top of page
  • Foto do escritorBatista de Lima

Carla Castro e as escritoras cearenses


Batista de Lima



Muitas escritoras cearenses estavam no ostracismo até quando Carla Castro caiu em campo e conseguiu resgatá-las para os pósteros. Como são tantas, essas mulheres, a autora delimitou sua pesquisa em torno das que nasceram no século dezenove. Foi então que a pesquisadora se surpreendeu com o volume de autoras que foram surgindo na sua pesquisa. Todo o material recolhido foi publicado em livro de 372 páginas, da Expressão Gráfica e Editora, em 2019, com o título “Resquícios de memórias: Dicionário biobibliográfico de escritoras e ilustres cearenses do século dezenove”. São mulheres que se tornaram notáveis como escritoras ou como abolicionistas.

A maior parte dessas mulheres foi de alunas da Escala Normal, e muitas terminaram como professoras daquela instituição. Algumas estudaram no Colégio Imaculada Conceição. A cidade do interior que contribuiu com mais representantes foi Sobral, seguida pelo Crato. Quase todas foram abolicionistas e algumas delas fundaram e dirigiram instituições, como Alba Valdez que criou a Liga Feminista Cearense, em 1904, e foi a primeira mulher a ingressar na Academia Cearense de Letras, em 1922. Da mesma forma se apresenta Henriqueta Galeno que transformou a casa de seu pai em um ambiente cultural que dura até hoje.

É notável a atuação de escritoras como a professora Francisca Clotilde, autora de “A Divorciada”, 1902, e de Ana Nogueira Baptista, natural do Icó, e que se casou com o escritor Sabino Baptista, da Padaria Espiritual. Carla Castro, na sua arqueologia, foi encontrar Maria Thomázia e Elvira Pinho e apresentar aos seus leitores como as maiores abolicionistas cearenses. Até a Emília Freitas, com o seu famoso romance “A rainha do ignoto”, 1899, teve sua participação no movimento abolicionista. Essas mulheres fundaram a Sociedade Libertadora e tiveram participação fundamental na libertação dos escravos cearenses.

Carla Castro, por dezesseis anos, pesquisou pelas mais variadas fontes e resgatou 71 escritoras nascidas entre 1801 a 1900. Além disso, anexou aos perfis elaborados, os textos mais significativos de cada uma. Isso faz como que o livro se torne um misto de dicionário e antologia. É esse viés didático que torna a obra propícia para variadas gerações. Ao mesmo tempo põe em evidência escritoras valorosas que não tiveram a sorte de ser estudadas pelos críticos da Literatura Cearense.

Além das já citadas escritoras merece destaque: Anna Facó (1855-1926), autora dos romances “Nuvem” e “Rapto Jocoso”, e da coletânea de contos “Minha palmatória”. Essa escritora, nascida em Beberibe, produziu poemas, memórias e peças teatrais. Já no Crato foi onde nasceu Amélia Pedroso Batista, depois Amélia Pedroso Benebien. Foi a primeira cearense e a segunda brasileira a se formar em Medicina em 1889 na Bahia. Amava a poesia, deixando sonetos publicados em jornais. Faleceu aos 93 anos, em 1953.

Entre as sobralenses, merece destaque especial Anahid Paula Pessoa de Andrade, 1899-1993. Estudou os primeiros anos em Sobral e depois, em Fortaleza, no Imaculada Conceição. Escreveu poesia, crônicas e o romance “Terra de contraste”. Participou da Liga Feminina Sobralense. Como a maioria dessas mulheres do livro, uma guerreira. Quando o filho foi preso acusado de comunista, no Rio de Janeiro, ela, naqueles conturbados anos pós-guerra, confrontou os militares e liderando outras mulheres conseguiu a soltura do filho. Da mesma forma guerreira é Carla Castro que, arqueóloga, escavou no passado, as histórias dessas mulheres que vão sempre ser lembradas.

 

10/03/2020.

 

8 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page