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O Eco de Umberto

Batista de Lima


São pois variados os ecos do mesmo Umberto. Afinal ele tem transitado com genialidade pela semiótica, pela estética, pela linguística, pela história da literatura, pela cultura de massas, pela narrativa literária e pela metodologia do trabalho científico. Em qualquer dessas áreas, seus livros são referências obrigatórias no mundo inteiro. A partir da publicação em 1980 de seu romance O nome da rosa, mais quatro outros vieram a lume, todos com sucesso de leitores.

Aos 30 anos, em 1962, Umberto Eco deu um salto para a notoriedade ao lançar seu livro "Obra aberta". É um manual de semiótica, linguística e estética que deu rumos à teoria da literatura. Nunca mais o leitor foi tratado como elemento passivo diante da obra literária. Ele passou a ser visto como coautor do que lê, um continuador da escritura. O ato de leitura passou necessariamente a ser complementado com o ato da escritura. Algum tempo depois a Estética da Recepção veio trazer a culminância da valorização do leitor diante da obra lida e do horizonte de expectativa que se instaura nesse leitor. As mais variadas vertentes artísticas foram a partir de então influenciadas pelos conceitos de Umberto Eco.

São pois variados os ecos do mesmo Umberto. Afinal ele tem transitado com genialidade pela semiótica, pela estética, pela linguística, pela história da literatura, pela cultura de massas, pela narrativa literária e pela metodologia do trabalho científico. Em qualquer dessas áreas, seus livros são referências obrigatórias no mundo inteiro. A partir da publicação em 1980 de seu romance "O nome da rosa", mais quatro outros vieram à lume, todos com sucesso de leitores.

Italiano, da cidade de Alexandria, Eco sempre esteve vinculado à Universidade de Bolonha, a mais antiga do mundo, lecionando principalmente a disciplina Semiótica. Por isso que ao lado de Peirce forma a dupla principal dos estudos semióticos de todos os tempos. Isso não impede de circular como conferencista nos principais centros universitários internacionais bem como ter seus escritos disputados pelos periódicos mais conceituados.

Entre suas muitas ideias, ele vaticina a respeito do futuro do livro. E como bibliófilo inveterado apregoa que o livro jamais vai se acabar, apesar da invasão das nossas vidas por mídias as mais sofisticadas. Na sua defesa da folha impressa, chega até a brincar, ao dizer que um computador desprendendo-se de nossas mãos se espatifa no chão. O livro, no entanto, ao cair, continua o mesmo. Umberto Eco é um amante dos livros e seu mundo é o do papel impresso.

O interessante, no entanto, são seus conceitos que vão se alastrando a cada dia. A sua análise do discurso é adotada por aqueles que acompanham seus escritos. O que ele chama de discurso aberto, propício à arte, nos permite uma análise individual daquilo que nos encanta. Subjetivo e ambíguo ele nos permite variadas interpretações. Valoriza a imaginação e faz com que a mensagem estética fuja do predeterminado. No entanto se algum apressado imaginar que essa liberdade leva a alguma irresponsabilidade, ele já alerta de que esse "discurso aberto é um apelo à responsabilidade".

O contraponto a esse "discurso aberto" está no que ele denomina de "discurso persuasivo". É aí que ele mostra sua simpatia por Jakobson ao ver nesse discurso uma função referencial ou ainda apelativa já que ele inclui a linguagem publicitária como forte componente desse discurso, tendo em vista que praticamente não nos deixa opção de escolha. Somos manobrados, manipulados por uma mídia que determina o que é bom para nós. O que se observa é que esse discurso persuasivo tem algo de conservador que o discurso aberto não tem. Ele trabalha com estruturas definidas, aliena o cidadão a fórmulas, códigos e leis, dando-lhe poucas opções de fugir de estruturas predeterminadas.

A sua visão da ditadura da moda dentro do universo dos signos nos leva a outra das suas influências que é a semiologia de Barthes. Os mitos do consumismo tão bem trabalhados por Roland Barthes, além de nos alertar para uma "insatisfação" da fome de consumo, levaram Eco a concluir que a publicidade ao instigar essa "fome", nos induz a comprar aquilo que já desejamos e a desejar aquilo que não desejamos.

Para Umberto Eco, um dos clássicos primeiros da análise do discurso persuasivo tem sido a "Retórica", de Aristóteles, por não ser apenas um manual de persuasão, mas por ser também "uma denúncia científica e pública das técnicas de persuasão". Segundo Aristóteles, "é normal que o cidadão seja persuadido, mas deve saber de que modo o persuadimos". Como ficaria hoje o grande filósofo grego diante da avalanche de mídias subliminares que invadem nossas mentes sem pedir licença.

Assim, é importante conhecermos o papel revolucionário das vanguardas que segundo Eco é quem "renova continuamente as modalidades de uso do código linguístico comum". Por mais alienantes que sejam esses códigos é o discurso aberto dos artistas que lhe rompe os diques de conservadorismo. Não há, pois, código totalmente indevassável ao olhar de insatisfação de um artista. As transformações que nos levam a avançar na criação de novos mundos são resultantes de uma insatisfação humana diante do que está posto. O mundo dos signos evolui numa velocidade tão grande que há vinte anos jamais poderíamos imaginar estarmos hoje numa malha labiríntica tão grande que um grande olho, de um grande pai nos observa onde quer que estejamos.

O entendimento desse despencar, ou alçar voo nessa vertigem atual acelerante passa pela necessidade de se verificar que a "Obra Aberta" de Eco, próxima a chegar ao seu cinquentenário, ainda é uma tábua de salvação lançada diante do nosso afogamento. A sua reproposição de "conceitos de comunicação, informação, abertura e alienação" continua viva, utilitária e uma mão estirada para a nossa compreensão deste mundo em redemoinho que produzimos e precisamos entender. Essa aceleração não precisa de freios mas é necessário que alarguemos a estrada que trafegamos. Umberto é ainda um guia indispensável nessa correnteza que não dominamos, pois o Eco do seu grito é farol que nos orienta.


jbatista@unifor.br

19/01/10.

 

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