top of page
  • Foto do escritorBatista de Lima

O poeta Pedro Bandeira


Batista de Lima


Seu nome completo é Pedro Bandeira Pereira de Caldas, profissão violeiro. Mas é bom saber que possui duas formaturas: Letras e Direito. Seu número de inscrição na OAB do Ceará é o 7755. Seu nascimento se deu no dia do trabalho, de 1938. É o mesmo dia em que nasceu José de Alencar, 109 anos antes. Os dois valorizaram muito este nosso Ceará, um no romance; outro, no repente. Afinal, mesmo tendo nascido na Paraíba, no município de São José de Piranhas, foi no Ceará, mais precisamente na Região do Cariri, que Pedro Bandeira se tornou um nome nacional, cantando o Nordeste, a religiosidade e o sofrimento da nossa gente resistente à seca.

Pedro Bandeira, neto por parte de mãe do famoso poeta popular Manoel Galdino Bandeira (1882-1955), nasceu em um ambiente poético. Daí que após os dezessete anos tornou-se cantador. Segundo seu biógrafo, Franco Barbosa, “as modalidades dos poemas populares que tem desenvolvido são: Mourão, Martelo Agalopado, Galope Alagoano, Galope à Beira Mar, Quadrão, Gemedeira, etc”. O biógrafo não citou a trova. Afinal o poeta é também um exímio trovador. Quando transferiu-se para Cajazeiras, Paraíba, iniciou-se no rádio, mas foi em Juazeiro do Norte onde veio fixar residência permanentemente.

Por 25 anos, cantou, em parceria com João Alexandre, em um programa de viola na Rádio Educadora do Cariri (Crato). Toda a região alcançada pelas ondas daquela rádio parava à tardinha para ouvir os dois famosos violeiros que nos fins de semana se revezavam pelo sertão em famosas cantorias nos sítios, distritos e cidades. Acontece que mesmo cantando nessa rádio do Crato, seu estúdio sempre foi em Juazeiro do Norte onde ainda hoje reside com a família.

Pedro Bandeira já possui mil folhetos publicados com poemas populares, além de doze livros editados, CDs e LPs. Com mais de meio século de profissão como violeiro, esse poeta, diante do sucesso que tem obtido, chegou a receber o título de “Príncipe dos poetas populares do Nordeste”. Montado nessa fama construída com a poesia que canta sua terra é que esse grande cantador hoje pode se orgulhar de ter cantado para um Papa e para cinco Presidentes da República. Cantou, no entanto, principalmente, para o pobre nordestino esquecido nas brenhas desse semi-árido brasileiro, servindo de cronista maior de desvalidos e analfabetos. Seu canto tem sido o refrigério dessas populações periféricas e também de qualquer um que aprecie o repente e preze pela poesia popular e pela genialidade dos repentistas.

Homem de cantoria, esse excelente repentista angariou reconhecimento também da intelectualidade, ao ser citado e elogiado por Jorge Amado, Câmara Cascudo e José Américo de Almeida. Até no exterior mostrou sua genialidade quando em companhia de Geraldo Amâncio cantou em Portugal a convite do Presidente Mário Soares. Ao lado de outros mitos da cena caririense, Pedro Bandeira já faz parte dessa galeria de notáveis personalidades marcantes nessa região como Padre Cícero, Patativa do Assaré, Luís Gonzaga, Frei Damião, Adauto Bezerra e Rosemberg Cariri. E aqui poderíamos citar inúmeras outras personalidades que mitificaram o Cariri, incluindo até o Rei do Cangaço, Virgulino Ferreira, tão polêmico cangaceiro que ainda se estuda sua personalidade. O Cariri consegue, na sua antropologia, somar o mítico com o místico, o que lhe dá vasta riqueza cultural.

Pedro Bandeira foi duas vezes eleito vereador de Juazeiro do Norte, tendo se destacado pela palavra fácil e pela defesa de causas culturais da Meca do Padre Cícero. Sua religiosidade levou-o, juntamente com Luís Gonzaga e o Padre João Câncio, à criação da Missa do Vaqueiro no município de Serrita (Pe), evento que já está agendado no calendário do turismo religioso da Região. Essa sua luta em prol da cultura popular do Cariri culminou com várias publicações de intelectuais que pesquisaram sobre sua poesia popular. Podemos citar Franco Barbosa, Padre Antônio Vieira e Joaryvar Macedo, que quando estava como Secretário de Cultura do Estado do Ceará, publicou “Pedro Bandeira, Príncipe dos Poetas Populares”. Esse livro de Joaryvar pode ser considerado até hoje a obra mais completa sobre Pedro Bandeira.

Além da cantoria, Pedro Bandeira também se dedicou ao magistério, tendo se aposentado como professor do Estado. Entretanto sua fama maior é como poeta de belas composições em versos rimados. Até cantores conhecidos gravaram músicas suas, como: Fagner, Trio Nordestino, Alcimar Monteiro e Luiz Vieira. A sua biografia, que já circula pelo Nordeste inteiro, é de autoria de Franco Barbosa. O título é “O poeta Pedro Bandeira mostra Juazeiro ao mundo”. Esse autor, professor universitário e pesquisador, é o criador do Movimento Raízes do Cariri. Esse seu livro, de 135 páginas, consegue apresentar o trabalho incansável de Pedro Bandeira em divulgar Juazeiro.

Esse livro de Franco Barbosa traz alguns dos mais conhecidos poemas de Pedro Bandeira. Com sua leitura já é possível detectar características do poeta. A mais presente é a religiosidade, principalmente em torno da figura do Padre Cícero. O leitor pode observar sua devoção já no primeiro poema que se intitula “Graça alcançada” em que ele já se refere ao seu Padre protetor: “Fiz uma promessa com meu Padre Cícero / Ao meu sacrifício ele me atendeu, / Paguei a promessa que prazer profundo / Ninguém está no mundo mais feliz que eu”. Depois vêm outros poemas na mesma temática como: “O cearense do século” e “Cinquenta anos da morte do Padre Cícero Romão”.

Outra característica da poesia de Pedro Bandeira é o seu telurismo, não dirigido á sua terra natal, mas á terra que lhe adotou. Juazeiro do Norte é glorificada pelo poeta. Sua gratidão pela acolhida recebida foi transformada em poesia. Difícil encontrar um poeta que tenha cantado com tanto afeto a terra do Padre Cícero. Esse seu empenho em cantar a cidade religiosa o torna como que embaixador do Cariri, centralizado em Juazeiro do Norte. Pedro Bandeira pertence ao grupo das pessoas privilegiadas pela inteligência exuberante. E o mais importante é que tem utilizado seu talento para cantar, levando alegria e encantamento a esse povo tão sofrido do Nordeste que acredita em Deus e nos homens de boa vontade.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 20/08/13.


 

3 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page