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Dias da Silva e a Sala de Leitura

Batista de Lima




A leitura vem tomando formas de se efetivar que surpreendem os mais tradicionais leitores. As redes sociais e seus aplicativos proporcionam acessos a livros que muitas vezes não se encontram em bibliotecas situadas em nosso entorno. Isso não quer dizer que a tradicional leitura do livro impresso esteja com seus dias contados. O que acontece é que ler é um ato que toma variadas formas de se realizar. Nós não lemos apenas palavras, lemos também imagens, ícones da cultura, manifestações da natureza e comportamentos humanos. Ler é satisfazer curiosidades, ampliar dimensões e interrogar mundos.

A leitura mais formal e mais sofisticada ainda é a dos livros. Primeiro porque o leitor precisa antes aprender a ler, conhecer o código linguístico impresso e saber decifrá-lo. Depois precisa ter em mãos o veículo que proporciona sua leitura: o livro, a revista, o jornal, o cordel, ou o reclame. Entretanto, é o livro que traz a maior densidade textual para seus leitores. É o veículo que retém maior quantidade de saberes. Portanto, o manuseio do livro ainda é a forma mais eficiente para se encontrar a sabedoria dos gênios e a ciência dos pesquisadores.

Os livros, quando se juntam, formam as bibliotecas, que são sítios, e não sites, em que verdejam mundos e modos de viver. As bibliotecas se configuram como os mais completos laboratórios das instituições de ensino. Por isso que as mais famosas universidades do mundo cultivam bibliotecas com milhões de livros. Ali latejam saberes necessários à evolução humana, que não para de se transformar no passar dos tempos.

Bibliotecas também podem se apresentar como pequenos acervos mantidos em residências particulares, ou como salas de leitura de colégios ou comunidades.

Uma sala de leitura que impressiona é a que evoluiu da biblioteca particular do escritor Dias da Silva. É a Sala de Leitura José Cândido Dias, com esse nome em homenagem a seu pai. Afinal, foi numa doação paterna de um terreno no centro da vila Mangabeira em que o Professor Dias construiu sua sala de leitura e abriu as portas à comunidade do seu torrão natal. Não é apenas a vila que se beneficia de seu empreendimento, pois até cidades vizinhas enviam seus estudantes para pesquisar ali.

Aquela sala de leitura conta hoje com acervo de quinze mil volumes. Está situada em um distrito de Lavras da Mangabeira, que possui cinco mil habitantes e que contempla três volumes para cada mangabeirense. Todas as despesas de manutenção do equipamento, bem como de seu funcionamento ficam às expensas do seu criador, o professor e escritor Dias da Silva, que entre seus pares mais próximos é chamado de Ivonildo Dias. Pois Ivonildo vem há anos dispensando um carinho todo especial àquela biblioteca e vem contribuindo em muito com a educação do lugar, que possui escola de ensino fundamental e de ensino médio. Os alunos têm um excelente laboratório para pesquisar.

Dias da Silva, além da Sala de Leitura José Cândido Dias, mantém desde 1999 o jornal alternativo "Binóculo". É um periódico mensal com tiragem impressa de mais de duzentos exemplares distribuídos pelos Correios, gratuitamente, para seus leitores. Nesse jornal pontificam resenhas literárias, poemas, crônicas e contos de sua autoria e de leitores dos mais variados locais. Até do exterior chegam textos de contribuição, tendo em vista que o jornal chega a esses locais com a precisão mensal. Os assinantes, que chegam a duas centenas, apenas têm o compromisso de uma vez por ano, acusar o recebimento do jornal.

Antes do Binóculo, o Dias da Silva, por muitos anos, manteve em circulação outro jornal alternativo, nos mesmos moldes do atual. Era O Catolé, que por mais de uma década circulou pelo Brasil e exterior.

Esse trabalho desenvolvido ao longo dos anos também fez com que o Professor Dias já editasse mais de duas dezenas de livros, destacando-se, em especial, sua produção de crítica literária. Para isso ele tem se revelado um permanente leitor dos principais lançamentos ocorridos no Ceará e no resto do Brasil. Suas leituras são transformadas em resenhas avaliadoras do que melhor se produz entre nós.

Essa vocação literária de Dias da Silva vem desde os tempos de seminarista no Seminário São José, do Crato e, posteriormente, dos estudos no Seminário da Prainha, em Fortaleza. Também formado em Direito e, posteriormente em Letras, esse intelectual, por vários anos, militou no ensino universitário, dedicando-se à formação de jovens, principalmente incrementando o hábito da leitura no meio estudantil.

Por tudo isso verifica-se que sua Sala de Leitura José Cândido Dias é o coroamento de uma trajetória literária que vem sendo construída ao longo dos anos, tendo como principal foco a formação de novos leitores, algo de que carece o sistema educacional de nosso Brasil.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 28/03/2017.


 

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