Batista de Lima
O Centro Cultural Regional do Cariri está com sua inauguração marcada para 2022. É isso o que escreve Antônio Rodrigues na sua matéria de 17 de janeiro de 2019 neste Diário. Para mim no entanto ele já foi inaugurado no momento em que vi a fotografia do velho casarão, ilustrando o texto citado. É que, naquela vetusta casa religiosa, passei os cinco melhores anos da minha vida. Era o Seminário Apostólico da Sagrada Família em que fui seminarista de 1962 a 1967. Foram tempos de estudo e disciplina rígida dos padres alemães que moldaram o meu comportamento e de meus colegas.
Aulas pela manhã, esporte à tarde, estudo à noite eram rotinas que não cansavam. Na biblioteca, milhares de livros, dos clássicos aos populares, além de periódicos, estavam ali como um refeitório do espírito, porque no do corpo, eram servidas boas refeições enquanto se ouviam leituras de compêndios da literatura. Por isso que ali surgiram, além das vocações religiosas, cidadãos que hoje se destacam nos mais variados segmentos sociais. Foi por isso que sua desativação no final da década de 1960 deixou-nos compungidos.
Construído a partir de 1946, os padres alemães sentiram alguma reação por parte da sociedade cratense, quando do soerguimento daquela torre de 30m de altura. Achavam alguns que era para colocar alguns equipamentos de espionagem nazista. Com o tempo, no entanto, esse comportamento mudou a ponto de alguns padres da Alemanha ganharem paróquias na região. Exemplo mais significativo foi do Pe. Frederico Nierrhoff, por muitos anos vigário da igreja de São Vicente, em Crato. Ali, nós seminaristas vínhamos, aos domingos, ajudar às missas daquela igreja.
Logo após o encerramento das atividades do Seminário, passou a funcionar o Hospital Manoel de Abreu. Acontece que durante os vinte anos de seu funcionamento o Sagrada Família foi referência na formação dos jovens do sul cearense. Depois, o hospital teve seu tempo de funcionamento e também foi desativado. Agora, com a ideia da instalação do Centro Cultural, toda a região será beneficiada com o novo equipamento. Afinal, o Cariri é um manancial de múltiplas manifestações culturais, algumas ainda dispersas que poderão ter seu ponto de apoio e de promoção dos eventos afins.
Além de padre Frederico, foi notável a presença do padre Xavier Nierrhoff, seu primo, que era o Prefeito da instituição e excelente professor de Português. Terminou sendo nomeado bispo da cidade de Floresta, em Pernambuco. Ainda havia Pe. Francisco, de matemática, Padre Rodolfo, de Geografia, e alguns professores leigos como Hermínio Rebouças, José Newton Alves de Souza e Ana Maria Teles. Esses eram os mestres de mais destaque no ensino da instituição. Merecem, portanto, um compartimento do novo equipamento onde se instale a memória daquela antiga instituição formadora de centenas de cidadãos exemplares.
A ideia do Governo do Estado, de adquirir o prédio e transformá-lo em Centro Cultural da região, contempla antigo sonho da população caririense. Afinal, cada cidade do entorno daquela região metropolitana possui algo de curioso, histórico, religioso e artístico para ser apreciado. O prédio com frontispício de dois pavimentos, termina com quatro andares na parte de trás. Dezenas de salas amplas, compartimentos outros como salões de recreação, todo o conjunto arquitetônico está posto para instalação e funcionamento do centro de variados saberes que vão glorificar e mostrar ainda mais a fantástica região do Cariri.
FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 19/02/2019.
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