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Dias da Silva verso e viola

Batista de Lima


Vinte e um poetas vivos e vinte já falecidos fazem uma festa de poesia por quinhentas páginas de rimas. Começa com Cícero Macário e termina com Vicente Lemos a lista dos vinte e um, que por aqui ainda mourejam. Entre eles uma mulher puxa o verso por escrito, traz o nome de Erilânia e “no metrô do presente vem puxando / um vagão de saudade do passado”. Deles todos o migrante, que se iludiu com São Paulo, é o Trajano Bezerra, que feito Jonas profeta, foi engolido e deglutido, pela baleia de cimento e aço.

Dias da Silva garimpou esses quarenta e um poetas, todos lá da Mangabeira, só perdeu um dos vivos, enquanto o livro era feito. Foi o Francimar Mangueira, que de tanto amar sua terra e de por ela ser amado, nem parece que se foi, de tão presente ainda estar. Outro poeta de fibra, que canta aquela terra, traz Ney Lemos por nome e proclama aos sete ventos, que “falta chuva no sertão / mas não falta um violeiro”. Há no entanto uma dúvida, quem melhor se faz poeta, de um lado Rubens Diniz, de outro Vicente Lemos, é bom prevenir os dois, pertinho deles está o poeta Edmar Melo.

Francisco Édson é destaque no cultivo das sextilhas, rimando nos versos pares, põe Jesus mais alto ainda. Rubens Lemos fica triste, entrando na casa paterna, sem a mãe morando nela, e mesmo filho de São José, foi criado por Mangabeira. Dias da Silva pesquisador foi da Barra ao Taquari, descobrir José Edivan, mas foi com muita cautela, pois se não quiser mexer com ele, deixe quieta sua terra. Nessa viagem ao Taquari, mestre Dias foi em frente e no mesmo sítio encontrou o moço Edson dos Santos, criador de belas décimas marcadas de telurismo. José Heriberto denuncia a devastação das matas, depois diz que “saudade é a falta que fica / daquilo que não ficou”.

Jaime Dias desabafa, do fundo da sua tristeza, que o mundo só veio prestar, depois que ele não presta mais. Enquanto isso Luiz Cândido, morador do Limoeiro, canta tristonho e repete que a morte chegou sutil, pegou sua mãe e partiu. O poeta Lourival Batista, mesmo fazendo soneto, gosta mesmo é de cordel, canta a terra donde veio, em versos de muita saudade. Depois vem Luiz Canuto, com quadras de circunstâncias, seguido de Garcia Cortez, cantando o abandono local, “e a vila se emborcando / igual a tacho de mel / na gamela da tristeza”. Sebastião Dias em caso à parte, em décimas bem buriladas, canta a casa abandonada e a falta de sua mãe como a rainha do lar.

A RDS Editora caprichou de capa a capa, e as sextilhas de Tributino, diagramou com esmero. O mesmo zelo mostrou, nas quadras e nas oitavas do vate Vicente Amorim. E no final do compêndio, para não deixar lacuna, aqueles que já se foram, na viagem sem retorno, tiveram seus versos mostrados para as novas gerações. Anjoli e Anália Cândido, Antônio Gande e Irmã Elizabeth , Chagas de Babu e sua cachaça, Franço Lemos e o irmão Chagas são poetas lá da terra que precisam ser citados. Tem ainda Eudes Dias, João Mangueira e suas décimas, Joaquim Firmino de Sousa, Zé de Tinta e Zé Pequeno e a “Cruz da Feiticeira, de Luiz Firmino de Sousa. Professora Maria Oliveira, Deca Lemos e Bidé, Pedro Arístides e Mundoca, aquele lá do Sapé, junto ao Padre Nonato, vêm completar a saudade.

São 41 poetas, menestréis e travadores, padre, doutor e freira, tem também trabalhadores, que escrevem com a enxada, poemas na terra seca e na molhada também. Cantam a terra em que nasceram, pela fanhosa voz do verso, pensando os que moram longe, voltar um dia ao torrão. Enquanto isso não vem, têm na poesia consolo, adubada de saudade, temperada com viola. “Verso e Viola em Mangabeira” se torna um documento de um povo que sabe rimar, rezar a São Sebastião, amainar a terra seca, com o suor que vem do rosto e plantar a esperança no horizonte futuro.


jbatista@unifor.br


FONTE: Jornal Diário do Nordeste. 15/01/19.




 

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