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  • Foto do escritorBatista de Lima

Discurso de Batista de Lima em sua posse na ACL

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HOJE, FAZ EXATAMENTE 23 (VINTE E TRÊS) ANOS DA POSSE DE BATISTA DE LIMA NA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS!

CORDIAIS CONGRATULAÇÕES!

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DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS

- Batista de Lima


"A Literatura Cearense é uma literatura de mutirão. A sua história é uma sucessão de grupos que se editam em antologias, revistas, jornais e suplementos literários. Esse espírito congregador é provocado pelas dificuldades de editoração e pela inexistência de formas de distribuição. Só se agrupando o escritor publica e divulga seus escritos. E entre as entidades mais consistentes de nossa história literária, a mais duradoura tem sido a Academia Cearense de Letras que já ultrapassou a difícil fronteira dos cem anos de funcionamento. Os principais intelectuais da terra de Alencar têm passado por este sodalício. É pois muito honroso para mim, fazer parte de uma entidade tão seleta, de intelectuais cearenses. Mais honroso ainda é ser apresentado na posse por um Acadêmico conterrâneo, de Lavras da Mangabeira, Professor Dr. Linhares Filho, por quem tive a honra de ser orientado quando apresentei minha tese de mestrado em literatura na Universidade Federal do Ceará.


Quanto à cadeira de número 02 que passarei a ocupar, tem como patrono, o escritor Álvaro Martins. Sendo um dos fundadores da Padaria Espiritual, Álvaro Dias Martins adotou, como padeiro, o criptônimo de "Policarpo Estouro". Filho de Trairi, nasceu em 4 de abril de 1868. Já em 1879 estava em Fortaleza, tendo desta capital, embarcado para o Rio de Janeiro, em 1895, onde, como republicano e abolicionista, colaborou nos jornais "Cidade do Rio" e "Gazeta Nacional". Voltando ao Ceará, colaborou no "Libertador". Fundou o Clube Republicano e foi um dos organizadores do Centro Republicano. Foi funcionário aduaneiro, Promotor Público em Canindé e Professor de Literatura no Liceu do Ceará. Faleceu aos 38 anos de idade, no dia 30 de junho de 1906. Álvaro Martins, ou "Alvarins", como às vezes se assinava, publicou: Os pescadores da Taíba 1895; Capela milagrosa, 1898; Agonia suprema 901; Casa mal assombrada, 1903. Escreveu ainda, para o teatro, Belecho e Lopes Weiga e Cia, ambos em 1898. Irmão de Antônio Martins, um dos poetas da abolição, Álvaro chegou a hostilizar a Padaria Espiritual quando essa começou a fugir dos objetivos iniciais a que se propunha; resultado: foi expulso da Padaria, por sua rebeldia. Poeta aplaudido no seu tempo, Álvaro Martins derivava entre o verso popular, com linguagem sertaneja, e o soneto parnasiano de pura lavra, daí ser tido por Sânzio de Azevedo, como um dos mais estranhos poetas da literatura cearense. Ancestral de numerosos descendentes, faz-se mister citar, entre muitos, sua neta Cléa Martins Campêlo, pertencente atualmente à ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, poetisa, já com livro de poemas publicado.


O último ocupante da cadeira número 02 a quem humildemente tentaremos substituir, foi, até 11.07.1997, quando faleceu, o Comendador Luís Cavalcante Sucupira. Nascido em 11 de maio de 1901, aqui mesmo em Fortaleza, filho de Carolino Sucupira e Maria Edwirges Vieira Cavalcante, como membro desta Academia, onde ingressou em 1930, passou 67 anos, o que consideramos caso inédito no nosso conhecimento, de alguém que tenha perdurado tanto tempo nesta casa. A base de sua formação se deu no Colégio Cearense dos Irmãos Maristas. Essa formação não foi apenas intelectual mas também religiosa. E foi seguindo os princípios da Santa Madre Igreja Católica que chegou a Comendador da Ordem de São Gregório Magno, título outorgado pela Santa Sé. Também graças à sua prática religiosa é que mesmo residindo no Rio de Janeiro, teve teu nome indicado para concorrer à Câmara Federal pela I Liga Eleitoral Católica, representando o Ceará, tendo sido eleito para a Assembléia Constituinte de 1933 a 1934, ficando pois como Deputado Federal, até 1937 e tendo sido atuante entre seus pares. Entre as várias bandeiras que desenvolveu no parlamento, citem-se: a criação do dia da Pátria e a sua defesa da pluralidade sindical.

Ainda na esfera federal foi chefe de Gabinete do ministro da Viação quando o titular era o intelectual paraibano José Américo de Almeida, autor de A bagaceira. No âmbito estadual chegou a Secretário da Fazenda e interinamente a interventor Federal, no nosso Estado. Como educador, o Professor Luís Sucupira foi um dos fundadores e dos primeiros professores da Faculdade Católica de Filosofia do Ceará. Foi Presidente da Campanha de Escolas da Comunidade no Ceará (CENEC), um conglomerado de 84 estabelecimentos de ensino. Lecionou nas melhores instituições de ensino cariocas e cearenses. No Rio de Janeiro foi Professor do tradicional Colégio Sacré Coeur, no Instituto Católico de Estudos Superiores e na Escola do Estado Maior do Exército. Aqui em Fortaleza, foi professor de Sociologia, Psicologia e Filosofia, alternadamente, ao longo de vinte e cinco anos, no Colégio da Imaculada Conceição (De 1941 a 1966). No mesmo período lecionava as mesmas disciplinas no Colégio das Dorotéias. Durante 8 anos foi professor do Curso Superior do Seminário de Fortaleza, na disciplina Ação Católica. Lecionou Estatística na Faculdade de Ciências Econômicas do Ceará e na Escola de Comércio Padre Champagnat. Também lecionou Filosofia no colégio Cearense, chegando assim a ser mestre onde fora aprendiz. Foi fundador professor da Escola de Serviço Social.


Luís Sucupira era tenaz na defesa dos princípios do catolicismo como bem demonstrou nas páginas do jornal "O Nordeste", órgão vinculado à Igreja Católica, no Ceará. Era também perspicaz na sua visão de mundo, tendo tido a iniciativa da introdução do uso do gás butano, em Fortaleza. Não tendo pretensões comerciais, Sucupira convenceu, para levar em frente sua idéia, o comerciante Valdemar Freire, mais conhecido por Mazine, que à época possuía um posto de aluguel de carros da marca "Packard" no centro de Fortaleza. Mazine começou a empreitada, e com o tempo resolveu transferir a empresa para quem a desejasse adquiri-la. Foi quando surgiu o jovem comerciante Edson Queiroz, homem de larga visão e inesgotável capacidade de trabalho, que comprando a empresa nascente, transformou-a com o tempo, na Ceará Gás Butano, uma das mais importantes organizações industriais e comerciais do Brasil.


Luís Sucupira era autêntico no que escrevia e foi por isso que arrebanhou para junto de si, amizades preciosas: Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Atayde, e Dom Sebastião Leme, arcebispo do Rio de Janeiro foram seus particulares amigos. Aqui no Ceará, José Martins Rodrigues, Paulo Sarasate, Virgílio Távora, Armando Falcão, que o cognominou de "tigre da honestidade". Antônio Martins Filho, o Reitor dos Reitores, com quem conviveu por longo tempo no Instituto do Ceará e nesta Academia.

Na literatura, Luís Sucupira iniciou-se precocemente. Ainda imberbe, no verdor dos 17 anos, já publicava seu primeiro livro de poesias com o título de Equatoriaes, com o pseudônimo de "Rubens Bráulio", recebendo de Olavo Bilac a seguinte referência, "você é poeta. Poeta de raça e alma". Destaca-se nesse livro entre outros poemas "A jangada", soneto assim apresentado:


Manhã - salta no mar a célere jangada

Entre festejos mil, entre outros mil cantares

Levando rumo certo, a vela ao vento inflada,

Penetra sem temor na imensidão dos mares.


E quando chega a tarde ela airosa qual fada

Os tripulantes traz aos seus queridos lares

Depois de um dia ausente, é com ânsia esperada

Entre festejos mil, entre outros mil cantares.


À linda jangadinha as nossas esperanças

Se assemelham demais: partem quando crianças

Ao grande mar da vida, as brancas velas soltam.


Porém, quando da vida a tarde vai chegando

Nem um ponto alveja a nós se vai mostrando

Volta a jangada à praia, elas porém não voltam.


Outro pseudônimo de Luís Sucupira foi "Patrício Juá", com que ele assina a obra intitulada de O livro que não foi escrito, surgida para o público, em 1930. Sobre esse romance, Rachel de Queiroz escreveu: "Que fluidez, que naturalidade, que encanto de expressão e de forma".


Na sua atuação no magistério, Luís Sucupira teve alunos que se notabilizaram com o tempo e que nunca esqueceram o mestre. Entre seus principais discípulos, podemos enumerar: Dom Eugênio Sales, Cardeal do Rio de Janeiro; Dom Miguel Câmara, Arcebispo de Teresina, Dom José Freire Falcão, Cardeal de Brasília; além de personalidades da política ou do mundo empresarial como a Senhora Dona Yolanda Queiroz, aluna sua que foi, no Colégio das Dorotéias.


Esse grande Cearense começou no jornalismo, escrevendo no Jornal "A Conquista", órgão do Recreio Literário Soriano de Albuquerque. Depois participou do Grêmio Literário Cearense onde foi companheiro, entre outros, de: Otacílio de Azevedo e Ribeiro Ramos. Quando em 1927, surgiu o jornal diário e vespertino, "O Nordeste", sob o patrocínio da Arquidiocese de Fortaleza, e com a direção de Andrade Furtado, passou ele a lazer parte do corpo de redação onde militou de 1922 a 1964. Foram 42 anos de jornalismo. Ainda no jornalismo, foi redator chefe do jornal "A Fortaleza", órgão da Federação dos trabalhadores cristãos do Ceará, secretariou a revista "A ordem", no Rio de Janeiro e dirigiu o jornal "O Estado", no Recife e "A União", no Rio de Janeiro. Foi diretor do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará e presidente da Associação Cearense de Imprensa.


Luís Cavalcante Sucupira é para nós cearenses, um referencial, quando se trata de jornalismo impresso. É uma legenda quando verificamos a trajetória da Igreja Católica na nossa terra. É um exemplo como educador. Luís Cavalcante Sucupira com sua brilhante trajetória de vida tornou-se uma das glórias do Ceará. A ele muito devemos e a ele teremos sempre que recorrer quando lançarmos nosso olhar sobre a história cearense deste século findante.


Difícil, portanto, é substituir tão ilustre personalidade acadêmica. Pois oriundo das fraldas da Serra das Almécegas, no sítio Taquari, no distrito de Mangabeira, não tenho o suporte de uma trajetória tão brilhante para substituí-lo à altura. Tenho pois que recorrer, como faço nos momentos de dificuldades aos meus ancestrais, como faziam os índios da nossa América. Recorro pois à proteção dos meus avós, sábios formados na grandiosa escola da natureza e aperfeiçoados na faculdade do bom viver.

Recorro pois a José Cândido de Lima, avô materno, e Osmundo Batista de Lima, avô paterno. José Cândido de Lima me deu minha mãe, presente maior da minha vida. Ela que me trouxe ao mundo, numa madrugada chuvosa e fria de uma terça-feira, dia 17 de maio de 1949, numa casa entre dois açudes que nunca os vi secos. José Cândido de Lima fincou minhas raízes na terra mãe. Construiu os açudes para instalar o paraíso e erigiu o engenho de rapaduras para adocicar a alma e instaurar definitivamente o balançar dos pendões de cana nas nossas retinas. Meu avô materno me plantou na terra.


O outro, Osmundo Batista de Lima, abriu as portas do universo. Encaminhou-me pelas letras, comprovando que aquele céu azul que parecia tocar à serra, era uma ilusão de ótica, e que o mundo é mais amplo do que o que está represado nos quatro cantos do Taquari. Então: um avô me deu raízes; o outro me deu asas. O que tenho sido; um pássaro preso a uma gaiola escancarada. Ao tomar posse nesta Academia agradeço ao poder de vôo que me emprestou Osmundo Batista de Lima abrindo-me o mundo da educação. Mas aqui não poderei ficar sem meus teréns. Não posso deixar de trazer aos ombros José Cândido de Lima e o açude novo e o açude velho, o engenho fumegante expelindo o cheiro gostoso de mel quente e a labareda altiva se libertando da chaminé. Não posso ficar aqui, se comigo não ficar a Serra das Almécegas com seus riachos roncadores, nos invernos, com aquela chuva que vai esbranquiçando-a como a cobri-la de um véu que a devolve verde. O que trago a esta casa não é apenas a produção de sete livros, mas são os calos na mão de corta-mel, tombador de cana e cambiteiro. Trago a esta casa o faro do sertanejo, o cheiro de chuva na terra, o luar maternal, o fartum do gado descansando no terreiro após um dia na manga e uma peleja de vilola entre Fransquim Cego e Pedro Severino. Permitam-me Senhores Acadêmicos que eu chegue a este soligeu mas não me esqueça dos bois navegante, chovisco, rapé e surubim, da vaca rouxinol, do jumento macaúba e do cachorro javali. Que eu verse aqui sobre as mais profundas prosopopéias. Chegue a esta imortalidade sem esquecer os versos de Pessoa: "Não conheço ninguém que tenha levado porrada na vida, meus amigos são heróis em tudo". Muitas topadas tenho levado por esta vida. Mas as topadas fazem a sagração do caminhar e esse caminhar para aqui chegar começou com minha, primeira professora, Dona Maria Eunice, na escolinha do sítio Taquari, quando levávamos, cada aluno, sua cadeira sobre a cabeça, daí minha cabeça chata. A segunda professora, no mesmo local, foi _Dona Estelita Peixoto, marcante na sua letra bem trabalhada, cantora de Igreja e filha de Maria. A terceira, ainda no mesmo sítio mas já em casa diferente, foi Dona Vilani Lemos, com sua ternura adolescente. Foi então que ultrapassei a serra para ter em Maria da Glória Lima a minha quarta e mais elétrica professora. A quinta professora, já na Vila Mangabeira foi Ione Lemos que eu achava parecida com Nossa Senhora. Na mesma Mangabeira, tive minha sexta professora Socorro Oliveira, tão cheia de esperança que até seu sítio de origem se chamava Baixio Verde, finalmente fui tragado pelas distâncias e despejado em Fortaleza, para ter meu sétimo professor, Joaquim Batista de Lima, na escola Oswaldo Cruz, no Bairro de Carlito Pomplona. Essa foi minha primeira Academia e que eu fiz questão de instalá-la neste palco no dia de hoje. Daí veio o seminário Apostólico da Sagrada Fanu1ia, dos padres alemães, no Crato. Veio o colégio José Valdo Ramos em Fortaleza e o Liceu do Ceará, onde os nomes dos professores foram dando lugar aos nomes das instituições de ensino: Universidade Estadual do Ceará onde fiz Letras e Pedagogia, Universidade de Fortaleza onde fiz especialização, onde cheguei a Diretor do Centro de Ciências Humanas e passei a admirar esse grande administrador que é o Dr. Airton Queiroz, o chanceler, e Universidade Federal do Ceará, onde fiz o Mestrado. Neste caminhar de aluno que ainda perdura, tive mestres inesquecíveis como D. Xavier Nierhof, Pe. Francisco Bliestle, Rebouças Macambira, José Alves Fernandes, Pe. Jessé Oliveira, Unhares Filho, Horácio Dídimo, Pedro Paulo Montenegro, Teoberto Landim, Nádia Batella Gotlib, Wander Melo Miranda, Domenico Batochio, etc.


Na literatura, ingressei ainda como aluno do Liceu a convite do irrequieto Carneiro Portela, no Clube dos Poetas Cearenses, para depois passar pelo Grupo Siriará onde convivi com o animador literário Rogaciano Leite Filho e mais uma plêiade de 20 jovens intelectuais. Depois teve o Catolé com Dias da Silva. Os livros foram surgindo (foram surgindo) a partir de 1977 com Miranças a 1". aventura afoita, passando por Os viventes da Serra Negra em 1981, e Engenho em 1984. Houve então um intervalo de 9 anos sem publicação de livros para em 1993 aparecerem dois livros de ensaios literários: Os vazios repletos e Moreira Campos. a escritura da ordem e da desordem. Em 1995 veio Janeiro da Encarnacão e finalmente em 1997, O Pescador de Tabocal, onde a mitologia de uma cidade sertaneja que latejava na minha memória veio à tona.


No magistério, estreei no Educandário Casimiro de Abreu, em 1967; depois vieram: o Colégio Brasil, o Colégio General Osório, a Escola de 1°. Grau Júlia Giffoni, o Colégio Militar de Fortaleza, a Universidade de Fortaleza e a Universidade Estadual do Ceará. Nesse itinerário, tenho tido uma legião de alunos que tem me ensinado tanto quanto me ensinam os mais belos livros. No entanto, o que tenho aprendido com meus alunos, meus mestres e meus livros, tem sido um burilamento da real sabedoria do meu povo, um povo tão sábio, que tem sido e será sempre uma fonte inesgotável de respostas as minha dúvidas.


A esse povo que conheço

porque carrego seu jeito

esquisito de dobrar esquinas

e desdobrar as dores

como se de fibras fossem


Conheço este povo

sua terra

seu berro

como ferro fundido

na mesma fornalha

como filho surgido


do mesmo delírio

Conheço este povo

porque conheço

seu chão

seu adubo

seu medo no riso

sua vastidão no olhar

seu ruivo de fome

sua lágrima lúgubre


Conheço este povo

porque herdei seus pés

sua longas raízes

seus pesados passos

porque herdei seu caminhar

que os caminhos guardaram


Conheço este povo

porque conheço sua voz

seus verbos

suas linguagens


Daí que

joguei o cabresto

no lombo das palavras

e soltei todas de chocalho

e prenhes na manga imensa

deste mundo afora


Que sigam os caminhos

que lhes derem as mãos

que povoem

que povoem

e estourem

os limites das fronteiras


Pois um homem se mede

pela pontaria das suas palavras

e pelo poder de fogo de sua vontade.


Muito obrigado.

Fortaleza, 24 de março de 1998."


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Abaixo o discurso de Batista de Lima por ocasião de sua posse na ACL, em pdf para baixar:


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