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Judeus cearenses

Batista de Lima


Nilton Almeida é doutor em História Moderna e jornalista de formação. Cearense de Fortaleza, pesquisou sobre a presença de judeus no Ceará e produziu um livro de 374 páginas de preciosas informações sobre esse tema. Garimpou documentos raros e, através de alentada bibliografia, lançou em 2016, pela editora paulista Intermeios, “Judeus no Ceará (Séculos XIX e XX)”. É preciso fôlego para mergulhar com o autor nos meandros da saga desses errantes imigrantes, vítimas de permanentes diásporas em busca da prometida terra. O Ceará, para alguns judeus, tornou-se nessa terra, pois aqui se fixaram e se deram bem.

O incansável pesquisador devassou cartórios, livros de sacristias e os cemitérios de Fortaleza, Aracati e Sobral. Foi à Europa, escavar memórias em suas fontes primárias, para expô-las aos seus leitores numa arqueologia surpreendente. Por isso que a leitura desse livro se torna numa agradável viagem em torno do heroísmo de pessoas que passaram por enormes dificuldades antes de encontrar o aconchego das terras cearenses. Famílias como Boris, Gradvohl e Klein, por exemplo, depois de se fixarem no nosso Ceará, cresceram econômica e socialmente, contribuindo para o crescimento desta terra.

Túmulos, lápides e epitáfios foram fotografados e estão ilustrando páginas do livro. Isso sem contar manuscritos e fotos mais atuais de famílias que se postam para os pósteros. Tudo isso vem acompanhado das citações das profissões exercidas por cada clã. O comércio tem sido o meio de vida desse povo tão bem recebido pelos cearenses. A produção de óleos vegetais, a exportação de algodão e de peles deram fortunas para muitos deles. Alguns se tornaram mascates e vararam nossos sertões comerciando jóias e outras miudezas e levando alvíssaras aos sertanejos. A esse povo trabalhador, muito deve o Ceará.

Esses judeus aqui chegados puderam manter suas tradições, principalmente religiosas, sem entrar em choque com os católicos cearenses. É tanto que, ao longo do tempo, muitos formaram família com cearenses, através de casamentos com a manutenção dos rituais de cada lado. Nos cemitérios ainda se verifica que no princípio havia divisão entre a ala dos católicos e dos acatólicos. Entretanto na vida social os judeus passaram a frequentar os clubes elegantes e a se filiarem às associações locais. Tudo isso foi acontecendo naturalmente, mesmo com a manutenção de seus símbolos mais significativos como a Estrela de Davi.

Essa pesquisa de Nilton Almeida, quando trata da família Boris, apresenta todo o patrimônio do clã, incluindo instituições comerciais, imóveis e a fazenda Serra Verde. Essa fazenda foi comprada pelos Boris ao coronel José Belém de Figueiredo, político cratense, no início do século XX. Era tão grande que atingia os municípios de Caririaçu, Crato, Farias Brito, Granjeiro e Várzea Alegre. Centenas de famílias habitavam e trabalhavam essas terras. Por muitos anos Dr. Hubert Boris, residindo no bairro Pimenta, no Crato, foi seu administrador.

Tudo nesse livro de Nilton Almeida parece vir invertido, como assegura Tânia Kaufman, na sua breve apresentação. É realmente "um caminho da morte para a vida". O pesquisador inicia seus trabalhos nas sepulturas e chega na situação atual dos judeus. Daí que podemos verificar que a conclusão do seu trabalho, depois de tantas estatísticas e citações, não está no final da obra, está exatamente no princípio. Daí ser importante para o leitor voltar ao item número um, página 3, e ler "O destino dos vivos".


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 25/06/19.


 

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