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  • Foto do escritorBatista de Lima

Calixto Júnior e o cangaço


Batista de Lima



Aurora é uma porta aberta para o Cariri. Postada entre Lavras e Missão Velha, duas cidades de cenas fortes, por lá transitaram cangaceiros, romeiros e coronéis mandões. Um personagem marcante, nascido naquele antigo distrito de Lavras, foi Isaías Arruda de Figueiredo. Aos 29 anos, Isaías foi assassinado na cidade que o viu nascer. Naquele momento ele era prefeito de Missão Velha e ia de trem de Fortaleza para a cidade que administrava. O destino, entretanto, havia colocado no seu caminho os irmãos Paulino, seus inimigos. A estação ferroviária de Aurora foi o palco em que se desenrolou a tragédia.

João Tavares Calixto Júnior, conterrâneo de Isaías, após quase cem anos do acontecido, debruça-se sobre os fatos que levaram ao assassinato do “coronel menino” e escreve 420 páginas sobre o assunto. O termo “coronel menino” colocado em Isaías vem do fato de que ao ser assassinado aos 29 anos, era o mais jovem coronel da região. Afinal, tudo aconteceu às 14 horas e 30 minutos daquele 4 de agosto de 1928, quando Isaías recebeu sete tiros de revólver, ao descer do trem. Resistindo aos disparos, a vítima veio a falecer ao amanhecer do dia oito de agosto.

A partir desse infausto acontecimento, Calixto Júnior mergulhou nos meandros da história, mostrando todos os acontecimentos que culminaram com esse desfecho. Depois de feita a pesquisa detalhada, publicou, em 2019, pela Expressão Gráfica e Editora, com o título: “Vida e morte de Isaías Arruda: sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião”. São fatos que envolvem principalmente os três personagens do título e mais Floro Bartolomeu, Padre Cícero, Major Zé Inácio do Barro, Massilon Leite, cangaceiro, e o Presidente Moreira da Rocha, do Ceará.

Segundo Calixto Júnior, Isaías Arruda, de origem humilde teve oito anos de meteórica carreira. Dos vinte aos 28 anos, foi delegado de Aurora, Prefeito de Missão Velha, coiteiro de Lampião, amigo particular do Presidente do Estado, o Desembargador Moreira da Rocha. Acontece que para construir esse itinerário, ia semeando, atrás de si, inimigos e cadáveres. Um deles, o próprio Lampião, de quem fora amigo no princípio, e ao final tentou envenená-lo. Depois, a família dos Paulinos, em que assassinou um e foi assassinado por dois deles. Sua amizade com Floro Bartolomeu o aproximava do Padre Cícero. Combatente contra a Coluna Prestes, dela tirou proveito.

Essa pesquisa profunda sobre o cangaço no Cariri cearense extrapola a biografia de Isaías Arruda e apresenta o mandonismo de outros coronéis do sul cearense. Calixto Júnior detalha como aconteceu o ataque frustrado de Lampião a Mossoró. Para tanto, mostra a influência que Isaías teve para a decisão do ataque, além da participação de Massilon Leite no evento. Depois fica patenteada a importância da ferrovia de Fortaleza ao Cariri, além do incêndio daponte sobre o rio Salgado, a mando de Isaías. Esse, chefe de muitos cangaceiros tornou-se influente e temido em todo o Cariri.

Na sua fazenda Ipueiras, em Aurora, Isaías acoitava perigosos cangaceiros e determinava quem deveria morrer, entre seus adversários. Figura enigmática, pai de família, deixou viúva e filhos menores por conta de sua arrogância política e o trato truculento com que tratava os adversários. Toda essa sua saga tão efêmera ficaria desconhecida, se não fosse a paciência de Calixto Júnior que por anos pesquisou em variadas fontes no Ceará, no Nordeste e em outras regiões brasileiras para tecer os fios que interligados constituem essa saga tão bem urdida. Só assim passamos a conhecer o verdadeiro Isaías Arruda de Figueiredo.

 

17/03/2020.

 



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