top of page
  • Foto do escritorBatista de Lima

Literatura Cearense hoje

Batista de Lima


Esse não é o único problema para nosso livro cearense. Fortaleza tem recebido filiais de duas grande livrarias do Sul, que não veiculam o autor cearense. São livrarias modernas com milhares de títulos internacionais, traduzidos, e alguns nacionais midiáticos e nada do Nordeste, tampouco do Ceará. Diante pois desse panorama entristecedor não se pode negar a brisa que se torna a proliferação de academias em nossa Capital. Há avanços e retrocessos marcando a Literatura Cearense no momento. Uma primeira discussão que surge é com relação a esse rótulo, Literatura Cearense. Será que diante das novas tecnologias, da globalização e das facilidades de edição, é possível se pensar, sem reservas, numa literatura eminentemente local? Esse bairrismo não levará a um regionalismo exacerbado? Houve um tempo de uma literatura nossa em que o regionalismo predominava. Logo essa discussão não vai levar a conclusões satisfatórias. Portanto é melhor se pensar no que está acontecendo de avanço e de retrocesso no momento.

Boa notícia de agora é a realização da Bienal do Livro daqui a alguns dias. É um momento raro entre nós porque é uma festa de livro a que só temos direito de dois em dois anos. Espera-se que nessa próxima, haja uma ênfase na literatura para crianças pois se quisermos leitores no futuro, temos que começar a produzi-los agora. Uma criança que cria gosto pelos livros se torna um adulto leitor. A Bienal é um laboratório de produção de leitor. Depois há o cordel. Esse tipo de literatura popular precisa ser valorizado porque ainda é nossa grande crônica sertaneja.

Com relação ao autor cearense poderia haver um espaço reservado para exposição de nossa produção recente e reedições, lançamentos localizados e participação dos autores dialogando com seus leitores. Esse diálogo teria efetividade maior se os estudantes de nossos cursos de Letras entrassem em permanente contato com nossos escritores como forma de, futuros professores que se tornarão, veicularem nossas produções na lista dos paradidáticos das escolas da terra. Existe uma certa aversão dos nossos mestres de língua e literatura com os textos de cores locais, principalmente nas escolas da rede privada de ensino. Por outro lado há um certo distanciamento entre os autores e os professores. Há professor de nossas escolas que tem mais aproximação com autores de fora do que com escritores locais.

Foi para encurtar essa distância que alunos da disciplina Literatura Cearense andaram procurando autores locais para encetar promoções dos seus livros. O autor cederia exemplares de seus livros, suficientes para a turma toda, e então essas obras, após lidas, eram discutidas em sala de aula. Isso leva à descoberta de bons textos que posteriormente estarão sendo utilizados em turmas de ensino fundamental e médio, tendo em vista que essa garotada está ingressando no mercado de trabalho como professores de Português, Literatura e Leitura com Produção de Texto.

Isso faz com que alguns autores que estão com seus livros amontoados em casa, para alegria das traças, possam dar andança a seus escritos e ter um retorno em termos de análise sincera daquilo que estão produzindo. Esses alunos andaram peregrinando em busca desses escritores locais, e alguns até que aderiram à promoção, cedendo exemplares de seus livros para estudo. Segundo eles, foram adquiridos gentilmente desses autores, em torno de cinquenta exemplares de cada título o que foi suficiente para contemplar a turma inteira. Também como nem todo autor mostrou interesse pela campanha, eles fazem questão de enumerar aqueles que aderiram, como é o caso de Nilto Maciel, Gizelda Medeiros, Tereza Leite, Luciano Maia, Valdemir Mourão, Ary Albuquerque, a Academia Cearense de Letras e o Grupo de Literatura As Traças. Esse material foi estudado, e belos textos foram encontrados, o que abriu caminho para o ingresso dessa literatura nas escolas onde eles atuam.

Notícia não muito boa para o autor local foi a adesão total da Universidade Federal do Ceará ao ENEM. Sabe-se que essa Universidade vinha colocando autores locais na lista dos livros para o concurso. Agora, no entanto, essa promoção fica impossibilitada pois a prova geral do ENEM vai ser elaborada fora dos nossos domínios o que vai voltar a beneficiar apenas aqueles autores que militam nos grandes centros como Rio, São Paulo e Brasília. Essa prova geral do ENEM prejudica as manifestações regionais da cultura e privilegia os centros mais acobertados pela mídia.

Esse não é o único problema para nosso livro cearense. Fortaleza tem recebido filiais de duas grande livrarias do Sul, que não veiculam o autor cearense. São livrarias modernas com milhares de títulos internacionais, traduzidos, e alguns nacionais midiáticos e nada do Nordeste, tampouco do Ceará.

Diante pois desse panorama entristecedor não se pode negar a brisa que se torna a proliferação de academias em nossa Capital. Afinal quase todas cultuam uma valorização da leitura e a edição de livros, revistas e jornais literários. Outro avanço fica por conta dos editais da Secretaria de Cultura, destinando milhões de reais para seleção e edição de livros de autores locais. No seu rastro estão os concursos literários que são muitos entre nós. Mais uma vez, no entanto, é bom frisar, tudo isso encalha no momento da distribuição desse material interna e externamente, e principalmente na promoção da leitura. É preciso criar leitores. Uma literatura não existe se não for cristalizada com a existência de leitores com fome de leitura. Nós precisamos de leitores, livros já temos.


jbatista@unifor.br

16/03/10.

 

1 visualização0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page