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O genealogista Fernando Monteiro

Batista de Lima


Fernando Monteiro foi lá no arquipélago dos Açores para encontrar a origem de sua família. Para isso teve que mergulhar no tempo até 1679 a fim de encontrar o mais antigo ancestral conhecido de sua família que veio a povoar posteriormente grande parte do Ceará. Essa viagem, em direções horizontal e vertical, como quem navegasse sintagmas e paradigmas, nados e mergulhos, diacronias e sincronias, resultou numa pesquisa agora publicada com o título "Uma família açoriana no Ceará - genealogia da família Castro e Silva". A publicação é da Expressão Gráfica e Editora, que com suas 342 páginas, encerrou o ano de 2013, presenteando o leitor cearense com a publicação mais alentada do ano. Isso se comprova pelo fato desse ser o volume I, da pesquisa, e ao tamanho do livro com suas páginas escritas em letra reduzida.

O Prefácio é do historiador Eduardo Bezerra Neto, do Instituto do Ceará, que qualifica Fernando Monteiro como "criterioso Historiador", concluindo que "a precisão matemática que presidiu seus trabalhos como Engenheiro foi convertida em precisão documental". Já no Comentário Inicial, o autor define, criteriosamente, sua metodologia de pesquisa, como se estivesse trabalhando uma tese de doutoramento. Não se tem dúvida de que entre a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo, além da impecável elaboração textual, nada menos que uma década deve ter sido gasta para equacionar o quantitativo e o qualitativo dessa história familiar que é parte significativa da própria história do Ceará.

Para respaldar a história da família Castro e Silva, seu descendente pesquisador vai vasculhar suas raízes lá no arquipélago dos Açores, começando pelos seus aspectos geográficos. Depois vem a descrição das origens das famílias do arquipélago em que se originou o clã dos Castro e Silva. Para isso ele apresenta os aspectos históricos, bem como o povoamento e a colonização daquelas ilhas. Fala também sobre seus sistemas administrativos e a imigração. É nesse momento de sua narrativa que há a mudança da família para o Ceará, mais precisamente para as vilas do Aracati e de Sobral. A partir dessas localizações, Fernando Monteiro passa a se ocupar do genearca José de Castro e Silva I e de José de Castro e Silva II, pai do Major Facundo.

O Major Facundo, ou João Facundo de Castro Menezes, nasceu no Aracati a 12 de julho de 1787. Mudando-se para Fortaleza, foi aqui em que empreendeu sua militância política no partido Liberal exatamente nos momentos mais cruciais da história do Ceará. Nesse período ocorreram as Guerras da Independência, a Confederação do Equador, a Abdicação de D. Pedro I, a Sedição de Pinto Madeira, as Regências e a maioridade forjada de D. Pedro II. Major Facundo chegou inclusive às rédias do Governo em 1831, ficando assim exposto às lutas entre liberais e conservadores. Chegou a assumir o governo por quatro vezes por pequenos períodos. Finalmente na noite de 8 de dezembro de 1841, às 19h30min, Major João Facundo de Castro Menezes foi assassinado com um tiro de bacamarte quando por um curto momento parou na janela de sua residência.

Além do Major Facundo, outros vultos ilustres pontificam nessa grandiosa família como o cônego Castro e Silva que fez parte do grupo "Os Oiteiros", ao lado do governador Sampaio, de Costa Barros e Pacheco Espinosa. A esse grupo literário é atribuído o nascedouro da Literatura Cearense, em torno de 1812. Outro escritor seu ancestral é Adolfo Caminha que no final do século XIX escreveu "A Normalista" e "Bom-crioulo", além de ser um dos fundadores da Padaria Espiritual. Só o Visconde de Saboia com sua trajetória de vida dedicada à medicina e à política seria suficiente para preencher centenas de páginas com sua biografia, trabalho de resgate que já foi empreendido e editado por Gerardo Cristino Filho e Giovana Saboya Mont'Alverne.

Essa preocupação do pesquisador Fernando Monteiro demonstra que o livro não é apenas uma árvore genealógica. Ele traz muitos fatos históricos do Ceará, principalmente ligados à política e à luta pelo poder. Da família estudada surgiram deputados, prefeitos, senadores e até governadores do Ceará. João Tomé de Saboia e Silva foi um governador, assim como Pedro Augusto Borges e o Major Facundo. Senadores, foram muitos e deputados federais muito mais. Além disso, médicos e sanitaristas importantes pontificaram nessa família estudada. Esse livro não se ocupa, no entanto, apenas com os destaques das famílias Castro e Silva, Saboia, Borges, Studart, etc. Essa pesquisa apresenta também os familiares de cada personagem que vai aparecendo. Todos os componentes da estripe originada com o Genearca José de Castro Silva I, nascido em 1709, nos Açores, até o Plínio Santiago de Sá Leitão, nascido em 1927, em Fortaleza, que encerra o volume I dessa pesquisa, toda a família é contemplada no livro. São filhos, netos, bisnetos, trinetos e quadrinetos com seus nomes aparecendo na pesquisa.

Todo esse conglomerado de dados e fatos vem respaldado por uma bibliografia contendo o que há de mais acreditado em termos de História Cearense e de genealogias de Aracati, Sobral e Fortaleza. As lutas entre liberais e conservadores, no período imperial foram tão acirradas que parecem ter alertado as gerações atuais para o que não se deve fazer em disputas políticas. Depois, mesmo com a República proclamada, as querelas sobralenses entre D. José Tupinambá da Frota e José Saboia e outros políticos de menor quilate, demonstraram que nós cearenses temos demorado a incorporar no nosso dia-a-dia os ensinamentos da democracia. Por isso que esse livro de Fernando Monteiro vai muito além de uma simples árvore genealógica. É um dos mais sérios, ricos e imparciais levantamentos em torno da formação social de nossa gente.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 08/04/14.


 

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