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  • Foto do escritorBatista de Lima

Do des(em)cobrimento do Brasil e da transmigração da família do rei

Batista de Lima



O Brasil foi descoberto em 1500 pelos portugueses e logo em seguida encoberto para que aventureiros não lhe pusessem as mãos. Houve investidas de franceses e de holandeses mas o paraíso tropical conseguiu sobreviver nas mãos dos primeiros chegantes que o pilharam por trezentos anos. Foi mais ou menos como aquele tesouro que alguém descobre e depois camufla para que o desfrute seja só seu. Era um paraíso de portas fechadas a que apenas Portugal tinha acesso. Daí foi fácil levar nosso ouro e nossa madeira de lei, matar os nativos e, com a chave na mão, deixar esse parque de diversões para deleite próprio dos gajos lusitanos. Dessa festa dionisíaca em que entrava o português patrão e caiçara e a negra escrava, nasceu essa raça mestiça que ainda teve o condimento nativista do índio. Surgiu então o brasileiro. Ele não é branco, não é preto e não é índio, é tudo isso ao mesmo tempo. Como é gostoso, pois, ser brasileiro. Um acontecimento inusitado, no entanto, mudou esse panorama em 1808. Um herói francês chamado Napoleão empurrou a corte portuguesa para o Brasil. Deu-se então o real descobrimento desta terra. O rei fujão, quando aqui chegou, abriu as portas da nação através dos portos para todas as nações amigas. É evidente que a França não era benvinda. Não sabiam aqueles mandatários que Napoleão fez um grande bem ao Brasil mandando a corte portuguesa para cá. Eu imagino se no tempo de D. Sebastião (1578), em vez de ele ter ido para o Marrocos perder uma batalha e a vida em Alcácer Quibir, houvesse um Napoleão que o tangesse para o Brasil com toda a corte, o quanto hoje seríamos muito mais desenvolvidos e talvez possuindo um território bem maior dada a ânsia de conquista que aquele rei possuía. Passamos trezentos anos sob a égide do reino português e aqui as praças tinham que possuir um pelourinho com as armas de Portugal e tendo em destaque a torre altíssima da igreja. Não se conheciam bancos nem escolas como teve início a colonização dos Estados Unidos. Educação aqui era em seminários ou colégios de freiras. O nosso primeiro banco, o do Brasil, foi criado pelo rei chegante em 1808, e as primeiras escolas independentes. D. João não era, ao que se sabe, uma figura tão desastrosa como se pinta. É verdade que era muito feio. Basta ver os desenhos que dele foram feitos. E é porque naquele tempo, os pintores pintavam os reis da forma mais bela possível a fim de não terminarem com uma corda no pescoço. Também o fato de comer um cacho de bananas de uma sentada, um saco de mangas, isso só como sobremesa de um cabrito inteiro na refeição, não o impediam de ainda encher os bolsos com coxas e azas de galinhas para beliscar durante as óperas. Tudo isso não impede de alguém ser um bom administrador, principalmente, tendo uma esposa voluntariosa que adorava o convívio com os escravos. Dom João VI veio para o Brasil trazendo entre quinze a vinte mil apaniguados das sinecuras da corte portuguesa que aqui chegando, colocaram os cariocas para ir morar nos matos e ocuparam suas casas. Essa multidão de fugitivos do general Junot ainda pediu uma escolta inglesa para chegar até aqui, aumentando uma dívida externa impagável por décadas. Trouxeram até a mobília dos palácios de Queluz e de Mafra. Não trouxeram o tesouro principal, os livros. Deixamos de receber em torno de 40.000 volumes de clássicos da Literatura, da Filosofia e da História e das mais variadas ciências que seriam de imensurável importância para nossa formação cultural. Considero esse, o grande pecado de João e de Carlota. De resto, tudo nos foi favorável. A unidade brasileira, a extensão territorial e o fato de ser o único monarca europeu em toda história dessa nossa América a transferir-se para o novo mundo. São coisas que só acontecem mesmo entre Portugal e Brasil. O Brasil dormiu colônia e acordou metrópole, o outro adormeceu metrópole e acordou duplamente colônia, do Brasil e de França. Durante 2008 muito vai se discutir essa questão. São duzentos anos de um poder que se instalou no sudeste deixando o nosso Nordeste lambendo os beiços. Aqui surgiram revoltas, barricadas mas as coisas continuam vindo de lá. O centro do poder nacional no Sudeste criou ao longo dos tempos um eixão maravilha que faz com que o resto do Brasil se curve a um colonialismo que nem a mudança da capital federal para Brasília conseguiu mudar. O importante nesse aniversário da transmigração da família real para o Brasil vai ser, ao longo do ano, o olhar que se vai lançar sobre a história. Não gostamos de história, não respeitamos a memória do nosso país. Daí que um momento como esse provoca uma leitura da nossa trajetória histórica. E isso é bom porque chegaremos entre muitas conclusões à de que o que tem acontecido com o Brasil é diferente do acontecido com os outros países da América. O descobrimento do Brasil não está pois completado. Conhecê-lo historicamente é uma das formas de avançarmos no seu descobrimento.

 

08/01/2008.

 

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