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Legado de Pedro Luiz Sobrinho


Batista de Lima


Sempre me perguntei onde poderia estar a fonte ancestral da genialidade do violonista Nonato Luiz. Exímio artista, conhecido e aplaudido no Brasil e no exterior, seu DNA melodioso tinha que ter uma nascente. Só agora, depois de tanto tempo, e tanta convivência, por sermos conterrâneos e amigos, foi que tomei conhecimento que seu pai, Pedro Luiz Sobrinho, foi cantador de viola, e que, formando dupla com o violeiro Manoel Cândido do Limoeiro, foi, por anos, requisitado e festejado por toda a região Centro-Sul cearense.

Outra novidade também conhecida agora ficou por conta da descoberta das influências recebidas por Joaquim Washington Luíz de Oliveira, batalhador das causas sociais no Ceará e no Maranhão, a ponto de hoje ocupar o cargo de Vice-Governador daquele estado e já tê-lo representado como Deputado Federal. É que sendo primo de Nonato Luiz, herdou do tio, sua vocação pela defesa da população necessitada.

Todas essas informações me chegaram a partir de longo texto escrito por José Aldro Luiz de Oliveira, economista e, até pouco tempo, diretor do Banco do Nordeste, ao retratar a figura de seu pai, Pedro Luiz Sobrinho, no ano de seu centenário, ocorrendo neste 17 de setembro. Pedro Luiz Sobrinho nasceu no distrito de Mangabeira, em 1913, e faleceu aqui em Fortaleza, em 1983. O texto de seu filho Aldro é um levantamento biográfico que resgata do ostracismo uma personalidade inesquecível.

Autodidata, esse patriarca frequentou apenas algumas escolas do Sítio onde nasceu. Como primogênito de sete irmãos e tendo ficado na orfandade paterna, teve que ajudar a mãe na difícil lida de criar os irmãos menores, encaminhando-os na vida, vencendo dificuldades. Com o tempo, lia jornais de que era assinante, como o Diário do Povo, e até periódicos nacionais como a revista O Cruzeiro. A revista Seleções era encontradiça no seu birô de leitura. Seu pendor musical não ficou na viola. Afinal, adepto da música popular, estava sempre ouvindo Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves, Augusto Calheiros, Vicente Celestino e especialmente Nonato Luiz, seu filho.

Uma característica particular de Pedro Luiz Sobrinho era possuir ideias próprias, com uma visão de mundo de causar inveja a muitos intelectuais. Prova disso é que na 31ª Reunião anual da SBPC, de 1979, acontecida na UFC, por acaso, seu filho, o violonista Nonato Luiz, levou à sua casa, o amigo intelectual da Unicamp, Prof. Robson que durante o dia inteiro dialogou com Pedrinho para obter informações detalhadas sobre o semiárido nordestino. Depois da longa visita, o professor retornou para agradecer os ensinamentos e enfaticamente revelar: "Não poderia deixar de vir me despedir. Conheci incontáveis pessoas neste Encontro de Cientistas. Nenhuma tão interessante quanto o senhor".

Seu trabalho em prol da comunidade natal, Mangabeira, o levou a se candidatar a vereador em Lavras, como representante do distrito, sendo eleito e desempenhando exemplar mandato na legislatura de 1955 a 1958. Mesmo sendo da UDN, em um município tradicionalmente comandado pelo coronelismo do PSD, conseguiu aprovar projetos em benefício de seu povo. Acontece que sua luta maior que era a emancipação do distrito a cidade não se concretizou até hoje, mesmo se sabendo que àquela época as prerrogativas exigidas por lei eram suficientes para essa conquista. Os grandes empreendimentos, entretanto, conseguidos com seu esforço, foram a Cooperativa, em 1955, e a ponte sobre o Riacho do Meio, em 1956, elo de ligação entre as cidades de Várzea Alegre e Lavras.

Uma outra marca de seu caráter era a religiosidade. Devoto de São Sebastião, padroeiro de seu torrão natal, Pedro Luiz Sobrinho pôs na sua lista de prioridades como vereador, a criação da Paróquia de Mangabeira. A Diocese exigia a construção de uma Casa Paroquial ao lado da capela do Santo e a aquisição de uma casa no Crato, sede do bispado, para seu aluguel fazer frente às despesas do pároco. Muito dispendiosas essas exigências demandaram alguns anos e muitas quermesses para se conseguir o intento, sendo escolhido como primeiro vigário de Mangabeira o Padre Raimundo Nonato Dias, filho do lugar e que ali ficou por bastante tempo na sua lida evangelizadora.

Essa religiosidade da família Luiz é tão marcante que entre seus primos há padre e há freira, além do fato de um dos itens principais deixado para os filhos foi esse cultivo da Religião Católica. Prova disso é que numa temporada em que residiu no distrito de Mapuá, em Jaguaribe, na fazenda Malhada Doce, seu trabalho de evangelização, juntamente com sua esposa Alcides, foi reconhecido como exemplar pelo pároco da sede do município. Interessante que foi naquela fazenda que Pedro Luiz Sobrinho foi convencido pelo Doutor João Gonçalves de Souza, seu amigo de infância e já alto funcionário do Ministério da Agricultura, para seu retorno a Mangabeira.

Foi através do Dr. João Gonçalves que Mangabeira teve um grande impulso de desenvolvimento. Como Superintendente da Sudene, depois como Ministro do Interior e Secretário Geral da OEA, esse mangabeirense ilustre tinha como um dos seus principais auxiliares para opiniões e solicitações para o distrito, a figura de Pedro Luiz Sobrinho. Daí que foi instalado o serviço de abastecimento d´água, a criação do ginásio, a instalação da luz de Paulo Afonso e a construção de pontes para ligações com Cedro e Lavras.

É por isso que neste ano do centenário de Pedro Luiz Sobrinho sua memória está sendo restabelecida pelo seu estimado filho doutor José Aldro Luiz de Oliveira como preito de gratidão pelo amoroso pai que sempre foi e pelo prestimoso líder comunitário a quem Mangabeira muito deve.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 17/09/13.


 

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