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Doutor Guarany e a saúde de Sobral

Batista de Lima




O centenário de nascimento do Doutor Guarany Mont'Alverne se deu em 2012. A homenagem principal à sua memória foi a publicação do livro "Antônio Guarany Mont'Alverne, 1912-1978, o homem e sua época", escrito pelo seu filho José Ronaldo Mont'Alverne. São 340 páginas em edição luxuosa da Expressão Gráfica e Editora, em que a vida do homenageado e a história de Sobral se entrelaçam para gáudio dos seus leitores.

Além do texto cuidadosamente escrito, uma galeria de imagens fotográficas torna o livro um verdadeiro documento de inconteste narrativa. Tudo isso graças ao desempenho afetuoso de seu filho José Ronaldo, também médico como o pai.

Mas o livro não se fixa apenas na figura do Dr. Guarany. Ele retrata a cidade de Sobral de seu tempo, mostrando uma "belle époque" por que passou a Princesa do Norte: os colégios, os clubes sociais, a religiosidade e a ocupação da Serra da Meruoca por grandes chácaras em que as famílias da cidade iam passar temporadas em convescote. Sobral viveu um esplendor cultural por ocasião desses dourados anos, o que foi aproveitado por Guarany Mont'Alverne.

Até os embates políticos, principalmente nas eleições municipais, vão desfilando na narrativa. Portanto, é um livro que chega até a sinalizar para uma didática da cidade, dada a mestria de seu autor Ronaldo Mont'Alverne.

Antônio Guarany Mont'Alverne nasceu em 3 de outubro de 1912, na cidade de Sobral, filho de Maria Marphisa e Antônio Mont'Alverne Filho. Fez seus estudos iniciais no Colégio Nossa Senhora D'Assunção, dirigido por Dona Mocinha Rodrigues, em sua terra natal.

Depois rumou para Fortaleza, em que cursou o Colégio Cearense, dos Irmãos Maristas, de 1926 a 1929. Para continuar seus estudos, deslocou-se para o Rio de Janeiro onde ingressou na Faculdade de Medicina na Praia Vermelha. Médico formado, em 1938, Dr. Guarany instalava seu consultório em Sobral, onde viria a clinicar pelo resto da vida. Outro acontecimento importante foi o casamento, em 1940, com sua prima Nadir com quem teve oito filhos.

Antes, porém, de mostrar a Sobral do tempo de seu pai iniciante na profissão, o autor dá um panorama do Rio de Janeiro, do tempo em que Dr. Guarany estudava medicina. A vida carioca centralizava o que havia de mais dionisíaco no Brasil. Festas, boemia, artes, política e o estudo.

O Café Lamas, o Café Nice, o Cassino da Urca, o cinema, tudo era um apelo para o divertimento, mas o acadêmico sobralense tinha a responsabilidade pelos estudos, em primeiro lugar. Viu seu colega de faculdade, Noel Rosa, deixar os estudos e optar pela música. A vida mundana carioca não o desviou da vocação para se tornar médico.

Estava lá entre os 344 formandos da turma de 1935 da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. No início de sua carreira de médico, Dr. Guarany esteve uma temporada em Fortaleza, em que dividia consultório com o Dr. Wandick Ponte, que fora seu colega de Faculdade. Chegou, inclusive, a ser nomeado cirurgião da Assistência Municipal de Fortaleza.

Sobral, no entanto, era seu sonho. A família, os amigos e os apelos de D. José Tupinambá da Frota terminaram por atraí-lo à sua cidade natal. Sobral estava nos seus melhores tempos. A vida social da cidade era resquícios de um afrancesamento por que passaram os costumes locais. Era a culminância de uma "belle époque" que ali chegara pelo Porto do Camocim, e pelo que ocorrera também em Fortaleza. O Grêmio Recreativo Sobralense e o Ideal Clube de Fortaleza se imitavam.

Em Sobral o novo médico casou-se com sua prima Nadir Gomes Mont'Alverne. Nessa época, segundo o autor, Sobral contava com 40 mil habitantes. Distante 240 km de Fortaleza, por terra, em estrada de piçarra no verão e lamaçal no inverno, muitas das vezes gastavam-se dez horas para cumprir esse percurso. Assim, o Porto do Camocim era ainda a alternativa para se abrirem as portas para o resto do mundo.

Mesmo assim havia dois cinemas, o Cine Teatro São João, popular, e o Cine Rangel, em que a elite da cidade assistia às melhores películas internacionais. Na educação, o Ginásio Sobralense, o Ginásio Sant'Ana e o Educandário São José promoviam o melhor ensino da Região Norte Cearense.

Um acontecimento histórico em Sobral foi a inauguração da Santa Casa no dia 25 de maio de 1925 pelo Senador João Tomé, representando o Governador. Por trás do empreendimento estava o primeiro bispo da cidade, Dom José Tupinambá da Frota. O primeiro diretor da clínica médica foi o doutor Manoel Marinho de Andrade que no posto ficou até 1935.

Em 1936, com apenas 25 anos, o Dr. Guarany assumiu a chefia da clínica cirúrgica, posto que ocupou por mais de quatro décadas de profícua dedicação. Ali trabalhou com todos os provedores, desde o bispo D. José, o primeiro, até o mais recente, Padre José Linhares, em perfeita harmonia com todos eles.

Dr. Antônio Guarany Mont'Alverne faleceu no dia 29 de janeiro de 1978, no Rio de Janeiro. Foi sepultado no dia 31, no Cemitério São José, em Sobral, numa cerimônia em que grande contingente acompanhou suas exéquias. Afinal, salvara muitas vidas ao longo dos anos em que clinicou na Santa Casa.

Apesar do grande prestígio que granjeou no seio da sociedade sobralense, nunca encantou- se pelos apelos dos políticos para se candidatar em eleições partidárias. Fiel à profissão, deixou seu nome impresso em logradouros públicos da cidade.

Entretanto, esse livro escrito por seu filho primogênito configura-se uma homenagem imorredoura. Como bem qualificou o Padre José Linhares, Guarany Mont'Alverne era "homem privilegiado, que reunia numa harmonia ímpar: a pessoa do Cientista, do Médico, do Humanista, do Cristão amigo, do ser iluminado pelas luzes do infinito".


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 01/11/2016.


 

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