinquenta.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 10/05/2016.


 

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