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As Irmãs Sergipanas

Batista de Lima




Há tempos tenho ouvido falar das Irmãs Sergipanas, que em eras passadas vieram habitar a região do Cariri e que deram origem às principais famílias do Sul Cearense. Eram informações da tradição oral e que interessavam muito ao meu pai, prospectador de ancestralidades. Agora, lendo "Sertões do Nordeste I: Inhamuns e Cariris Novos", de Heitor Feitosa Macedo, encontro melhores esclarecimentos sobre esses antepassados. Esse livro das Edições Província, de 2015, traz 328 páginas de pesquisa a respeito das famílias povoadoras dos Inhamuns e do Cariri. Portanto, tinha que aparecer esse grupo de irmãs que saíram do Sergipe e vieram dar origem ao povoamento de boa parte do Ceará.

Essas irmãs se chamavam: Apolônia Correia de Oliveira, esposa de José Pereira Aço; Desidéria de Andrade Ferreira, casada com o português João Gonçalves Diniz; Luzia de Oliveira Gusmão, casada com Mateus Ferreira Lima; e Bárbara Correia de Oliveira, casada com Leão de Franca.

Segundo Heitor Feitosa, o Padre F. Montenegro chega a afirmar que dois terços dos povoadores do Cariri têm origem nos descendentes dessas quatro irmãs sergipanas. Basta, de início, observar esses sobrenomes originais: Pereira, Andrade, Ferreira, Gonçalves, Diniz, Oliveira, Correia e Lima. A partir dessa constatação, pode-se situar cada um desses ramos familiares em cidades caririenses como Pereira em Santana do Cariri, Nova Olinda e adjacências; Andrade nos Inhamuns; Diniz e Correia em Várzea Alegre e Cedro; Oliveira e Gonçalves em toda a região.

Apolônia Correia de Oliveira e o tenente José Pereira Lima Aço tiveram uma filha chamada Francisca Pereira de Oliveira, que por sua vez casou-se com o Tenente-Coronel Antônio José Batista e Melo, de quem Padre Cícero Romão Batista veio a ser bisneto. Despertou-me a curiosidade saber a origem desse Antônio José Batista de Melo, o que não consta no livro de Heitor Feitosa Macedo.

É que esse sobrenome Batista é corriqueiro em Sergipe, Paraíba e Ceará. Até os primeiros nomes dessa família Batista, espalhada pelo Nordeste, trazem muitos Joaquim e Manoel, o que remete a Portugal. Também há certa frequência do raro Lourival. Em Sergipe, um pouco recente, houve um governador Lourival Batista, hoje nome do seu estádio de futebol, em Aracaju.

Seguindo essa trilha, chega-se à Paraíba, onde pontificam muitas famílias com esse sobrenome. Inclusive os três irmãos poetas populares que de lá migraram para Tabuleiro do Norte, no Ceará: Otacílio Batista, Dimas Batista e Lourival Batista. Novamente aparece o raro Lourival. Coincidência ou não, tenho um tio, irmão de meu pai, que se chama Lourival Batista, que aos 94 anos permanece em plena atividade, residindo aqui em Fortaleza.

Portanto, acredito poder me identificar como parente do Padre Cícero Romão Batista, que se for canonizado - o que está em andamento - será um santo oriundo não só da nossa mas de várias famílias caririenses.

Mesmo assim não são todos santos os descendentes das Irmãs Sergipanas. É tanto que o pesquisador Heitor Feitosa Macedo carrega tintas ao cascavilhar a vida de José Francisco Pereira Maia, o famoso Coronel Mainha (1803 - 1880), principal responsável pela execução de Pinto Madeira.

Segundo o autor, a única concessão feita ao condenado foi a pedido do mesmo, transformar a execução pela forca em fuzilamento. Coronel Mainha era homem poderoso, chegou a Prefeito do Crato e Deputado Estadual. Deixou vários descendentes, haja vista que amasiou-se com nove mulheres, dentre elas cinco tias do Padre Cícero Romão Batista, deixando uma prole de 74 filhos. Não é sem razão que a veia humorística dos caririenses o apelidou de Abraão Cratense.

Esse livro de Heitor Feitosa Macedo parece resultado de pesquisa feita em décadas de labuta. Impressiona, no entanto, que esse autor, com apenas 34 anos, já garimpou por vastíssima bibliografia e vasculhou fontes daqui do Brasil e de Portugal, para compor a cena de povoamento do interior sul do Ceará. Advogado militante, esse autor também interpreta intrincados meandros das leis vigentes nos tempos coloniais, no Império e na República, principalmente quando se trata de concessões de sesmarias, como ocorreu no início do povoamento de nossa região. Há, portanto, muita novidade apresentada para quem quer conhecer a nossa história.

Entre as personagens de nossa história, em torno das quais ele disserta, está o primeiro juiz do Ceará, no caso, José Mendes Machado, vulgo Tubarão. A partir daí são apresentadas as dificuldades que um magistrado, naqueles tempos, enfrentava no Estado. Os potentados sesmeiros desrespeitavam as autoridades constituídas que não se curvassem a esses privilegiados do reino. Além disso eram enormes as distâncias entre as comunas, além das dificuldades de locomoção por ínvios caminhos e veredas infestados de bandoleiros e índios rebeldes.

É também curioso o conjunto de dados, apresentados por Heitor Feitosa Macedo, das lutas entre as famílias Feitosa e Monte, entre os coronéis Manoel Ferreira Ferro e José Pereira Aço.

Mas o ponto alto fica por conta da sua análise genealógica do Padre Cícero Romão Batista, a quem ele nomina como o Santo Mameluco. Não apenas o Santo mas também o habilidoso político do Pacto dos Coronéis, o Taumaturgo de Juazeiro é tratado sem a paixão que tem caracterizado alguns estudiosos do Meu Padim.

É por isso que, ao término da leitura desse livro, o leitor tem também andado por estradas e veredas da região, mergulhando no tempo e pescando a história da nossa ancestralidade.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 14/06/2016.


 

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