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O cangaceirólogo Heitor Macêdo

Batista de Lima


O Cariri Cangaço já existe há uma década. Muitos estudos sobre o assunto já foram feitos. Faltava, no entanto, uma pesquisa sobre a etimologia da palavra “cangaço”. Foi então que Heitor Feitosa Macêdo debruçou-se sobre o tema e vasculhou várias publicações em que o termo “cangaço” veio a ser estudado. Toda essa pesquisa resultou em um criterioso ensaio que traz como título, “O Cariri nos estudos sobre a etimologia da palavra Cangaço”. O texto de 32 páginas está publicado na revista “Itaytera”, número 48, publicação do Instituto Cultural do Cariri, ICC, de 2019.

Ele começa e termina seu ensaio, citando a mais viável interpretação etimológica do termo, oriunda de afirmação de Gustavo Barroso. Segundo esse famoso escritor cearense, que chegou a ser Presidente da Academia Brasileira de Letras, “Cangaço” é uma junção de “canga” mais “aço”. Essa interpretação tem sentido, pois se sabe que o transportador do rifle, muitas vezes o coloca sobre os ombros, por trás da cabeça, usando-o para descanso dos braços durante as longas caminhadas. Da mesma forma o sertanejo carregava as duas latas d’água, com um pau pousado sobre os ombros.

O próprio Heitor chega a pôr dúvida sobre essa interpretação, diante das dificuldades que o transportador da arma teria diante da mata fechada muitas vezes enfrentada. Isso porque muitas vezes os homens armados usavam uma correia, tipo um cinto, e colocavam a arma em posição vertical, ocupando apenas um ombro. Assim, o rifle, a carabina ou a espingarda ficavam com a boca do cano para cima, o que até evitava acidente. Nessa linha de raciocínio atua Câmara Cascudo quando afirma, segundo o autor, que cangaço é o conjunto dos utensílios do cangaceiro: armas, bornais, meizinhas, munições, tarecos e alimentos secos.

Segundo Francisco Fernandes, no seu, “Dicionário de Sinônimos e Antônimos da Língua Portuguesa”, e patrono da cadeira que ocupo na Academia Cearense da Língua Portuguesa, sua significação de “cangaço” traz similitude com a de Câmara Cascudo. Para ele, trata-se de “engaço, bagaço, cango, canganho e tarecos”. Essa definição é transcrita pelo pesquisador Heitor, bem como a de Raimundo Girão que atribui “cangaço” à carcaça do animal morto depois de consumido pelos urubus. Esse termo era muito utilizado pelos vaqueiros na minha infância sertaneja que ao observar urubus festejando nos céus, iam observar e voltavam dizendo ter encontrado o “cangaço” de uma rês que havia morrido.

Depois dessas e de outras definições etimológicas de “cangaço”, Heitor Feitosa Macêdo faz a ponte para o “cangaceiro”, comparando-o com o “jagunço”, ao usar as definições de Frederico Pernambucano de Melo. Segundo Frederico, existem três tipos de cangaço: o cangaço meio de vida, o de vingança e o de refúgio. Os três tipos possuem uma independência, o que não acontece com o jagunço que vive a serviço de um grande fazendeiro, um coronel. Já com relação aos tipos de cangaço, o meio de vida é aquele que fez da vida de cangaceiro uma profissão. O de vingança se aproxima do bando com o intuito de vingar algum crime de que foi vítima. Já o de refúgio ocorre com criminosos perseguidos pela polícia e que procuram proteção.

Respaldado por farta bibliografia, Heitor garimpa pelas mais diversificadas fontes para fundamentar sua pesquisa. Vem da Idade Média até aos recônditos do Nordeste colhendo saberes sobre o tema. Até das línguas indígenas ele vem de colher interpretações do fenômeno. Isso se faz necessário por ter sido no agreste nordestino em que mais frutificou o cangaço, principalmente em locais em que habitaram nações indígenas. Mesmo expulsos ou trucidados, a cultura primitiva deixou suas marcas até hoje. Heitor Feitosa Macêdo com mais essa pesquisa comprova ser, na sua geração, o melhor estudioso de nossas raízes históricas.


jbatista@unifor.br.

22/10/19.

 

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