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Invasão de Lavras

Batista de Lima


Aconteceu em 1910. Era o dia 7 de abril, quando 150 homens armados invadiram a cidade com o objetivo de desalojar do poder o Prefeito, Coronel Gustavo Augusto Lima. O comandante dos invasores era Quinco Vasques, a mando não se sabe até hoje exatamente de quem.

A batalha durou oito horas, tendo o grupo invasor se retirado ao final da tarde, diante da falta de munição e forte aparato de defesa montado pelo prefeito e sua mãe, a matriarca Dona Fideralina.

A história dessa batalha, com todas as suas razões e implicações futuras, está muito bem escrita por João Tavares Calixto Júnior. É um livro de 87 páginas, editado pela Expressão Gráfica e Editora neste 2015. Esse livro é produto de uma conferência realizada por ocasião do Seminário Cariri Cangaço, em Lavras da Mangabeira, em 24 de setembro último. O autor, que é Doutor em Biotecnologia / Recursos Naturais, é professor do Curso Superior em Farmácia e pesquisador da História Regional do Cariri.

Sua pesquisa começa com a deposição do Coronel Honório Correia Lima do poder político de Lavras, no dia 26 de novembro de 1907. Essa deposição foi perpetrada por sua própria mãe, Dona Fideralina, e executada por um contingente de 400 homens. Esse acontecimento familiar que beneficiou o Coronel Gustavo Augusto, irmão de Honório, produziu uma cisão na família Augusto e desgostou a velha matriarca Fideralina pelo resto da vida.

Desgostoso, Honório retirou-se de Lavras e foi residir em Caririaçu. Coincidentemente, foi de Caririaçu que Quinco Vasques partiu para atacar Lavras, com seus 150 homens, invadindo a cidade dos Augustos naquele 7 de abril.

Apesar do título do livro de João Tavares Calixto Júnior ser "Considerações sobre a Invasão de Lavras em 1910", é interessante para o leitor tomar conhecimento das implicações desse acontecimento em outros que aconteceram na cidade por longos anos após. Nesse aspecto, o autor nos presenteia com fatos que se entrelaçam para provar que desde a expulsão de Honório do poder a família Augusto entrou em processo de autofagia, chegando a ficar totalmente fora do poder lavrense em 1974. Honório e depois Gentil Augusto formaram no lado oposto ao familiar mandão Coronel Gustavo Augusto.

Quando o autor se refere a Gentil Augusto, destaca-o como: "filho do Coronel Gustavo, e neto de Fideralina, era uma mescla de desordeiro e intelectual, um pensador erudito e um arruador de mão cheia. Poeta engenhoso, conferencista de classe, escritor de referência, era perito em colecionar desafetos e protagonizar cenas de hediondez".

É por isso que no famoso episódio da "hecatombe de Lavras", ocorrido em 9 de janeiro de 1922, em que morreram três componentes familiares, Gentil é tido como a pessoa que engendrou o episódio sangrento. Na ocasião, foram mortos: José Leite Filho, genro do Coronel Gustavo, Major Eusébio Tomás de Aquino, primo de Gustavo; Simplício Augusto Leite, irmão de José Leite.

O desfecho dessa "hecatombe de Lavras" ou "dia do barulho", como foi chamado o episódio, ocorreria no dia 28 de janeiro de 1923. Em Fortaleza, na Praça do Ferreira, às 9 da noite, o Coronel Gustavo Augusto de Lima, então deputado estadual, foi assassinado por um seu parente, Raimundo Augusto de Aquino, conhecido como Raimundo de Eusébio.

O interesse do assassino vingador era impingir ao seu desafeto Coronel Raimundo Augusto, responsável pela morte de seu pai, sentir a mesma dor que ele sentira, a dor da perda do pai. Esse crime praticamente encerrou as vinditas lavrenses mas deixou tantas sequelas na família que, finalmente, um dia o poder fugiu-lhe das mãos.

Com a Revolução de 1930, feudos como o de Lavras tiveram seu poder diminuído. Mesmo com todos os acontecimentos que enfraqueceram a família Augusto, Lavras teve, entre 1923 e 1974, sempre algum dos seus membros ligados ao poder. Raimundo Augusto quando não se elegia para prefeito, sempre conseguia colocar no poder algum familiar seu. Também conseguiu eleger para deputado seu filho Vicente Augusto, mantendo por muitos anos o PSD no poder lavrense. Essa vocação política da família Augusto, que depois entrelaçou-se à família Férrer mantém-se até hoje.

Hoje, Lavras da Mangabeira que possui dois Senadores em Brasília, Eunício Oliveira, pelo Ceará, e Elmano Férrer, pelo Piauí, o segundo é de origem da importante família. Dos dois deputados estaduais filhos de Lavras, Daniel Oliveira e Heitor Férrer, mais uma vez há um representante do tradicional clã. O Prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio e o atual prefeito de Lavras, Gustavo Augusto de Lima Bisneto, têm suas raízes na tradicional família.

É evidente, no entanto, que as formas de fazer política, nos dias de hoje, por esses descendentes da famosa família são outros. O tempo e os fatos acontecidos ensinaram à geração atual que o poder pode ser alcançado sem o uso do trabuco, e é isso o que tem acontecido.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 29/12/15.


 

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