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Ciro Saraiva e os governadores


Batista de Lima


Ciro Saraiva é um jornalista que passou muito tempo próximo ao poder. Foi secretário de dois governadores do Ceará: Manoel de Castro e Gonzaga Mota. Antes, porém, como cronista político, esteve acompanhando a trajetória de outros governadores cearenses. Por isso que imprime credibilidade quando presta informações sobre a política cearense de 1947 aos nossos dias. Daí que esse seu livro "Antes dos Coronéis" é um apanhado histórico dos mais importantes para quem quer conhecer nossa história política recente. Essa edição da ABC Editora, com 352 páginas, de 2012, trata do período de 1947 a 1962, o que abrange os governos de Faustino de Albuquerque, Raul Barbosa, Paulo Sarasate e Parsifal Barroso. É um período histórico de muitas perturbações políticas.

Curioso é que esses quatro governadores iniciaram seus mandatos com a graça do povo, todavia todos os quatro terminaram desgastados. Os quatro eram bacharéis em Direito, sendo que Faustino de Albuquerque já havia chegado a Desembargador quando foi eleito governador. Os quatro praticamente se colocaram entre dois momentos de exceção: O Estado Novo e a Revolução de 1964. Durante todo esse período histórico, dois partidos, quase que exclusivamente, dividiam o poder, ora o PSD, ora a UDN. Só com a União pelo Ceará, que guindou Virgílio Távora ao governo, essa divisão feneceu.

Ciro Saraiva traça o perfil de cada governador retratado. Começa afirmando que Faustino de Albuquerque fez um governo autoritário. No setor de segurança ele criou a Rádio Patrulha, que teve um impacto midiático na época como o Ronda do Quarteirão em nossos dias. Faustino foi eleito pela UDN, União Democrática Nacional, fundada nacionalmente em 7 de abril de 1945. A grande liderança desse partido, no Ceará, foi de Manoel do Nascimento Fernandes Távora, que depois a passou para seu filho, Virgílio Távora. A candidatura de Faustino não contou com o apoio do clero por ter aceito o apoio dos comunistas.

O segundo governador de que trata o autor é Raul Barbosa, um homem de sorriso largo. Chegou tão desgastado ao fim do seu governo que não conseguiu se eleger para o Senado. Talvez o fato de ser "um homem vaidoso e autossuficiente" tenha influído para sua derrota para o Senado. Após essa derrota, Raul Barbosa deixou a política. Um dos seus empreendimentos novidadeiros foi a promoção pela primeira vez em nosso estado, da nucleação artificial das nuvens, promovendo chuvas que amenizavam os problemas da seca. Um detalhe que nos leva a Raul Barbosa é que "foi o único pessedista eleito governador do Ceará".

O terceiro governador de que trata Ciro Saraiva nesse livro é Paulo Sarasate. Filho de Henrique Jorge, que era músico e fora um dos fundadores da Padaria Espiritual, Sarasate dedicou-se à imprensa, antes da política. E juntamente com Filgueiras Lima fundou o Colégio Lourenço Filho. Foi um bom deputado, e juntamente com Virgílio Távora e Leão Sampaio, lutou pela chegada ao Cariri da energia de Paulo Afonso e também pela instalação, em Fortaleza, do Banco do Nordeste. Disputou o governo estadual e ganhou de Armando Falcão em uma eleição disputadíssima.

O quarto e último governador do Ceará, antes dos coronéis, foi Parsifal Barroso. Parsifal era genro de Chico Monte, político autoritário e poderoso que, fazendo política em Sobral, praticamente mandava na Zona Norte do Ceará. Dizem que a esposa do governador, Olga Monte Barroso, mandava mais que o marido na hora das decisões das questões políticas. Daí o apelido de governador "barriga branca" com que alguns adversários tachavam Barroso. O período desse governo, de 1958 a 1962, foi marcado por "seca, corrupção, pistolagem, contrabando (café e uísque) e de perseguição, além do empreguismo praticado na Assembleia". Além disso foi nesse período em que ocorreu o trágico transbordamento do açude Orós, na madrugada de 26 de janeiro de 1960.

Esse livro de Ciro Saraiva é um manancial de informações que interessam a quem quiser conhecer a recente história do Ceará. Como todo grande livro, não está livre de algumas observações que poderão levá-lo a ficar melhor ainda para uma segunda edição. Na página 117 está escrito que Olavo Oliveira foi advogado responsável pela "acusação do assassinato do deputado Gustavo Augusto, pai do ministro Vicente Augusto". Esse crime realmente ocorreu em um bonde, ao transitar pela Praça do Ferreira. O criminoso chamava-se Raimundo de Eusébio, parente próximo do morto. Acontece que Gustavo Augusto não era pai de Vicente Augusto e sim, avô. O pai de Vicente Augusto era Raimundo Augusto. Tudo isso foi desfecho de episódio sangrento entre a família Leite e Augusto, anteriormente na cidade de Lavras da Mangabeira.

Por fim podemos afirmar que esse livro de Ciro Saraiva é um manAual de história para os atuais políticos que não conhecem nossa história política. Também se configura como fonte de pesquisa para professores e alunos que estudam a História Geral e desconhecem a nossa. É evidente que para uma segunda edição da obra seja necessária uma cuidadosa revisão ortográfica. Isso no entanto não compromete essa primeira edição que temos em nosso poder. O certo é que Ciro Saraiva precisa ser lido nesse livro sobre nossa política e seus personagens principais, os governadores. Afinal, seu depoimento o transforma em historiador que merece todo o nosso respeito.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 26/11/13.


 

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