top of page
  • Foto do escritorBatista de Lima

Evasão escolar nas universidades

Batista de Lima


São muitos os prejuízos causados pela evasão escolar nas universidades. Quando esse tema é tratado em seminários, congressos e fóruns, o foco das conclusões recai sobre as universidades. É como se o prejuízo fosse algo afeito apenas ao sistema de ensino superior. Não se avaliam os impactos causados à sociedade nem as origens primeiras do fenômeno. A evasão escolar precisa ser estudada através de uma análise de mão dupla. É preciso ir da IES à sociedade, e em um movimento oposto, vir da sociedade à universidade.

A raiz do problema está no ensino fundamental e principalmente no primeiro ano do ensino médio. Segundo o Ministério da Educação (MEC), é na 1ª série do Ensino Médio em que é maior o percentual de evasão, em torno de 10%. O ambiente escolar não evolui em benefício da permanência do aluno, diante de sua evolução através das séries. Não há atrativo para a manutenção do jovem no recinto escolar. A instituição de ensino é um corpo estranho na comunidade, com suas portas fechadas nos momentos em que não ocorrem as aulas. Nos fins de semana, a escola deveria se tornar em um centro comunitário em que as pessoas se reuniriam para as mais variadas atividades.

No caso da educação superior, compete às próprias instituições diagnosticar as circunstâncias que provocaram a evasão de seus alunos. Para isso, é importante o acompanhamento do estudante em toda a trajetória acadêmica. Nesse acompanhamento, pode ser detectado o grau de interesse pelo método do ensino universitário, bem como do conteúdo a interessar ou não. Muitas vezes isso decorre da falta de um projeto pessoal do estudante com relação à sua futura profissão. Ele faz o ENEM sem saber em qual curso vai ficar. Que o SISU defina seu rumo. Essa fórmula é um passo para o desestímulo em seguir no curso. Além disso, os custos do investimento, muitas vezes, vão ao encontro da incerteza diante do futuro profissional com o retorno do que é investido.

Às vezes, o entusiasmo inicial, por estar ingressando em um curso superior, esbarra nas primeiras dificuldades acadêmicas por falta de uma convicção forte em torno do que realmente o estudante quer seguir. Essa falta de convicção é responsável pela desistência diante de pequenos problemas que possam surgir, como adaptação à cidade, aos colegas, aos professores, à nova residência e às vezes até à saudade de casa. Até a insegurança da nova cidade ou do campus provoca a desistência do novo universitário.

A segurança do estudante é função do gestor da instituição. Também a sustentabilidade do campus torna amena a ambientação. A função da instituição não é apenas abrir as portas da empregabilidade, mas também mostrar caminhos através dos quais pode-se conseguir a felicidade. Daí ser necessário além do tratamento dos problemas em grupo, também individualmente. É por isso que a instituição precisa de um setor que trabalhe o aluno no enfrentamento de suas dificuldades tanto em grupo como de forma individual.

Um outro fenômeno que pode levar o estudante ao desestímulo e à consequente desistência do curso é a falta de comunicação. Há instituições que primam pela comunicação externa através de grandes campanhas publicitárias que atraem os estudantes, mas às vezes esquecem a comunicação interna entre, principalmente, os ingressantes. Nos primeiros semestres na universidade há alunos que se prejudicam por não conhecerem os órgãos gestores da instituição. Às vezes não sabem como agir diante dos percalços que enfrentam, não conhecem seus direitos e terminam por perder disciplinas, o que é um passo para a evasão, principalmente em faculdades privadas. É necessário um trabalho informativo muito profícuo em torno do calouro, para lhe dar segurança.

Não se deve tratar o estudante apenas como um ser coletivo, esquecendo caracteres pessoais. A ditadura dos currículos tem deixado de lado o aproveitamento de talentos particulares, o que tem desperdiçado vocações. O método científico não deve ser o único patamar de que se deve alçar a capacidade das pessoas. Certos conhecimentos do senso comum ainda merecem ser aproveitados em ambientes escolares. A extensão universitária precisa pavimentar a relação da universidade com o que acontece fora dela. Universidade

Não é apenas ensino, é extensão e é pesquisa também. Ela precisa ser uma construção de muitas portas, de abertas portas. Por isso que as melhores universidades do mundo são as que mais presentes estão no mundo todo, principalmente através dos intercâmbios.

O intercâmbio entre as universidades faz com que o estudante sinta o diferencial com relação ao que foi a formação básica. E esse intercâmbio pode ser também com instituições de fomento à cultura e ao desenvolvimento tecnológico. Por isso que o estágio voluntário muitas vezes supera em aprendizagem ao estágio curricular. As monitorias, os encontros científicos, o teatro, a música e outras manifestações de talentos criam raízes para fixarem os alunos nas suas instituições de ensino. Até o retorno do egresso, que tem se destacado no mercado de trabalho, vem servir de estímulo para os iniciantes nos estudos universitários. Por isso ser importante que a universidade se torne uma casa de aconchego em que o estudante se sinta até melhor de que se em sua casa estivesse. Se assim for, teremos dado um passo importante para diminuir a evasão escolar.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 21/07/15.


 

6 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page