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Antologia do Prêmio Unifor

Batista de Lima

Um dos eventos comemorativos dos 45 anos de fundação da Universidade de Fortaleza foi mais uma edição do Prêmio de Literatura Unifor 2017, cuja solenidade de entrega se deu em 27 de março deste 2018. O prêmio se dividiu em duas modalidades, poema para a antologia e livro inédito, também de poemas. Esse concurso vem ocorrendo há mais de dez anos e tem contemplado jovens autores de crônicas, contos e poemas. A cada edição do prêmio, promove-se um destes três gêneros literários. Dessa forma vários escritores inéditos já tiveram trabalhos publicados através dessa promoção.

Nessa mais recente edição, a coletânea premiou vinte autores, tendo o primeiro lugar ganhado passagem aérea para visitar Fortaleza, e em especial, a Unifor, tendo em vista que o premiado foi um paulista. Além da passagem, recebeu hospedagem, traslado e homenagem na Universidade, tendo, inclusive, se apresentado para os universitários, com uma enriquecedora palestra no Teatro Celina Queiroz. André Telucazu Kondo foi o escolhido. Esse poeta tem ganhado inúmeros prêmios literários, inclusive a edição de 2011 do Prêmio Unifor com um livro inédito.

O poema premiado em primeiro lugar traz um André Kondo versando "Sobre sementes e folhas". Para isso ele penetra "na surda casca do outono". Fala de perdas e esquecimentos e revela: "Se um dia o verde em mim habitou / É porque cumpri a semente, / É porque honrei as raízes". Esse poeta, além de transitar pelos clássicos, nas suas leituras, tem levado uma vida de grandes viagens por vários países de culturas exóticas e por centros religiosos os mais variados. É pós-graduado em administração, já gerenciou grande empresa, mas agora dedicou-se às grandes viagens, conhecendo diversas culturas.

Essa coletânea que apresenta o poema de André Kondo, que tirou o primeiro lugar, edita os dezenove autores melhores de um conjunto de mais de duzentos concorrentes do concurso. Assim você encontra o poeta Airton Souza de Oliveira falando de "Pai, mãe e pássaros ausentes dentro de nossos corações", poema em que uma "solidão residual" busca-lhe "no enfrentar de epifanias das manhãs". Logo em seguida, Alan Mendonça, poeta cearense, compositor e animador cultural, apresenta "Escamas" em um mar esquinado com a "rapidez de um desejo grávido". Suas memórias de peixe o transformaram em pescador de signos poéticos.

Anderson Vinicius Dell Piagge Piva, com seu poema "Comunhão no outono", fala de "garotas desdenhosas de paisagem", e vagueia por localidades italianas carregadas de poesia. A seguir, o psiquiatra e contista cearense Antônio Weimar Gomes dos Santos, no seu poema "Oceano", lembra que "Daquela paixão oceânica / Restou apenas um punhado de sal". Logo depois Carlos Alberto Brito Teixeira, com seu poema "Retratos", vagueia pelos meandros da memória a partir da visão dos retratos de parentes já partidos. Cinthia Greyne Araújo da Silva, com "Sob a luz do sinal ou nas ruas da esperança", e Dilson da Solidade Lima, com "Um violino vermelho para derrubar o sol", trazem algo em comum, através do canto à palavra, retirando dela conotações inovadoras.

Ainda nessa ousadia de retirar da palavra reentrâncias inovadoras, é surpreendente esse poema "Língua", de Natália Xavier Coelho. Ela produz um poema erolinguístico em que erotismo e linguagem se mesclam no corpo textual. Já Érica Ribeiro da Costa, em "Hiatos", dá-nos lições de como desossar versos e ilusões encardidas. Interessante é que no meio de tantos poemas inovadores na forma, aparecem dois belos sonetos que elevam a qualidade da Antologia. Trata-se de "Velório", de Geraldo Trombin e "Tributo a Dom Quixote", de Lucas Aparecido dos Santos. Quanto a "Senzala", de Ianne Gabrielle Pinto Maciel, é um tributo à escrava Anastácia, e um retorno, acredita-se, a Acarape e Redenção com os fantasmas que ali ficaram mesmo com o pioneirismo da abolição.

Há nessa Antologia do mais recente Prêmio de Literatura Unifor dois poetas curiosos. Um é Nuno Gonçalves Pereira que com seu "Cântico ao Sol esquecido", produziu o mais longo poema da coletânea sem perder, em nenhum momento, o potencial poético. É um poema de longo fôlego e cadência única.

O outro curioso participante é Valdemir de Castro Pacheco que em quase todas as edições do Prêmio Unifor ele tem um texto escolhido, seja poema, ou conto ou crônica. Desta feita aparece com "O reino encantado do lar, em quatro instantes". São imperdíveis também o pungente "Solidão" de Isolda Santos Herculano, e um libelo à condição humana, através de "Ulo", de José Eugênio Borges de Almeida.

Para encerrar essa viagem por essa seleta de poemas escolhidos, precisamos ler em voz alta, com Lucas Túlio dos Santos Pereira, seu poema "Cantadas". Depois com Samara e Silva Amaral Ribeiro, verificar seus amores e aversões aos sinais de pontuação em "Prosodiofilia". Por fim, avisar a Weslley Moreira de Almeida, que seu excelente poema "O menino com o sol no rosto e o arco-íris na mão" é o último a aparecer na Antologia por uma questão de ordem alfabética e não por classificação por mérito. Antes porém de ler qualquer um dos vinte poemas, que se leia a apresentação da Professora Aíla Sampaio, doutora em Literatura e componente da Comissão Julgadora.

Quanto ao pioneirismo da Unifor em manter esse prêmio há mais de uma década, que a promoção continue todos os anos, pois tem revelado autores de várias partes do Brasil, em especial do Ceará. Que a Vice-Reitoria de Extensão da Unifor mantenha essa promoção literária que neste ano de aniversário de seus 45 anos de existência bateu todos os recordes de participação de novos e renomados poetas participantes. Parabéns à Universidade de Fortaleza por esta data comemorativa e pelo elenco de promoções que desenvolverá ao logo deste ano. FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 10.04.2018.

 

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