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Dr. Gustavo e a Escola Agrícola

Batista de Lima




Tempos bons aqueles em que grande parte da juventude estava interna ou em tempo integral em seminários, internatos de freiras, escolas confessionais e colégios agrícolas. A violência nas ruas praticamente inexistia. É uma prova de que a escola de tempo integral pode fazer com que diminua a marginalidade que toma conta das cidades. Acontece que aquelas escolas que mantinham os estudantes nas suas dependências por dois ou mais turnos fecharam ou mudaram seu regime de permanência, oferecendo apenas um turno para os estudantes e deixando o resto do tempo à mercê da avariada educação das ruas.

Lavras da Mangabeira encaminhou muitos dos seus jovens para estudar em Crato, Juazeiro, Cajazeiras ou Fortaleza, a maioria em regime de internato. Isso no entanto mudou quando em 1954 foi inaugurada sua Escola de Iniciação Agrícola. A partir de então, os jovens lavrenses, bem como de vários outros municípios do Nordeste e da Região Norte passaram a se deslocar para estudar no novo Colégio. A nova Escola chegou a contar com 350 alunos, a maioria em regime de internato. A cidade mudou seu cotidiano. Eram, também, os professores e os funcionários com seus empregos federais, o que mudou a economia local.

Toda essa mudança teve um nome de proa, um incansável timoneiro, o agrônomo Gustavo Augusto Lima. Dr. Gustavo, como era chamado, além de ser o primeiro Diretor da Escola, cargo que ocupou nos seus primeiros dez anos, era também querido e entusiasta professor de Agricultura e Desenho. Afastou-se por quatro anos da Escola, 1963 - 1966, para cumprir o mandato de Deputado Estadual. Essa sua incursão na política era uma tradição familiar, já que os Augustos, e ele era um deles, dirigiram os destinos de Lavras durante mais de um século. Dr. Gustavo além de Deputado chegou a ser Prefeito por duas vezes.

Para se conhecer a trajetória de vida desse ilustre lavrense, bem como a história do Colégio Agrícola, é importante que se leia "Gustavo Augusto Lima, 1917 - 2017", de autoria de Rejane Monteiro Augusto Gonçalves, sua filha. Rejane é historiadora com quase uma dezena de livros publicados, todos focados em aspectos da sua cidade. Desta feita ela fixou-se na homenagem ao centenário de nascimento de seu pai e na história da Escola por ele fundada, que depois passou a Colégio Agrícola, o que ocasionou uma verdadeira evolução cultural naquela cidade.

Gustavo Augusto Lima era filho de João Augusto Lima que fora prefeito de Lavras, por quatro vezes, além de ter sido fundador da cidade de Ipaumirim. João Augusto combateu a investida infrutífera de Lampião a Lavras, tendo também combatido a Coluna Prestes. Quando do Pacto dos Coronéis, organizado pelo Padre Cícero, em 1911, ele estava lá, representando a cidade de Lavras. Foi nesse clima que cresceu Gustavo Augusto Lima, sem contar ser ele, neto do famoso Coronel Gustavo que dominou Lavras por muitos anos, e bisneto de Fideralina Augusto Lima, mulher guerreira, matriarca de toda essa família de importância política na região do Alto Salgado.

Esse livro de Rejane Monteiro Augusto Gonçalves, editado pela Expressão Gráfica e Editora, neste 2017, nas suas 134 páginas, além de trazer a biografia de Dr. Gustavo, apresenta iconografia de várias fases da vida do retratado. Também vem com Prefácio de Gustavo Augusto Lima Bisneto, irmão da autora e ex-prefeito de Lavras. Outro que se apresenta comentando a importância do Dr. Gustavo é o escritor Dimas Macedo, conhecedor credenciado do ilustre biografado. Segundo Dimas, Lavras deve ao empreendedorismo do Dr. Gustavo, "a instalação do Posto Agropecuário e da Usina de Eletrificação da cidade, a criação do Colégio Agrícola, a construção dos prédios da Prefeitura Municipal e dos Correios e Telégrafos".

Além desses empreendimentos que deixou, o Dr. Gustavo, por sentir as dificuldades de encontrar bibliografia para desenvolver o ensino agrícola, resolveu, depois de aposentado, se dedicar à pesquisa sobre o assunto. Assim foi que, em 1973, lançou pela Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará, seu primeiro livro "Cultura do arroz". Em 1975, pela mesma editora, trouxe a lume "Cultura do milho". Em 1980, pela Imprensa Oficial do Ceará, editou "Cultura do feijão-de-corda". Finalmente, em 1984, pela mesma Imprensa Oficial, lançou "Cultura da Cana-de-açúcar".

Por fim é bom saber que numa justa homenagem ao seu fundador, o Colégio Agrícola passou a se chamar a partir de 1981, Colégio Agrícola Professor Gustavo Augusto Lima. Dr. Gustavo faleceu em 1988. Talvez se estivesse em atividade não teria deixado aquele Colégio fechar as portas. Ainda bem que nas suas instalações passou a funcionar a Escola Estadual de Educação Profissional Professor Gustavo Augusto Lima, ofertando os cursos Técnico em Agropecuária, Técnico em Agroindústria e Técnico em Aquicultura. Esses cursos são bem frequentados nos dias de hoje e continuam sendo resultado de um legado deixado pelo Dr. Gustavo, agora relembrado em livro pela sua filha escritora Rejane Monteiro Augusto Gonçalves.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 01/08/2017.


 

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