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  • Foto do escritorBatista de Lima

Itaytera e Cariri Cangaço

Batista de Lima


O Movimento Cariri Cangaço, idealizado pelo cearense Manoel Severo Gurgel Barbosa, acaba de completar dez anos. Tem como objetivo resgatar e preservar as histórias dos nossos sertões nordestinos. O momento em que esta região esteve mais em ebulição foi durante o cangaço, que teve como culminância os vinte anos em que Lampião amedrontou sua população. Daí ser difícil contar a história nordestina sem que passe pelas figuras do Rei do Cangaço e do Padre Cícero Romão Batista. Portanto esse número 48 da revista Itaytera apresenta toda a edição deste 2019 sobre essa mitológica saga cangaceira.

Itaytera é a revista do Instituto Cultural do Cariri e circula desde 1954 como informativo do ICC. Desta feita seu tema único resgata saberes ainda inéditos do que representou o cangaço para nossa região. É bem verdade que diante da complexidade do tema, o leitor ainda se põe na encruzilhada de algumas dúvidas o que engrandece a publicação. Afinal, uma obra vale mais pelo que pergunta do que pelo que responde. No caso, nunca ficou muito clara a relação de Lampião com o Padre Cícero. O Santo Padre do Juazeiro recebeu o cangaceiro e seu bando em sua cidade no momento mais acirrado do cangaço, sem que a polícia juazeirense e as volantes provocassem qualquer empecilho.

Outra interrogação que atiça a mente do leitor fica por conta da mudança dos familiares de Lampião para juazeiro do Norte, quando se sabe que houve até governador estadual, além de coronéis poderosos que acoitaram o Rei do Cangaço. Foi entretanto Juazeiro que serviu de residência de suas irmãs e um irmão que lá ficaram intocáveis com seus descendentes até os dias atuais. Também, como se explica que polícias de sete estados nordestinos, no encalço do bando, levaram duas décadas para dar cabo do cangaceiro? Essas e outras perguntas, além do governo de Getúlio Vargas, uma ditadura, influenciaram nessa vitória final.

Voltando aos textos desse número de Itaytera, é interessante que há trabalhos científicos, dignos de revistas indexadas, de programas de mestrado ou doutoramento, ao lado de comunicações simples, todos, no entanto, novidadeiros para os leitores. Os dois artigos de Heitor Feitosa Macêdo, principalmente o que trata da Guerra entre Montes e Feitosas, podem figurar em qualquer revista científica. O mesmo pode-se dizer sobre “Oligarquias, cangaço, religiosidade: O contexto histórico da constituição do município de Mauriti e a revolução da agricultura familiar local”. Esse artigo de Eva Maria Campos Pereira e Evanildo Simão da Silva, está metodologicamente elaborado de acordo com as normas da ABNT e pronto para qualquer periódico científico.

Outro artigo científico de muito valor traz o título “O conceito de ‘Cabra’, no Cariri Cearense nos séculos XVIII, XIX e XX”, de Clarissaa Miranda Norões e Heitor Feitosa Macêdo. Além disso há perfis de personalidades ligadas ao cangaço, que por terem produzido episódios marcantes em suas vidas, despertam a curiosidade do leitor. É o caso do cangaceiro Mundinho, do Coronel Gustavo Augusto Lima, do Coronel Santana, do Brigadeiro Macêdo e de Floro Bartolomeu. O perfil do Dr. Floro, elaborado por Anchieta Martinez de Mont’Alverne é um primor de texto, não só pelas informações apresentadas, mas pelo trato que é dado à linguagem narrativa.

Esse número 48 de Itaytera está antológico. A partir da capa, muito bem ilustrada com sete punhais cruzados, e através de suas 292 páginas, desfilam textos com uma só temática, o cangaço, sem lugares comuns e trazendo novidades sobre o assunto. Isso é prova de que o tema é inesgotável, pois abre margens para várias análises do fenômeno que ainda apresentam suas subjetividades. Uma delas fica por conta do tratamento que se dá ao fato histórico que muitas vezes sem se transformar, transporta-se para os pósteros. Daí ser possível, por exemplo, um estudo comparativo entre os bandos criminosos do sertão do cangaço com as facções criminosas urbanas da atualidade.


jbatista@unifor.br.

05/11/2019.

 

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