top of page
  • Foto do escritorBatista de Lima

Cinquenta anos de engenharia

Batista de Lima


O dia 16 de novembro último marcou o cinquentenário de formatura da primeira turma de Engenharia da Universidade Federal do Ceará. Esse jubileu de ouro passaria em branco, não fosse o tirocínio daqueles formandos em editar agora o número 4 do jornal "O Concreto", que à época do início do curso era o órgão oficial do Diretório Acadêmico Válter Sá, da Escola de Engenharia.

Esse número especial de aniversário é uma galeria de fotos da época, além da reprodução de alguns textos memoráveis dos três primeiros números do periódico. Mesmo assim aparecem textos novos, dado o empenho do grupo organizador desse número festivo.

O grupo de organizadores dessa comemoração escrita é formado pelos engenheiros pioneiros José Evangelista Moreira, César Aziz Ary, Fernando Borges Monteiro e Rui Filgueiras Lima. Dos treze formandos naquele distante 1960, apenas seis estão vivos, e desses, os quatro citados se reuniram várias vezes em um dos salões do Ideal Clube, onde confeccionaram o jornal, numa nova edição, e organizaram outros eventos comemorativos. É interessante o teor memorialístico do novo impresso que vem contando toda a história da fundação do curso de Engenharia, enfatizando o empenho de duas personalidades da ocasião: o deputado federal Válter Sá e o reitor Martins Filho.

Essas duas personalidades se empenharam na criação do primeiro curso de Engenharia do Ceará. É tanto que a sede inicial para início do curso foi um casarão improvisado no bairro de Jacarecanga. Só algum tempo depois é que houve a transferência para o Benfica e há alguns anos, finalmente para o campus do Pici. É interessante verificar que o primeiro vestibular do curso foi organizado e executado pelo professor Prisco Bezerra, e contou com a participação de 55 candidatos, dos quais apenas 13 lograram aprovação.

É importante constatar entre os professores do curso, no seu início, a presença de nomes de figuras de projeção na nossa sociedade. São pessoas que escreveram seus nomes na história cearense. Entre eles, podemos verificar a presença de José Lins de Albuquerque, José Walter Cavalcante, José Lino da Silveira Filho, Jesamar Leão de Oliveira, Amílcar Távora, José Lourenço Mont´Alverne, Nelson Chaves, Eduardo Sabóia, Emanuel Arruda, Luciano Pamplona, Aurélio Câmara, Jaime Verçosa, Murilo Resende e Lauro Vinhas Lopes, isso só para citar aqueles do nosso conhecimento.

Esse elenco de professores, aliados a um grupo de estudantes, que valorizaram o pioneirismo da turma através do interesse pelo curso, é que transformou aqueles alunos em verdadeiros expoentes da engenharia de nosso Ceará. Até a atmosfera histórica daquele momento contribuiu para esse sucesso.

Haja vista que o governo Juscelino iniciava a construção de Brasília e aqui no Ceará, com a seca de 1958 que assolou o sertão, levas de trabalhadores foram empregados na construção de estradas e de grandes açudes públicos. Essas construções eram verdadeiros laboratórios para os engenheirandos.

Além disso, muitas viagens foram feitas por essa turma inicial do curso. Estiveram em várias partes do Brasil, em canteiros de obras, a começar por Brasília que era erguida no Planalto Central, e terminando por Orós onde se construía o grande açude, hoje o 2º maior do Ceará. Também estiveram nas melhores escolas de engenharia do país, entre Minas, Rio e São Paulo, em viagens de estudos. Essa visão do que se fazia em nosso país em termos de estudos de engenharia, fez com que essa primeira turma concluísse o curso muito bem preparada.

Outro fator importante para o sucesso dessa turma pioneira, mesmo pequena, foi a participação, através do incentivo, da parte de seus familiares. Vemos em algumas fotos do periódico, o júbilo estampado no rosto dos familiares que participavam das solenidades, como no jantar de confraternização realizado no San Pedro Hotel, comemorando a formatura do grupo.

Essa primeira turma formou doze engenheiros: Fernando Borges Monteiro, José Evangelista Moreira, César Aziz Ary, Rui Filgueiras Lima, Aristeu Mitoso, Osmar de Oliveira Martins, Otomar Soares, Nathan Lecht Fiterman, Francisco de Paula Rodrigues Sobrinho, Osmir Costa de Castro, Sigefredo Diógenes Pinheiro e Edilson Queiroz.

Nesses cinquenta anos que se passaram, e que presenciaram o sucesso desse grupo primeiro de engenheiros formados no Ceará, muita coisa mudou. O jornal que na época era impresso em linotipo, teve esse quarto número diagramado em computador pela Expressão Gráfica.

O mundo virtual encontra aqueles engenheiros que treinaram em pranchetas, e que se debatiam com papel vegetal, tinta nanquim, compasso e régua, perfeitamente adaptados aos moderníssimos computadores com seus já produzidos programas gráficos. Está mais fácil? Não. Está mais rápido.

É essa rapidez que assombra. Esses cinquenta anos parecem cinco. Os cabelos brancos, os óculos de grau, os quilos a mais, os filhos, os netos, nada impede o retorno. Esse é o grande milagre da memória que tão pouco valorizamos. Esse grupo olha para trás para se ver na frente, como exemplo para as novas gerações que não podem esquecer que naquelas rudimentares pranchetas estavam nascendo os programas de que hoje se beneficiam. "O Concreto" de agora não é apenas mais um número de um jornal que existiu, é muito mais uma construção que concretiza mais um episódio dessa grande mestra da vida que é a História.


jbatista@unifor.br

11/01/11.

 

2 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page