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Literatura e aprendizagem

Batista de Lima



Houve um tempo em que o ensino de Literatura se desenvolvia em torno do conhecimento das biografias dos autores clássicos e da leitura de seus textos. Os professores se preocupavam com a história da Literatura. Os alunos pacificamente eram apenas receptores daquele amontoado de informações e leitores de obras consagradas pelo cânone, em antologias de âmbito nacional. O ´index´ era um cardápio de textos com o tempero dado por intelectuais do sudeste que freqüentavam a confeitaria Colombo e a livraria Garnier, no Rio. Hoje o estudo da Literatura tem interdisciplinaridade com o estudo da Língua Portuguesa e, principalmente, com a Produção Textual e com a História. Estudar Literatura hoje é fazer parte de um processo de aprendizagem que vai da leitura à produção do texto. O leitor só completa seu ato de leitura no momento que re-escreveu o texto lido. O leitor precisa criar a partir do que foi captado do texto lido. O texto lido é um pretexto que alicerça o texto novo. Atentos a esses novos tempos, é que jovens professores de Literatura estão descobrindo talentos que surgem em suas salas de aula. Há uma nova geração de escritores que, não fora o instigar dos mestres, ficaria amofinada com papeluchos a mofar nos fundos das gavetas. Daí que vão surgindo a cada dia, coletâneas literárias produzidas em colégios cujo corpo docente conta com professores de visão. É o caso por exemplo dessa seleta que me chega às mãos, com o título de Literatura de aprendiz, organizada pelo professor Nonato Costa. Professor Nonato Costa é especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pela UECE, lecionando, no momento, no Liceu Edson Queiroz, em Cascavel. Como membro do Grupo de Pesquisa Protexto da UFC, desenvolveu sua prática com os alunos do 2º e 3º anos da escola em que leciona. Nominou seu projeto de ´Aluno Escritor´ e teve o coroamento de seu trabalho através, agora, da edição dessa antologia em que germinam contistas, cronistas e poetas. São garotos e garotas de Cascavel que coroaram seus momentos de leitura com a criação de seus próprios textos. Segundo explicações do professor Nonato Costa, ´num primeiro momento, textos de autores consagrados de nossa Literatura são apresentados aos alunos, que acompanhados pelo professor, realizam leituras e interpretações críticas, pesquisas, análises literárias e principalmente descobrem os aspectos estruturais e textuais que emolduram os gêneros trabalhados. Num segundo momento, o aluno passa a produzir seus próprios textos e através de orientações do professor, escolhem o gênero com que mais se identificam e realizam suas próprias produções literárias´. Com os melhores textos em mãos surge outra dificuldade que é a edição do material. Essa dificuldade aumenta pelo fato de ser um projeto desenvolvido numa escola pública, encravada em uma cidade do interior do Ceará. Inteligente, o professor verifica que o nome da escola é uma homenagem a um filho da terra que se tornou o maior empresário da história cearense e que antes de falecer não deixou de aquinhoar sua cidade natal com uma das empresas do grupo, encarregada do beneficiamento de castanha de caju. A partir daí, não foi difícil conseguir a parceria da Fundação Edson Queiroz que através de sua Universidade de Fortaleza, editou o opúsculo com 75 páginas de bons textos produzidos pelos alunos e pelo professor. Aliás, dos 31 publicados, seis são de autoria do professor Nonato Costa, ou seja, coerentemente, ele está conseguindo, por escrito, dos seus alunos, aquilo que ele também faz. Ao escrever também seus textos, o professor está dando um exemplo para seus alunos. Primeiro ele faz, depois cobra dos seus discípulos. Os poemas selecionados são da autoria de Jendi Lima, Marcos Paulo da Silva, Leonildo Cerqueira, Charles Vale, Jair Silva, Graciane Trajano, Marina Moreno e Evandro Trajano. Acrescente-se aqui o destaque entre os textos poéticos de ´Feito uma árvore´, de Natália Santos Moreira, que pode figurar em qualquer antologia dos nossos grupos literários. Com relação aos contos e crônicas, verifica-se ser o momento culminante do livro. Parece que o gênero literário mais propício aos iniciantes para se cobrar e encontrar qualidade, responde pelas narrativas. É aí onde estão os melhores textos. Primeiramente, é obvio que se destaquem a boa qualidade narrativa e o preparo formal dos textos do professor Nonato Costa. Depois vão surgindo os bons textos de Dilean Mendes, Jair Silva, Antônio Celso Domingos, Leonildo Cerqueira, Leidinice da Silva, Natália Santos Moreira, Leonardo Santos, Aurenir de Queiroz, Cristina Araújo, Kátia Ferreira, Ruya Mayra, Jecicleide dos Santos, Jesicléia Santos, Kalliny Berklim e Afonso Queiroz. Como diz a professora Hilcélia Gomes Moreira, no prefácio do livro, para se ter sucesso nesse tipo de empreendimento de aprendizado, necessário se faz que o professor se torne cúmplice do aluno, na sua vontade de criar. É essa cumplicidade professor/aluno, tão bem desenvolvida por Nonato Costa, que serve de exemplo para muitas outras escolas públicas ou particulares onde os alunos apenas como receptores de saberes são tolhidos no seu potencial criativo que é o coroamento do processo ensino/aprendizagem.

 

08/04/2008.

 

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