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Aqueles professores de Português

Batista de Lima




De tempos para cá, os professores de Português estão dando lugar a professores de Linguística. Hoje aprende-se a Língua através da Linguística Textual. Entretanto a gente não esquece aqueles mestres que nos ensinavam a Gramática da Língua Portuguesa e que nos levavam aos meandros da Etimologia, da Sintaxe e da Semântica. Quase todos eram oriundos dos Seminários religiosos ou seculares. Todos tinham conhecimento do Latim, de onde evoluiu a nossa Língua.

Alguns desses professores continuam entre nós, vivendo sua aposentadoria e participando das Academias da Língua Portuguesa. É importante porém, lembrar aqueles que já nos deixaram e que não são lembrados como realmente merecem. Daí querer aqui recordar alguns que me marcaram com suas belas aulas, e até outros de quem não tive a honra de ser aluno mas passei a admirá-los pelos comentários de quem os teve como professores. Vamos então recordar de alguns.

Meu primeiro e impressionante professor de Português, por estranho que possa parecer, foi um alemão. No Seminário Apostólico da Sagrada Família, no Crato, havia o bom professor conterrâneo Hermínio Rebouças, mas o destaque era o Padre Francisco Xavier Nierhoff. Foi meu professor de Português em 1962 e 1963. Em 1964 tornou-se o primeiro bispo da nova Diocese de Floresta, em Pernambuco. Foi marcante professor de Português para todos que passaram pelas suas aulas.

Depois, a partir de 1968, como aluno do Liceu do Ceará, não tive destacados professores de Português. Os bons estavam dispersos nos anexos criados pelo Governo Estadual. Entretanto ali tomei conhecimento dos excelentes professores que foram Martinz de Aguiar e Otávio Farias. Não se sabe qual o melhor dos dois, mas o Martinz de Aguiar fazia um marketing pessoal do qual não se utilizava Otávio Farias. Os dois marcaram época no Liceu. São inesquecíveis.

O Curso de Letras me pôs em contato com famosos professores de Português. Tive a honra de ser aluno do famoso, nacionalmente, José Rebouças Macambira. Ninguém me ensinou Fonologia e Fonética melhor que ele. Ainda hoje guardo dois de seus livros devidamente autografados. Na sua área também estive aluno de José Ribeiro Damasceno de quem preservo os livros, em especial, "Comunicação através da análise estrutural", de 1974. Esses dois professores me abriram as portas também para a Linguística.

Caso especial, entretanto, na Universidade, foi ter sido aluno de José Alves Fernandes. Esse professor era unanimidade entre os alunos e continua como culminância do ensino da Língua pátria entre nós. Suas aulas eram tão atrativas, que presenciei na Uece, em algumas ocasiões, alunos deixarem suas salas de aula para virem à sala onde estava Professor José Alves. Educado, simples, atencioso e profundo conhecedor do vernáculo, deixou-nos muitos conhecimentos e um exemplo de didática para gerações de alunos.

Há também outros professores de quem não tive o prazer de ser aluno, mas passei a admirá-los através de seus discípulos. Edmilson Monteiro Lopes, de quem fui colega, um dos fundadores da Academia Cearense da Língua Portuguesa, além de profundo conhecedor do Português, era fonte de consulta para quem tivesse dúvida sobre a Língua de Camões. Valdinar Custódio deixou uma legião de seguidores de sua didática e de seus conhecimentos da Língua. Suas aulas, segundo relatam seus alunos, eram um espetáculo de ensino e aprendizagem.

Outros dois de quem não fui aluno, mas de quem fui muito amigo, foram primeiramente, Antônio Pessoa Pereira, e depois João Batista Brandão. Fui colega de ambos como professor do Curso de Letras da Universidade de Fortaleza.

Nesse mesmo patamar posso colocar Itamar Filgueiras. O diferencial era que Itamar era meu conterrâneo de Lavras, e como o velho Martinz de Aguiar, também trabalhava seu Marketing Pessoal. Genial professor de Português, gostava de dizer que aprendera tão profundamente nossa gramática com sua mãe, a saudosa Professora Julieta Filgueiras, que educou várias gerações de lavrenses.

Itamar deixou a Uece, aposentado, no dia em que ingressei como Professor de Literatura Brasileira. Encontramo-nos na sala dos professores e ele me chamou e transferiu para mim o seu escaninho depois de esvaziado para que eu me inspirasse nos fluidos dos seus saberes que ali ficavam. E realmente ainda me inspiram.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 29/11/2016.


 

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