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Literatura Cearense, do CLÃ ao SIN

Batista de Lima




Na década de 1940, o ambiente literário cearense entrou em ebulição, com o surgimento do Grupo Clã: Cooperativa de Literatura e Arte ou Clube de Literatura e Arte, exatamente em 1942. É preciso, no entanto, que se apresentem alguns caracteres que vieram provocar o surgimento desse grupo e sua longevidade. Primeiramente a afetividade entre os participantes. Foi um grupo que primeiro cultivou a afetividade entre os seus membros, para depois partir para a efetividade. Aluísio Medeiros era amicíssimo de Antônio Girão Barroso, próximos até ideologicamente; Martins Filho, irmão de Fran Martins; Fran Martins casado com Lúcia Martins, única mulher do grupo. Artur Eduardo Benevides, primo de Eduardo Campos; Moreira Campos e João Clímaco Bezerra com a infância e a adolescência vividas no mesmo momento em Lavras da Mangabeira. Os outros componentes do Clã, Braga Montenegro, José Stênio Lopes, Milton Dias, Mozart Soriano Aderaldo e Otacílio Colares tinham muitas afinidades. Eram profissionais liberais ligados à Faculdade de Direito e posteriormente à Universidade Federal do Ceará, ao Curso de Letras e à Academia Cearense de Letras. Mas o grupo reuniu-se por pouco tempo, o que o manteve em evidência foi a "Revista Clã" nos seus 29 números, graças principalmente ao esforço de Fran Martins.

Teve, esse grupo, o mérito de cristalizar o Modernismo no Ceará, na sua fase construtiva, correspondendo no resto do Brasil à Geração de 45. A intensiva fertilidade literária de seus componentes pode ser atribuída também ao desassossego que reinava no mundo intelectual cearense da época. Primeiro, a Ditadura Vargas com a repressão política comandada por Felinto Müller, depois a 2ª Guerra Mundial e a consequente presença em Fortaleza de milhares de soldados americanos, numa verdadeira ocupação amistosa, provocando mudanças de costumes até com o surgimento das "Coca-colas". Havia um verdadeiro mal-estar entre a juventude da época diante do sombrio das expectativas de vida. Isso sem contar com a seca de 1942, no Ceará, e seus reflexos em Fortaleza. Esse momento atípico, conturbado, viria a se transformar em matéria-prima canalizada para a criação artística. Tornou-se, portanto, a década de 1940 em Fortaleza, muito movimentada na literatura. Essa movimentação concretizou-se no 1º Congresso de Poesia do Ceará, em 1942, organizado por componentes do grupo. Logo em 1943 sairia o número 0 (zero) da "Revista Clã". Em 1946 realizou-se o Primeiro Congresso Cearense de Escritores, com a participação efetiva do Grupo Clã.

É importante salientar as obras de destaque dos componentes desse grupo, nos anos 1940. Em primeiro lugar a própria "Revista Clã" que passou a divulgar os trabalhos de seus organizadores. Depois, as Edições Clã começaram a editar livros de componentes do Grupo. Em 1943 sairiam: "Três discursos", de Eduardo Campos, Mário Sobreira de Andrade e Antônio Girão Barroso; "Águas mortas", de Eduardo Campos; "Escola Rural", de Mário Sobreira. Em 1946, surgiram: "Noite feliz", de Fran Martins; "Face Iluminada", de Eduardo Campos; "Roteiro de Eça de Queiroz", de Stênio Lopes; "Os hóspedes", de Aluísio Medeiros, Antônio Girão Barroso, Artur Eduardo Benevides e Otacílio Colares.

Nesse grupo de escritores cearenses da década de 1940 há duas vertentes por onde se pode enveredar na análise. A primeira é a ideológica que não mantinha homogeneidade no Grupo. Mas merece destaque aqui toda a obra poética social e ideológica de Aluísio Medeiros, o mais injustiçado, pela crítica, entre os componentes do grupo, por não ter tido até hoje um estudo à altura da qualidade de seus oito livros de poemas. Outra vertente é a estilística e aí desponha a figura de Artur Eduardo Benevides nosso escritor que mais encarna a Geração de 45, movimento estético chamado de terceira fase modernista e que existiu na Literatura Brasileira como um todo. Não se pode omitir o poder das narrativas de Fran Martins, Eduardo Campos e Moreira Campos, e a crítica de Braga Montenegro. Por tudo isso, pode-se dizer que o Clã foi o movimento literário mais produtivo da literatura cearense do século 20.

Na década de 1950, dois acontecimentos foram importantes na nossa literatura. O primeiro foi a fundação da Universidade Federal do Ceará, em 1955, por Martins Filho, do Clã, que viria a congregar num só bloco intelectual e burocrático, as faculdades isoladas existentes no Ceará. E de duas delas, a Faculdade de Direito e o Curso de Letras, saíram os nossos principais escritores, os ocupantes da Academia Cearense de Letras, inclusive seus presidentes (Eduardo Campos, Claudio Martins e Artur Eduardo Benevides). O outro movimento foi o Concretista ainda nos anos 1950, fazendo uma ponte entre Literatura, Artes Plásticas e Cinema. Surge nesse período a figura ímpar de José Alcides Pinto, secundado pelo pessoal da SCAP, com Mário Barata, Luis Geraldo e Pedro Henrique Saraiva Leão, Eusélio e Eudes Oliveira, entre outros.

A década de sessenta, abalada pela Ditadura Militar, teve antes do AI 5, de 1968, o Grupo SIN, e depois do Ato Institucional, o Clube dos Poetas Cearenses. O Grupo SIN era composto por estudantes de Letras e de Direito. Lançaram uma antologia literária denominada Sinantologia. Mas há um fato político marcante no panorama da Literatura Cearense que apesar de ser político afeta o nosso desenvolvimento intelectual. Foi a decretação desse Ato Institucional.

Chamemos de Geração Pós-AI-V aos escritores responsáveis por esse momento, e tomemos como ponto de partida, o esfacelamento do Grupo SIN. O Grupo SIN que existiu e deu frutos durante os anos sessenta, mais precisamente no final da década e que sucumbiu sob o peso das dissensões ideológicas internas, pois quando do surgimento da lei da censura, os intelectuais brasileiros tomaram posição de repúdio e fizeram um abaixo assinado de protesto. Nessa época, quem melhor representava a vanguarda literária cearense era o SIN, mas na hora da assinatura do manifesto, o pessoal dividiu-se e, consequentemente, o grupo acabou-se. Fazia parte desse grupo, entre outros: Rogério Bessa, Roberto Pontes, Linhares Filho, Horácio Dídimo, Barros Pinho e Pedro Lyra.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 20/09/2016.


 

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