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Dom Quintino: Bispo do Crato

Batista de Lima



Suas leituras giravam em torno de clássicos portugueses, latinos e franceses. Tinha uma predileção especial pela literatura cearense, tinha como livro de cabeceira "Cenas Populares", de Juvenal Galeno. Como produtor de textos, sua inclinação foi para o gênero epistolar. Suas cartas eram escritas com tanto esmero que mereciam transcrição em livro como documento histórico da Diocese cratense Na década de 1920, por ocasião de compromissos com as paróquias da Diocese do Crato, por algumas vezes passando em Mangabeira, distrito de Lavras, Dom Quintino dormia na residência do senhor Raimundo Nonato Vieira - Doquinha dos Torrões - no Sítio Torrões, nascendo assim amizade entre os dois, o que levou Doquinha a visitar e almoçar por algumas vezes com o Bispo Dom Quintino, no Palácio do Bispo, sua residência oficial, na cidade de Crato. Pelo fato de sempre ouvir esses relatos do seu pai Doquinha dos Torrões, João Nonato Vieira, João Bosco, também aprendeu a ter admiração pelo Bispo Dom Quintino, o que o levou a dar o nome do grande religioso ao Colégio Dom Quintino, situado à rua Cecil Salgado, nº 53, Quintino Cunha, em Fortaleza. Primeiro Bispo da Diocese do Crato, esteve D. Quintino à frente dessa diocese, de 1915 a 1929. Foram catorze anos de profícuo trabalho pastoral em um dos momentos mais conturbados da história caririense. Fanatismo e cangaço foram fenômenos marcantes nessa época, além das questões religiosa e política entre D. Joaquim, bispo de Fortaleza, Franco Rabelo e Padre Cícero. Esse momento político-religioso do Cariri, bem como a trajetória de vida de D. Quintino estão muito bem relatados no livro "O primeiro Bispo do Crato (Dom Quintino)", escrito pelo padre Azarias Sobreira e editado pela Empresa Editora ABC Limitada, do Rio de Janeiro, em 1937. Padre Azarias, além de se apresentar como bom historiador e biógrafo, tem a seu favor o fato de, por dois anos, ter sido secretário de D. Quintino, na Diocese. Além disso, presenciou todos os fatos acontecidos na conturbada história caririense da primeira metade do século vinte, dirigindo paróquias da região, principalmente da cidade de Milagres, uma das mais difíceis. Logo na abertura do livro, estão alguns dados biográficos de Dom Quintino Rodrigues de Oliveira. Nascido em Quixeramobim, a 31 de outubro de 1863, ordenou-se em 1887 e foi sagrado bispo em 1915, iniciando seu bispado em Crato, de onde já vinha sendo vigário, e onde faleceu em 1929. Era tão religioso, humilde e amigo dos pobres que toda uma geração de Quintino e Quintina apareceu ao seu tempo como homenagem que os pais pobres lhe prestavam, nominando seus filhos. Entretanto, o que mais marcou seu tempo de bispado no Crato, foi seu lado empreendedor a serviço da educação, a ponto de merecer dar nome a um distrito do Crato. Criou o Colégio Santa Tereza, dirigido por freiras e voltado para o ensino com toques religiosos para moças da região. Além disso, por sete anos foi professor no Seminário São José, depois, por quinze, foi Vigário da cidade e, finalmente, por catorze ocupou o bispado. Sua vida sacerdotal, após se ordenar padre no Seminário de Fortaleza, teve início como coadjutor do padre Manuel Felix Arnaud, vigário de Missão Velha. Foi a partir daí que começou a demonstrar sua prodigiosa eloquência sempre seguindo o conselho agostiniano de que as palavras antes de passarem da língua precisam passar pela lima. Corajoso, ainda vigário do Crato, em 1914, quando a cidade foi invadida e tomada por 1264 juazeirenses da Sedição, e toda a população fugiu da cidade, ele ficou e enfrentou os combatentes, convencendo-os a retornar a Juazeiro. Padre Cícero respeitava o trabalho de D. Quintino e sua cidade natal, o Crato. É tanto que por ocasião do ataque a essa cidade, pelas hostes de Floro Bartolomeu em combate contra os rabelistas, ele recomendou aos combatentes que "cercassem a cidade pelo lado do nascente e do norte, mas deixassem livres as estradas do Seminário e do Pimenta para a fácil evasão dos que desejassem sair. Que não quisessem saber de roubo, ainda que fosse de uma agulha. Que respeitassem as famílias e os prisioneiros. Respeitassem, sobretudo, a "Casa de Caridade" e as residências do padre Sother e do vigário Quintino". Logo que assumiu o bispado, D. Quintino encetou visita a todas as paróquias da Diocese, inclusive Juazeiro que vivia sob a liderança do Padre Cícero, mesmo privado de suas ordens religiosas, vindas de D. Quintino, mas emanadas de seus superiores eclesiásticos. Pois nessa visita primeira a Juazeiro, como Bispo, pelo menos dez mil pessoas se comprimiam para ouvi-lo em pregação. Suas leituras giravam em torno de clássicos portugueses, latinos e franceses. Tinha uma predileção especial por José Veríssimo, e da literatura cearense tinha como livro de cabeceira, "Cenas Populares", de Juvenal Galeno. Como produtor de textos, sua inclinação foi para o gênero epistolar. Suas cartas eram escritas com tanto esmero que mereciam transcrição em livro como documento histórico da Diocese cratense. Como confidentes estavam seus dois confessores: padre Joaquim Sother de Alencar, de 1893 a 1913, e monsenhor Vicente Sother de Alencar dali em diante. Seu principal inspirador foi o padre José Maria Ibiapina, o Anchieta do Nordeste brasileiro. O padre Ibiapina, cearense, ordenado aos 48 anos de idade, foi professor de retórica e eloquência, no seminário de Olinda, antes de sair peregrinando por Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraíba, onde construiu várias dezenas de igrejas, cemitérios e asilos de órfãos. Padre Ibiapina, cujos "sermões eram rajadas de incêndio, abrasando os corações mais indiferentes", faleceu na Paraíba, em 1883, deixando uma obra tão consistente que mereceria estudo aprofundado em torno do legado construído. O livro do Padre Azarias Sobreira acentua essa e outras influências de D. Quintino. Também tão minucioso se apresenta em torno do biografado que chega até a enumerar suas poucas mas inusitadas ojerizas. É o caso de sua desconfiança das pessoas estrábicas, também portadoras de lábios grossos e sanguíneos e ainda de padres que muito se preocupavam em juntar fortunas. O importante, no entanto, para a história cratense é conhecer o lado empreendedor de D. Quintino. Criou o jornal "A Região", o Colégio Santa Teresa, o banco Cariry, "reabriu o seminário menor da cidade, fechado havia anos, fundou e manteve, no Crato, um seminário maior, ambos florescentes (...) já, àquele tempo, fazia seis anos que funcionava, ali, o Colégio Diocesano, por ele instalado..." Por tudo isso, no próximo dia 29 de dezembro, ocasião dos oitenta anos de sua morte, é importante que a população religiosa do Cariri, em especial as autoridades cratenses, não deixem de promover homenagens a Dom Quintino, a quem tanto deve a região Sul do estado, e o Crato em especial.

 

10/11/2009.

 

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