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A Sociedade Amigas do Livro

Batista de Lima


São muitas as entidades culturais existentes nesta terra de Alencar. Muitas, no entanto, têm existência efêmera. Méritos então para aquelas que permanecem ativas ao longo dos cataclismos que o tempo impõe. É o caso da Academia Cearense de Letras, do Instituto do Ceará, do Grupo Clã, da Casa de Juvenal Galeno e, pode-se acrescentar a Sociedade Amigas do Livro. Fundada em 1961, teve no ano passado a comemoração do seu jubileu de ouro. Agora saiu a Revista da Sal, trazendo o histórico da entidade bem como uma galeria das fotos comemorativas do cinquentenário.

Além dos textos, abordando a história da Sociedade, a Revista traz também crônicas, resenhas, ensaios e poemas. A editora é Beatriz Alcântara, enquanto a atual presidente da Sociedade é Cybele Pontes. É bom saber que a fundadora da SAL foi Helena Rangel de Aguiar. Já por ocasião do jubileu de prata, em 1986, a presidente era Dirce Borges, que escreve o texto de abertura. Ao longo dessas cinco décadas muitas atividades foram desenvolvidas pelo grupo. Acredito que possa ser catalogada como principal delas a fundação de bibliotecas em comunidades carentes de leitura.

Nesses cinquenta anos foram inauguradas cinquenta bibliotecas. Esse trabalho em prol da leitura é mérito, a tal ponto, que imprime à entidade uma conotação de utilidade pública. Afinal a divulgação e o incentivo à leitura, além de ajudar no ensino formal das escolas, imprime um aspecto didático à comunidade em geral. São bibliotecas abertas ao público sem trazerem intenções políticas de suas organizadoras. É uma distribuição do pão do espírito entre aqueles carentes desse benefício sem paternalismos. Fundar bibliotecas pode ser uma forma de diminuir a construção de cadeias.

Ao final da Revista há uma galeria de fotos de inauguração de algumas dessas bibliotecas. O que se observa é a presença de grande parte dessas senhoras em cada um desses eventos, sejam eles na periferia de Fortaleza, na Região Metropolitana e até no interior do Ceará. A presença dessas senhoras às inaugurações simboliza a devoção com que é tratado esse trabalho educativo - cultural. Em Fortaleza elas estão no Morro Santa Terezinha, Bom Jardim, no Curió, no Trilho e no Conjunto Palmeiras. Da mesma forma estão em Pereiro, Camocim, Palmácia, Guaramiranga, Pacoti, São Gonçalo, Viçosa do Ceará e Itatira. Essa é apenas uma amostragem do trabalho do grupo de senhoras.

A folha final da Revista apresenta um painel fotográfico das 40 componentes da Sociedade Amigas do Livro. Entre elas encontram-se três escritoras da Academia Cearense de Letras, mais três da Academia Cearense da Língua Portuguesa, isso sem contar escritoras de renome, artistas plásticas, empresárias e professoras universitárias. É um grupo seleto de senhoras que possuem boa vontade e poder aquisitivo de médio para alto. Outra frente de atuação da SAL é a promoção de palestras de escritores e lançamentos de livros. Em cada reunião mensal há um convidado discorrendo sobre assuntos do interesse do grupo. Prova disso é que nesse número da Revista há a apresentação do livro "Fernando Pessoa: uma quase autobiografia", do escritor pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho, com belo texto da escritora Beatriz Alcântara. Além disso o autor também proferiu palestra sobre Pessoa. Todo o evento assistido pelas componentes do grupo e muitos convidados.

Entre os textos principais da publicação é preciso que se destaquem as narrativas de Lourdinha Leite Barbosa ("As borboletas azuis"), Maria Thereza Leite ("A casa da rua torta") e José Murilo Martins ("Passe bem, Doutor"). São contos, com uma temática social, e que impressionam pelo poder de síntese e pela linguagem trabalhada sem rebuscamentos metafóricos mas sem perderem a literariedade. Cada um desses três autores já possui livros publicados com narrativas outras e com pesquisas na área científica. Suas participações engrandecem a publicação, dada a qualidade do que escrevem.

Já entre os ensaios que constam no periódico, o destaque fica por conta da análise feita por Regina Fiúza em torno do romance "Outra volta do parafuso", de Henry James. A característica principal dessa narrativa fica por conta do fantástico, das ambiguidades e da atmosfera de terror que transpira do texto. Há também que se destacar o ensaio de Beatriz Alcântara com o título "Erasmo, um italiano na Madeira - Mamoré". Até hoje o que ocorreu na construção da legendária ferrovia, ferindo a Selva Amazônica onde hoje fica o Estado de Rondônia, ainda guarda mistérios e controvérsias. Esse estudo de Erasmo Gnone é mais uma revelação.

Por fim o leitor dessa publicação da SAL pode ainda se deleitar com produções poéticas de Neide Azevedo, Inez Figueirêdo, Emelvira Sá, Giselda Medeiros, Rita de Cássia Araújo, Révia Herculano, Artur Eduardo Benevides e Sânzio de Azevedo. São poemas que qualificam a Revista. Assim fica composta essa homenagem aos cinquenta anos da Sociedade Amigas do Livro, para o presente e para os pósteros. Mas o mais importante de tudo, para o leitor, é o conhecimento que se adquire do trabalho dessas abnegadas senhoras em prol da leitura numa comunidade que pouco valoriza os livros.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 22/05/12.


 

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