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As memórias de Aldro Luiz de Oliveira

Batista de Lima




José Aldro Luiz de Oliveira, economista e aposentado do Banco do Nordeste, em que chegou a ser Diretor, acaba de escrever um livro com o título "Alcides e Pedrinho Luiz: Vida de bem-querer, vida de bem comum". O título é desencorajador para quem não conheceu o casal retratado. Não há universalidade embutida na proposta desse título. Entretanto, se um leitor qualquer ousar iniciar a leitura, sente-se sequestrado pelos encantos da escritura, para se libertar apenas ao virar a última página de sua leitura. Como escreve bem, esse Aldro Luiz. São períodos curtos em que esboça os perfis da mãe e do pai, e de mais de uma centena de personagens verossímeis.

O clã dos Oliveira era formado de pequenos agricultores, do distrito de São José, no município de Lavras da Mangabeira. O distrito mudou de nome para Mangabeira. E a família, na sua maior parte, estava situada no sítio Baixio Verde a três quilômetros do povoado. Ali foi construído, "em lombo de jumento", o maior dos açudes da região, à época, e um engenho de rapadura. Aos poucos, no entanto, essa família, com seu tirocínio nato, procurou educar os filhos e migrar para cidades mais desenvolvidas, inclusive para Fortaleza. Desse grupo de visão faziam parte Alcides e Pedrinho, primos, que chegaram a se casar e constituir numerosa família.

Seus filhos, mais de uma dezena, depois dos estudos, galgaram empregos, através de concursos, em bancos oficiais e empresas públicas. Um deles, Nonato Luiz, tornou-se violonista conhecido internacionalmente. Entre seus sobrinhos pode-se citar Nilo Sérgio Viana Bezerra, que chegou a deputado estadual e secretário de estado. Outro sobrinho, Joaquim Washington Luiz de Oliveira, foi deputado federal pelo Maranhão, além de vice-governador daquele estado e hoje é conselheiro do Conselho de Contas do Maranhão. Isso apenas para citar os mais destacados, sem esquecer que tudo começou no sítio Baixio Verde.

Ao longo do percurso das memórias familiares vai surgindo uma personagem diferente, que é a vila Mangabeira. É com esse surgimento que a narrativa estabelece um viés memorial de interesse geral. É essa passagem do particular para o universal, que faz com que o livro passe a ser do interesse de qualquer leitor. Nessa mudança de foco, não só o povoado aparece como também novos personagens vão se perfilando. Entre eles destaque-se Doutor João Gonçalves de Souza, filho do lugar, que chegou a Superintendente da Sudene, ministro do governo Castelo Branco e subsecretário da OEA.

A história de Mangabeira não pode ser contada sem que Dr. João Gonçalves apareça como seu grande personagem. Dado o fato de estar quase sempre afastado, devido seus compromissos nacionais e internacionais, seu representante primeiro em Mangabeira, para tocar os investimentos que vieram beneficiar a comunidade, era Pedrinho Luiz. Por isso que Alcides, Pedrinho, João Gonçalves e Mangabeira se imbricam numa narrativa em que um não pode dispensar o outro. Foi na tessitura dessa relação histórica que Aldro Luiz enfatizou seu trabalho que demandou, inclusive, minuciosa pesquisa.

Foi através de João Gonçalves que chegou água encanada em Mangabeira. Através dele, foi instalada a luz elétrica de Paulo Afonso. Depois veio a instalação da Cooperativa Agrícola de Mangabeira, a Associação dos Produtores Rurais, a construção das pontes dos riachos do Meio e do Machado, permitindo a ligação rodoviária, nos invernos, com Lavras e Cedro respectivamente. Foi aí que Pedrinho se empenhou com sua liderança e contando com o respaldo local do também líder comunitário Zeca Duarte. João Gonçalves, Pedrinho e Zeca Duarte não ficaram apenas nisso, criaram o ginásio para evitar o êxodo dos estudantes locais, e também conseguiram a instalação da Paróquia. Esses empreendimentos contaram ainda com um elenco de participantes secundários de grande importância para o engrandecimento do distrito. O trabalho de Pedrinho criou uma cultura associativista naquele povo que perdura até hoje. Para esse trabalho social ele contou com o apoio familiar e o equilíbrio doméstico em que se destacou sua esposa guerreira Alcides. É por isso que o livro ganha força e Aldro Luiz estabelece uma ligação tão profunda entre sua família e Mangabeira, que as duas histórias se confundem e os habitantes parecem uma só família.

Ao final da leitura do livro, o leitor chega à conclusão de que não leu apenas uma saga familiar. Foi feita uma leitura de uma história de superação exemplar para qualquer outra família, para qualquer outra comunidade. O trabalho social retratado por Aldro Luiz envolveu todas as famílias de Mangabeira, que sob as bênçãos de São Sebastião, o padroeiro, tem crescido interna e externamente. Afinal, por onde se anda por esse Brasil, se encontra um mangabeirense atuante. É tanto que nas festas de janeiro, em torno do santo, eles se deslocam dos mais distantes locais e vêm para sua terra de origem. É como dizem por lá, quem bebeu água da Cacimba da Pedra, antiga abastecedora da vila, não se perde, traz sustança na cabeça, é o que aconteceu com esse José Aldro Luiz de Oliveira e todos os seus personagens reais retratados.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 27/01/15.


 

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