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O porto de Ednilo Soárez

Batista de Lima



O porto é o do Mucuripe; a cidade, Fortaleza. O tempo é recente, com celulares, iPads, tablets e sem radiopatrulha, pois é tempo de Ronda de Quarteirão, BP Raio, etc. Esses são alguns dos ingredientes que compõem o romance "Náufragos do porto", de Ednilo Soárez. Trata-se de uma obra realista de 322 páginas, da Expressão Gráfica e Editora, de 2016, em que o autor mergulha nos porões do tráfico de cocaína, mostrando que os que ali ingressaram não vão sair incólumes. O leitor também não escapa do livro: quem ousar começar a lê-lo está condenado a ir até o final da narrativa

É um texto em terceira pessoa, com elementos que se configuram como um romance policial, com o final aberto para o leitor continuar sua escrita. Daí que pode ser que alguém faça com que algum personagem envolvido na trama consiga se salvar. Mas como todos pagam pelos seus deslizes, pressupõe-se que o autor estabelece um cunho moral ao texto. Assim, alguns binômios vão se estabelecendo, como aparência e realidade, mar e terra, culpado e inocente, luz e sombras.

Nesse contexto portuário, desfila uma fauna humana composta de turistas, taifeiros, marinheiros, agentes de turismo, prostitutas, motoristas de táxi, cafetões, michês, crupiês, vendedores ambulantes, agentes de hotéis, funcionários e policiais. Dos atributos e conflitos entre esses personagens vão surgindo dramas humanos que Ednilo vai administrando como um profundo conhecedor do ambiente.

É a partir daí que ele cria o personagem Victor, agente e vítima das ações. Dr. Victor por conta dessa situação termina por carregar o estigma das contradições humanas. Victor perde a mãe por falta de recursos para levá-la a um Centro mais desenvolvido em medicina. Revoltado, aproxima-se do traficante francês Pierre. Ingressa em um mundo perigoso sem retorno. Termina por se envolver até com a máfia russa e paga caríssimo por isso. A princípio desfruta das benesses do lucro fácil do tráfico, mas o preço final sai caro. Não só se envolve, como coloca o estudante Cláudio no tráfico, mesmo com o alerta de Pierre de que essa vida não tem retorno.

Nesse mundo vertiginoso, há um certo código de ética, cuja quebra só se conserta com a tortura e/ou com a morte. Por isso que os distribuidores do "pó" seriam "pessoas discretas, que não apresentariam nenhuma ostentação. Nem por mera hipótese, poderiam se tornar usuários". O local da distribuição se configura um ambiente burguês em que "mauricinhos" bem endinheirados e frequentadores de baladas se apresentam como viciados contumazes.

Entretanto, por não haver crime perfeito, a máfia dos grandes traficantes, ao se sentir lesada com a invasão dos seus territórios, entra em ação e o estudante de Direito, Cláudio, que é distribuidor, se torna a primeira vítima de homicídio.

Para chegar à eliminação do distribuidor, a máfia das drogas possui seus elementos de destruição, homens frios e matadores cruéis e desumanos. Depois há o fato de que o autor revela que, nesse mundo que ele apresenta, não entra a maconha, que é consumida na praia, à noite, para que o vento dissipe seus vestígios. Acontece que os usuários do "pó" utilizam-se de carros e banheiros para protegerem seu vício. Nesses ambientes elegantes em que o dinheiro rola mais fácil e os consumidores são mais saudáveis e mais bem alimentados, o efeito das drogas é menos notado, mesmo sendo alto seu consumo.

Por todo o enredo do livro, o sonho de consumo termina por condenar aqueles que nele se embalam. Victor é exemplo disso, com suas viagens ao Caribe em cruzeiros caríssimos e sua decisão de abrir contas bancárias naqueles paraísos fiscais.

Também o policial federal Tonhão entra nesse esquema até ser eliminado. Victor escapa mas tem um filho sequestrado, uma filha envolvida com um traficante de onde sai mãe solteira, e uma esposa que se torna depressiva passando a rejeitá-lo. Tudo isso o autor tenta consertar no final mas não consegue porque esse final só se completa com a ingerência do leitor, e esse também não perdoa traficante pois é a moral ainda hoje".

Ednilo Soárez é reconhecido educador em Fortaleza, além de pertencer à Academia Cearense de Letras e ao Instituto do Ceará. Vivendo no meio educacional, sabe da importância da escola na formação da cidadania e no afastamento do jovem desse mundo perigoso das drogas. Por isso esse seu livro se torna de grande importância educacional pois é um alerta aos jovens, dos perigos que os entorpercentes trazem às suas vidas. E o pior é o envolvimento no mundo do tráfico. Portanto, a leitura de "Náufragos do porto" se torna de grande utilidade entre a juventude estudantil diante do crescimento vertiginoso do consumo de drogas no seio da juventude. Aí está pois um livro para ser lido e estudado nas escolas de ensino médio e nas Instituições de Ensino Superior. Ele pode afastar muitos jovens do perigoso mundo das drogas.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 14/02/2017.


 

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