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Em busca dos livros perdidos

Batista de Lima


Há poucos dias estávamos no lançamento do romance de Angélica Sampaio, na casa de José de Alencar. Manhã de domingo, ambiente ecológico e palavra facultada. Um engenheiro ao microfone fez a apologia em torno do evento e terminou por tocar em um assunto que provocou reflexões. Ele discorreu sobre o volume de livros que são lançados em Fortaleza. Porém terminou por perguntar onde poderia encontrar esses livros. Fazia dias que procurava um livro recém-lançado, sobre Freire Alemão, sem encontrá-lo nas livrarias. Depois desfiou uma série de títulos que tem procurado, que sabe que existem guardados, mas não sabe onde.

O paradeiro dos livros produzidos em Fortaleza só é do conhecimento do público, no dia do lançamento. Se o leitor não estiver presente para adquirir um exemplar, não mais terá acesso ao livro. Sabe-se que geralmente as edições saem com uma média de quinhentos exemplares e que nos bons lançamentos vendem-se em torno de cem livros. A pergunta é: para onde vão os outros quatrocentos exemplares, se não estão nas livrarias nem nas bibliotecas? É esse volume de publicações que poderia ter um direcionamento, para ficar à disposição do público leitor.

Se esses livros não estão nas livrarias, muito mais difícil é encontrá-los em bibliotecas. Mas por que não estão à venda nas livrarias? Porque livraria de nossa cidade, que já é uma raridade, não vende autor do Ceará. Às vezes até há algum caso de autor que consegue colocar por lá um livro seu, mas que com os dias esse material local é colocado no lugar mais escondido da livraria, como que para não ser encontrado pelo comprador. Às vezes o vendedor nem sabe se o livro está à venda ali. Também colégio de nossa cidade não usa livro de autor cearense como paradidático. Afinal nossas editoras locais não negociam com os colégios.

Diante de todos esses problemas podemos pelo menos sugerir políticas em benefício da leitura de nossos livros. Afinal, para que haja a leitura, é imprescindível que haja o contato com o livro. Uma das políticas públicas seria oriunda da Câmara Municipal, obrigando as livrarias que aqui se instalam, colocarem um compartimento com os livros do autor cearense. Pelo menos uma prateleira com a plaquinha "Literatura Cearense", já seria de bom tamanho. Não seria necessário o autor mandar o livro para São Paulo para que a matriz enviasse de volta para ser vendido aqui, como sugeriram a um escritor conhecido.

Depois há a necessidade da Secretaria de Cultura promover essa distribuição. Há editais que promovem a edição de livros. Entretanto não há política de distribuição, de promoção. A Secult poderia possuir uma banca em plena Praça do Ferreira onde os autores aqui publicados estariam lá com seus livros expostos à venda. Seria um espaço de encontro de escritores com o público. Poderia com o tempo, ser até um local para lançamento de livros. Afinal essa questão do lançamento do livro é outro problema enfrentado pelo autor cearense.

Se for um escritor de posses, ele lança em clube elegante da cidade ou em auditório de financeiras. Em livraria é uma raridade haver lançamento. Esses espaços se tornam inviáveis para autor que não dispuser de cifras para financiar coquetel, aluguel de espaço e outros gastos, que somando tudo, a venda da ocasião não chega a cobrir a despesa. Assim, só abastados podem lançar livros em espaços elegantes de Fortaleza. E o público que comparece é o mesmo em todas as ocasiões.

Houve um tempo em que os lançamentos de livros em Fortaleza ocorriam em livrarias. Era na Renascença, do Luís Maia, ou na Ciência e Cultura, do Aníbal Bonavides. Quando não, era na Universidade Federal do Ceará. Isso, no entanto, são coisas que o tempo levou. Hoje está ficando mais barato editar um livro em Fortaleza do que promover uma noite de autógrafos em alguns espaços sofisticados. Daí a necessidade de órgãos responsáveis pela divulgação de nossa cultura começarem a discutir estratégias para promover o nosso livro.

Não ocorrem em nossa cidade debates sobre essas questões. Um fórum de discussão das políticas do livro em que escritores de verdade fossem chamados para opinar. Não acredito em eventos promovidos por pessoas que têm interesses políticos, ou que querem se promover através da literatura enquanto produzem obras pífias. Seria uma discussão por quem lida com literatura, produz algo de qualidade, trabalha com o magistério nos cursos de Letras, onde a Literatura Cearense é ensinada.

Em Fortaleza há quase que um lançamento de livro por dia. Há também tantas academias que já há cidadãos exímios em criá-las. Já existe a figura do criador de academias. Entretanto não há um distribuidor das obras aqui editadas. Sabe-se que o grande volume de publicações não corresponde à qualidade do que é editado. Acontece que também há livros bons sendo editados mas que não chegam às mãos do leitor. Assim, depois de separar o joio do trigo, depois de uma triagem do que tem qualidade, no momento seguinte seria a vez de divulgar o que é bom. Assim, aquele engenheiro da manhã de autógrafos e outros leitores ávidos de boas leituras nossas teriam acesso ao que produz o autor cearense e não ficariam vagando em busca de livros perdidos.


jbatista@unifor.br

15/11/11.

 

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