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A Sesmaria de Pedro Luiz


Batista de Lima




A Sesmaria de Pedro Luiz Cândido de Oliveira se estende de Évora, em Portugal, até o sítio São José, em Lavras da Mangabeira, estado do Ceará, no Brasil. Esse sítio São José, com a passagem do tempo, tornou-se a Vila Mangabeira. Foi ali em que nasceu Pedro Luiz, que seguindo a tradição familiar, apartou-se do cordão umbilical e migrou para a capital cearense. Era preciso, no entanto, ocupar o patrimônio perdido, fazendo o percurso contrário ao que fizera sua ancestralidade. Daí seu retorno, trilhando percursos que o tempo vem apagando e que as gentes de hoje pouco prezam.

A forma principal como Pedro Luiz realizou esse longo itinerário, no tempo e no espaço, foi através da escrita memorial. Ele quis conhecer as raízes da árvore genealógica da qual é um pequeno galho marcado pela ousadia e revestido de curiosidade. Aliás, a característica principal de um pesquisador é a curiosidade. Afinal, descobertas desse nosso mundo nós devemos a esses curiosos que teimam em não deixar perguntas sem respostas. Nosso viajante do tempo é um deles, pois antes de escrever a saga de seus ancestrais ele também visitou e viu com seus olhos curiosos várias cidades em Portugal e outras da Zona da Mata em Pernambuco.

Foi, viu e venceu a distância de mais de trezentos anos para prospectar a saga da família Vieira, que deu origem a toda uma população da região do Salgado, do Ceará. Fixou-se em quatro personagens, quatro patriarcas irrequietos que plantaram a semente humana em terra fértil. O primeiro deles, ponto de partida, de sua andança escritural, foi o português Pedro Francisco, que, atravessando o mar oceano, veio dar com os costados na região do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Ali casou-se com uma moça de origem portuguesa, moradora em Serinhaém de nome Ana Maria da Conceição.

Pedro Francisco e Ana Maria são os pais do segundo personagem que continua esse percurso da jornada genealógica até os nossos dias. Trata-se, esse número dois, do capitão Manuel Vieira da Silva, nascido em 1718 em torno do Engenho Trapiche de Serinhaém, em Pernambuco. Esse Manuel Vieira migrou com sua esposa, Angélica Maria da Conceição, para o sítio Aba da Serra no sertão cearense. Esse casamento de Manuel Vieira e Angélica se deu após os dois fugirem dos familiares, de onde se depreende que não era casamento de gosto por algum dos lados.

A explicação da vinda desse casal de Pernambuco, para morar no desconhecido sertão cearense, e trocar o cultivo da cana-de-açúcar pela pecuária, está no fato de que o vigário da Telha, hoje Iguatu, era familiar próximo de Angélica, talvez seu próprio pai. É que possivelmente tenha sido uma forma de reconciliação entre filha e pai, após a fuga para o casamento não consentido. Daí então que Manuel Vieira, nosso segundo personagem, é que, de acordo com o pesquisador Pedro Luiz, dá origem a todas as famílias que vão povoar o centro-sul cearense, espalhando-se por Icó, Lavras da Mangabeira, Várzea Alegre, Cedro, Iguatu e Jucás.

Pedro Luiz, garimpando essas origens, encontrou o livro "O Passado no Presente", publicado em 1933, por Pedro Gonçalves de Morais, conhecido por Pedro Tenente. Ali está escrito que o capitão Manuel Vieira e sua esposa Angélica compraram as terras da Aba da Serra aos descendentes dos seus primeiros donos: Bernardo Duarte Pinheiro, Agostinho Duarte Pinheiro e Vasco da Cunha Pereira. Ali, ao longo do Riacho do Machado, formavam uma numerosa família, tendo um dos filhos, Antônio Félix Vieira, ficado com o sítio São José, de onde se originou a atual vila Mangabeira e as principais famílias do lugar. Antônio Félix é o número três da pesquisa de Pedro Luiz.

O quarto personagem a ocupar essa Sesmaria de Pedro Luiz é Gonçallo Nunes Pereira, nascido em 1771, no lugar Quixoá, que hoje fica em Iguatu, filho de um português com uma cearense de São Matheus, atualmente município de Jucás. Gonçallo era militar e vasculhando toda a região do Icó foi se encontrar e casar-se com Joana Joaquina de Almeida, moça da ribeira do Riacho do Machado. Esse casamento deu-se em 1797, indo o casal residir no Tabuleiro Comprido, herança da noiva. Desse primeiro casamento de Gonçallo nasceram treze filhos que deram origem às famílias dos arredores de Mangabeira. Gonçallo como alferes participou ativamente da Confederação do Equador em 1824.

A essas alturas da pesquisa, Pedro Luiz suspende sua narrativa com um simples Epílogo, que é muito mais uma porteira aberta de sua Sesmaria para que o leitor continue sua escritura. Poderia ter colocado o oito deitado, símbolo que Guimarães Rosa pôs ao final do seu "Grande Sertão: Veredas", como intimando o leitor a continuar sua escritura. Assim o fiz, na imaginação, partindo do número três, Antônio Félix Vieira, passando por sua filha Ana Maria da Conceição, fundadora do Sítio Taquari, mãe de Joaquim Gonçalves da Costa, Velho Quinquim, que foi o pai de Ana Gomes, que por sua vez vem ser a mãe de minha avó Delfina Maria da Conceição. São pois nove gerações até chegar a mim.

Assim, pode-se dizer que Pedro Luiz Cândido de Oliveira se consagra como historiador de fôlego raro, nos seus mergulhos pela pesquisa e historiador incansável, que na certa vai continuar nos dois extremos de seu trabalho a ampliar a história desse povo que se confunde com a saga de muitas famílias do Sertão cearense.


FONTE: Jornal Diário do Nordeste - 15/08/2017.


 

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