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O livro do Barão

Batista de Lima



Lourdinha Leite Barbosa lançou recentemente mais um livro para acrescentar à sua bibliografia crescente. Trata-se de "Barão de Camocim: uma história real tecida com os fios da imaginação". Daí dá para se concluir que alguma coisa saiu da imaginação da autora. O leitor, no entanto, não desconfia, em nenhum momento, de algo que não seja a mais pura verdade. Isso já é um mérito do livro, com suas 120 páginas, da Terra da Luz Editorial, de 2016. É um livro bonito, enriquecido com muitas fotografias históricas e trazendo impecável apresentação.

O livro traz a trajetória de vida de Geminiano Maia, o Barão, (1847-1916). E nessa última quinta-feira (02/02/2017), comemoraram-se os 170 anos de seu nascimento. Tanto os descendentes como os conterrâneos de Aracati não podem esquecer essa data diante da importância do Barão para o crescimento econômico do Ceará e o engrandecimento da cidade de Fortaleza, para onde ele se transferiu muito cedo e onde se destacou como um dos mais importantes comerciantes do seu tempo. É tanto que entre suas criações está o palácio que construiu para residir.

O belo livro de Lourdinha Leite Barbosa em nenhum momento cita o termo "Belle Époque" que nomeia o período de aformoseamente de Fortaleza. Acontece que essa terminologia não conta com a unanimidade da intelectualidade cearense quando trata da influência francesa sobre Fortaleza, na passagem do Século XIX para o século XX. Mas grandes equipamentos do nosso patrimônio histórico surgiram nessa época, conservando caracteres da cultura europeia, em especial o que vinha da França.

O teatro José de Alencar, o mercado de ferro, que dividido em dois, está na Aerolândia e no logradouro dos Pinhões, os casarões do Jacarecanga e uma infinidade de costumes, além da influência linguística do vocabulário francês, tudo isso mudou o aspecto da cidade. Também as exportações do algodão, em especial, teve como contrapartida a vinda de produtos europeus. Comerciantes como o Barão de Camocim e o Barão de Aratanha, além da família Boris fizeram a ponte Fortaleza / Paris. Também o Prefeito Moreira da Rocha marcou época nessa mudança para uma Fortaleza bela.

O livro de Lourdinha Leite Barbosa, escrito sob o signo do vento, o aracati, que vem do mar e se espraia pelo nosso Ceará, impressiona pela delicadeza como trata a figura do Barão. É tanto que o leitor visualiza mentalmente a figura de Geminiano Maia e termina por encontrar nele aspectos que vivenciamos um dia, e, principalmente outros que gostaríamos de ter vivido como ele viveu. Era um homem de gosto refinado, gentil, amante de sua terra e de uma larga visão de empreendedor.

Geminiano, o futuro Barão, começou sua vida profissional como caixeiro de famosa casa comercial que mantinha relações com grandes lojas europeias. Depois, com a parceria de dois irmãos, fundou a Casa Louvre. Essa loja de tecidos recebia produtos diretamente da França o que a tornou a mais importante casa de modas de Fortaleza. Nesse contato com a França, Geminiano apaixonou-se por Paris e casou-se com uma francesa. Rose Nini Liabaster foi sua grande paixão e deu-lhe a filha Cecília Liabaster Maia que viria a dar-lhe dez netos.

Tive a honra de ter sido aluno, na Universidade, de duas bisnetas do Barão. Nos anos 1970 estudei Francês com as professoras Maria Cecília e Maria Carmem, duas damas de finos hábitos, educação esmerada, e na época residindo ambas na Rose Villa, construção do Barão de Camocim em homenagem a sua Rose Nini. Por isso que Lourdinha Leite Barbosa teve que se empenhar na beleza do livro para que nós leitores ao adentrarmos suas páginas estejamos ingressando na Rose Villa construída com afeto, tecida com ternura, adubada com requinte.

Finalmente, tomando-se o tempo como um caritó das pessoas, pode-se considerar esse livro do Barão como uma preciosidade para constar no nosso armário. Isso porque não é apenas a figura do Barão de Camocim que nele se ergue para a nossa admiração, o que está nele é também um tempo de nossa Fortaleza. É o retalho mais precioso dessa colcha que é a história da Capital do Ceará. E para continuar no seu tear de fiação, o momento vivido por Geminiano Maia foi belo, romântico até. Por isso que a Rose Villa precisa ser preservada pois ela é um mamucado que liga o tecido da história da cidade com os punhos dessa rede de aconteceres que nós fortalezenses vamos sempre estar a confeccionar.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 07.02.2017.


 

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