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O Binóculo

Atualizado: 20 de out. de 2020

Batista de Lima



O Regime Militar instalado no Brasil em 1964 endureceu a partir de 1968 com a lei da censura. A imprensa foi o setor mais vigiado, o que levou ao surgimento de muitos veículos alternativos para a divulgação da criatividade dos intelectuais da época. Jornais e revistas proliferaram pelo Brasil, sendo distribuídos principalmente pelos Correios. Era a Literatura Marginal, Alternativa e até a Xerox Generation. Entretanto, com a abertura política, muitos desses veículos desapareceram.

Alguns, porém, teimosamente, persistiram na luta pela promoção literária sem mudar seu modelo de divulgação.

Em Fortaleza, em que vicejaram O Saco, Nação Cariri, Um Jornal Sem Regras, Arsenal, O Porão e outros, veio a sobreviver O Catolé, apenas. Foram mais de 100 números mensais em que esse jornal, fundado por Dias da Silva, conseguiu circular entre seus leitores especiais, trazendo criação literária e resenhas. Quando parou de ser editado, o mesmo Dias da Silva fundou seu sucedâneo, no caso o Binóculo, mensário cultural, nascido em 1999, que chega agora ao seu número 200. Juntando os dois jornais criados pelo Dias, nós temos mais de 300 números que circularam entre fieis leitores.

O Binóculo é produzido nos mesmos moldes como era feito O Catolé. O público leitor é em grande parte o mesmo dos dois jornais. A diferença é que o primeiro possuía assinatura paga; no de agora, a assinatura é gratuita. Acontece que as exigências dos leitores são as mesmas. Quando o Binóculo atrasa alguns dias, há leitor que aciona o professor Dias, de forma veemente, contra o atraso como se estivesse pagando pelo jornal. Isso demonstra, por outro lado, a fidelidade desses leitores que recebem mensalmente, pelos Correios, o jornal impresso e remetido sob as expensas do incansável professor e escritor Dias da Silva.

Dias da Silva, conhecido pelos mais próximos como Ivonildo Dias, publica, no expediente do jornal, o seu endereço eletrônico que é ivonildodiasdasilva@gmail.com. Por esse endereço chegam-lhe as mais variadas correspondências, inclusive os textos para publicação. É tanta matéria recebida que ele gasta preciosas horas para selecionar o que vai ser editado. Mas não é esse apenas o seu trabalho. Contacta com a gráfica, revisa os textos e, estando prontas as centenas de exemplares, lá vai ele agilizar, etiquetando com endereços, para finalmente colocar nos Correios.

Esses endereços não são apenas locais. Há muitos de outras cidades de vários estados do Brasil. Há, inclusive, exemplares mandados para outros países da América, da Europa e da Ásia. Na Corea do Sul, seu filho Soleimam Dias, além de receber o jornal, às vezes o reproduz para brasileiros que estão por lá e em suas viagens por países vizinhos, a trabalho, também divulga o Binóculo. Toda a família Dias, bem como os conterrâneos mangabeirenses e a classe intelectual gostam de ler o Binóculo e admiram a abnegação de Dias da Silva em mantê-lo vivo.

Os textos publicados nesse jornal impresso são de vários gêneros. Há contos, resenhas, notícias, poemas, cordel, etc. Quanto às poesias, não importa o estilo, mas sim, a qualidade. Um soneto parnasiano pode vir ao lado de um poema surrealista. O importante é que ambos possuam qualidade literária. Quanto aos autores que aparecem nesse número 200, dá para concluir que as colaborações são das mais variadas origens. A página inicial sempre é do Dias da Silva pois, merecidamente, ele é quem edita o jornal. Seus textos são geralmente de crítica de livros.

Nas outras páginas do jornal, o leitor encontra, nesse número de aniversário, o escritor Sânzio de Azevedo, doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro da Academia Cearense de Letras, historiador maior da Literatura Cearense. Professor Sânzio como docente por longos anos da Universidade Federal do Ceará e da Universidade Estadual do Ceará, sempre lecionando literatura, é um articulista que engrandece o jornal. O mesmo pode-se dizer dos autores desse número: Januário Bezerra, Jacob Fortes, Francilda Costa, Clauder Arcanjo, Francisco Carvalho (Poeta maior), Nonato de Castro e outros.

Esse número 200 poderia trazer texto sobre a longevidade do Binóculo e o trabalho hercúleo do Dias da Silva para mantê-lo em atividade. Acontece que a humildade do Dias não permite marketing pessoal. O que nós leitores pretendemos é que o jornal continue sendo confeccionado. Que o Dias não perca seu ânimo, afinal, é difícil encontrar espaço, na grande imprensa, para sonetos, trovas, resenhas e contos. Enquanto isso, o Binóculo continua abrindo suas páginas para iniciantes e veteranos que não dispõem de espaço em outros veículos.

Parabéns, pois, para o Dias da Silva, e que o Binóculo tenha longa existência.


FONTE: Diário do Nordeste - 18/09/2018.


 

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