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O lirismo de Teoberto Landim


Batista de Lima


Depois de publicar três livros de ensaios, dois romances e um livro de contos, Teoberto Landim acaba de lançar seu sétimo livro, desta feita, uma coletânea de poemas. Diante desta variedade de gêneros, o leitor fica curioso para conhecer essa sua nova incursão literária. E aí está "Noites acumuladas dos meus dias", noventa páginas de poemas líricos, editados pela Gráfica LCR, neste 2013. A primeira vereda por onde se pode alcançar a clareira da compreensão de seu projeto poético pode começar pela enigmática dicotomia que se apresenta logo no título, noite e dia, ou seja, sombra e claridade.

O surgimento dessa dicotomia diz respeito ao choque que lhe provoca o fato de viver oscilando entre o apolíneo e o dionisíaco na sua produção intelectual.

Três dos seus livros anteriores são de ensaios, em que a Teoria da Literatura é posta em prática. Seu doutoramento nessa área, além do magistério por décadas, na Universidade Federal do Ceará, e agora, depois de aposentado, militando como Conselheiro do Conselho de Educação do Estado do Ceará, leva-o ao mundo da ciência, povoada de regras e outras exigências formais. Por outro lado a prática da leitura dos clássicos da Literatura e o gosto pelas artes abrem-lhe caminhos para a subjetividade da arte poética.

É bem verdade que logo no início do livro ele afirma: "A verdade me tira / do sério". Essa afirmação traz um compromisso com a fantasia e faz o leitor lhe dar as mãos em fuga de uma realidade que teima em morder os calcanhares da alma. Essa fantasia, por mais inovadora que seja, possui um DNA da realidade. Começa logo pelo plano de expressão, em que um código linguístico cheio de regras e atrevimentos formais é uma carapaça do real. Depois, o zelo com que o autor trabalha o verso é prova de que realidades deparadas ao longo de seus estudos estão emergindo nos seus escritos.

É interessante sua confiança na palavra como elemento fundamental na sua construção poética. "A palavra diz que diz / da dor, do sofrimento / de cada vão / momento". Quando não está em evidência, a palavra, o silêncio entra em cena, como forma de expressão, um silêncio que vale ouro, verdadeiro ninho de metáforas, vazios que o leitor os torna repletos. Um desses silêncios está nas margens. São margens íntimas, transfiguradas em espaços que se abrem feito abismos e erupções na pele do texto. Daí que o poeta hesita e afirma: "Não sei se risco / ou se rabisco / minha alma / no papel". Aquela dicotomia inicial entre objetividade e subjetividade vem à tona.

Mesmo assim, como se trata de poesia, ele se monta na dúvida entre o que escreveu em livros anteriores e os reclamos da poesia. "Sei que vale / a pena, / na travessia, ver de volta / a fantasia colorindo / o novo dia." Esse seu lado revelador lança aos nossos olhos o eu lírico que se incrusta em revelações pessoais. "Sou sentimental, / não nego. / Cortina de seda / que o vento invade". Nesse poema que traz o título de "Impulsos", ele revela ser confessional, casmurro conveniente e abelhudo. Essas confissões, geralmente em primeira pessoa, revelam o lado emotivo do autor.

Nesse caminho do revelar-se, até a constituição do seu nome, Sebastião Teoberto Landim, é dissecado de forma poética no poema "Identidade": "O santo do meu nome / me vela / contra a guerra e contra a peste. / O segundo não é nome de santo, / mas de Deus, / que brilha no radical." Além desse trajeto pelas dimensões de seu nome, o poeta também transfigura cenários por onde transitou aqui e alhures. É o caso, por exemplo, de sua temporada na Alemanha e sua visão do Reno: "O Reno é um risco / azul / na cartografia. / Em suas águas / turvas / molhei minha saudade". Essa saudade é constante nos seus poemas.

Por falar em saudade, é difícil encontrar um poeta brasileiro que não seja marcado por essa característica. É por isso que Teoberto não fica apenas às margens do Reno com sua saudade. Em outros momentos do livro esse sentimento aparece, como no poema, "Momento vão", em que ele declara: "A saudade que rompe / no meu peito / produz sentido / para todas as palavras". Em outro momento, ele até brinca com essa saudade: "Dei um susto / na saudade, / um salto / na solidão". Há portanto uma constante saudade que o leva a recordar principalmente situações da infância.

O transcurso que leva a essa infância é pontilhado de armadilhas para segurar o tempo. Memória é cabresto para Cronos. Daí o poeta verberar que "o tempo existe / e pode ser medido". Essa medição implica um certo controle da sanha corrosiva do tempo. Essas características na poesia de Teoberto Landim alcançam a centralidade culminante quando ele descobre que todas se centram no seu embate com a palavra. "Resta-me a palavra perseguir / conciliar destinos / no balanço destes dias / mal vividos". Essa sua confissão revela que a palavra é que desbrava caminhos para uma catarse em que a salvação dos seus dias está nas metáforas que brotam das noites acumuladas.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 05/11/13.


 

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